15.8.10

sp.sa

do alto no nono andar,
a cidade está quieta.
meus olhos puídos
amparados sobre ela
comparam a cor dos
telhados.

há sobras da chuva
de ontem e o comércio
está fechado. a fumaça
muito espessa, ainda que
vista de longe, revela um homem
que fuma na janela.

mais ao leste, um senhor
de si atravessa a rua após
mirar os dois lados. e uma
mulher de casaco branco
passa por ele de um jeito
que eu considero alegre.

ela caminha na direção
oposta e parece ter pressa.
ou então são meus olhos cansados
e recôncavos que - do alto
do nono andar - me fazem
ficar tão perplexa.

se viro o pescoço pro oeste,
se revelam novos traços.
vejo o arvoredo de uma rua
bem próxima. antenas, fios,
passarinhos emaranhados.
e um casarão antigo.

a porta se abre e dela sai
um moço de passo acelerado.
vai tinindo o rapaz, driblando
o meio-fio da calçada e virando
a esquina do prédio enorme,
sob cuja marquise repousa um cão.

perto dali, ressurge a mulher
de branco
falando ao celular e
gesticulando divertida. sigo sua
rota vadia até que ela some
de vez entre os infindos vales
de prédios que arranham os céus desta
imensa são paulo cravada na minha retina.

3 comentarios:

kalango Bakunin dijo...

do alto de um 13o andar
uma pessoa
se despe
arruma suas roupas no pertoril
faz o sinal da cruz
voa suavemente
sob a lua cheia
e se esborracha na marquise

Anna K. Lacerda dijo...

a cidade nunca dorme nos olhos de quem a observa.

(sampa agradece a visita da gaúcha-candanga)

Léo Tavares dijo...

Estudo Anatômico

Eu já sei me movimentar
Como se nem tivesse
Músculo, osso, epiderme.
Tendo aprendido o imenso,
Desafio espaço e tempo
E me expando:

Um braço alcança a África,
Um outro, desgovernado,
Bagunça o norte da América
Um pé pisa fundo dentro do Atlântico
Os olhos se distraem na Lua
E o coração se atira pesado
sobre a cidade de São Paulo.