irrevelável

Ficaram os lençóis, que nem chegamos a usar.

As lágrimas, destilei em aquarela
Pintei aquele quadro ali.
É...
Depois talhei em estiletes, pra ficar mais a nossa cara.
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Os cd´s? Pode levar, claro.
Arranhei alguns. Não todos.
Só os que te traziam à tona.
À flor.
À superfície da pele.
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Mas tudo bem.
Já passou.
Não trazem mais.
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Ãnh? Que tipo de pergunta é esta, agora?
É claro que não sinto tua falta.
Não. Nem do sexo.
Aliás, teu sexo, descobri, é retrô demais.
...
Tua mãe ligou.
O que eu disse?
Disse que não morava mais aqui.
Entrei em detalhes não, que nunca tive paciência pra superproteção disparatada dela.
Ora, querido, nunca disse antes por que antes era diferente.
Antes eu tinha que aturar.
O delírio da mãe, a irmã enfadonha, as piadas maçantes do pai.
Agora, liberdade pra mim, benzinho - disse gargalhando, deixando o corpo cair pesado sob a cama.
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Mas deixa eu te contar a novidade!
Terminei o livro.
É, obrigada!
Ficou "Cama desnuda".
Tinha pensado em "Amores mórbidos". Mas achei fracassado demais, embora tenha que reconhecer que me soa mais verdadeiro.
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Adianta insistir não.
Você não ia gostar de ler.
Você não ia nem entender.
Nada. Você não entende nada.
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Boné?
Ah! Aquele azul?
Dei pro eletricista.
Já dá pra ligar o vídeo no quarto.
Bacana, não?
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Não muitos. Ando revendo alguns.
É, franceses, como sempre.
Sei. Não mudei muito, né?
Essa tua cara pra mim...
Tristíssimos e bem dirigidos, como eu gosto.
Tem coisas na vida que a gente leva, Carlos.
Que nos acompanham.
Mas paremos por aqui, pra respeitar teu limite de compreensão sobre a lealdade...
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Mas e você?
Anda comendo mau?
Te achei mais magro, sei-lá.
Bom, deixa prá lá.
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Chegaram umas contas prá ti.
Tão ali na mesinha azul.
É, agora é azul.
Pintei também.
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Iiii.
Vem com este papo não.
Eu te conheço neném.
Tua fraqueza vulgar.
O egoísmo que te consome.
A piedade que tens de ti mesmo.
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Esquece, Carlos.
Vem com beijinho não.
Me esquece.
Por favor, me esquece.
Me deixa.
Me larga, Carlos.
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É sempre o mesmo novamente.
A mesma traição.
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De nós, só os lençóis.