4.9.05


Eu ouço muito Elis
( ou "não há nada a temer, exceto as palavras")


Foi sincero. Foi brutalmente sincero, eu diria. Tu ignoras metade das coisas, eu falei muito fina, quase solene, com aquele refinamento que a maturidade traz. (O deboche é herança genética. Quase nunca consigo evitar). E nada como ter auto-estima, não é mesmo? E um certo compromisso com a evolução da humanidade. O comprometimento que não nos permite pendurar explicações acerca de desconfiança e ciúmes, por exemplo.

Ora, por que desconfiança e ciúmes são pura insegurança. E insegurança é um probleminha, sabe? Um probleminha que merece ser resolvido imediatamente. Pra gente não perder tempo, pra gente não perder vida. Pra sair logo desta lama e ter o dia inteiro pra ser feliz. É. Ser feliz sim, e daí?

Sabe, dia destes eu pensava que preciso urgentemente viver no mínimo até os 90 e poucos anos. Que historicamente não somos nada. Que a vida de ninguém representa um cisco na linha ac. dc. Somos mesmo tão ínfimos. Temos pressa. Logo, relacionamentos baseados na insegurança, nem pensar. Não dá tempo.


XXXX

Eu poluía o ambiente com sonhos. Eu sou uma mulher que nasce da ferida, afinal. Por que não criaria fantasias, alguém me responde? Alguém pode? Uma única pessoa, por acaso, sabe? Limpei-me da dor do amor. Quem me olhava tensa, amargamente só, comigo, quem me olhava, escancarava na pupila que coitada, parecia, tinha um jeito, de um animalzinho preso na armadilha. Arapuca. Uma cadelinha, um passarinho, afundando-se cada vez mais. Sufocada. Nadando em sangue. Cega da beleza.

Eu engoli tanto. Tanta saliva, eu engoli. Suor, ofensas, amor inquieto, eu engoli. Engoli, veja só, que sou pura instabilidade. Que paira sobre mim um lirismo, uma coisa assim...exageradamente lúdica. Sim, eu tenho muitos desejos. Multiplico identidades. Sou cheia de mim! Tenho vácuo de mim!


XXXX

Por vezes, a beleza das coisas me parece assustadora. Eu acordo com uma sensação de desperdício. Uma sensação do imã, um imã às avessas, que repele minha carne, minha carne que não se esfrega contra tua carne. Eu quero a paz interior! Mas, por favor, meu bem, não me leve tão a sério. Eu não preciso satisfazer tudo. Tu não sabes. Eu te disse. Tu não sabes. Semântica? Dane-se! A vida é celebração.

Estão todos tão alterados, que até meu humor parece constante. Eu ainda não chorei por ti. É bem no estômago que te sinto. E tenho febre quando, na escuridão, pesquiso com a memória o teu corpo. Depois desperto vazia, deitada na noite, com a voz da Elis ecooando pelo apartamento.

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