18.7.06

hóspede poético

jazz café

a mesa é presa
fácil
pesa
preta
em volta
amigas do peito:
claudinha
nanda
marilight
vanezza
e eu

letícia rocha
bar jazz café, julho de 2006

a percussão e o baixo

a percussão e o baixo
debaixo dos caracóis
dos seus anseios
seios e sóis
debaixo do baixo
pressão
percussão

letícia rocha
bar jazz café, julho de 2006

poema pra claudinha

claudinha
inha
ão
amores no porão
quer não
põe freio
hoje não

letícia rocha
bar jazz café, julho de 2006

hoje, em cerimônia solene
- insônia com cheiro de sexo -
devoro tua alma perene
atrás de qualquer anexo
aviso protocolar

muito cuidado, meu bem.
eu, com esta cara de zen,
não passo de uma cigana dissimulada.
se eu sentir frio neste inverno,
te arranco de dentro do terno
e te amo desvairada.
depois, se eu estiver disposta,
me embaralho nas tuas costas
e te talho em espadadas.

vou embora mês que vem.
hoje, acampo na esplanada.
se quiser carinho, tem.
mas muito cuidado, meu bem.
eu, com esta cara zen,
não sou além de uma louca.
quando vês, te arranco a roupa,
acabo com tua rotina diária.
não refuto nem visto luto
e te jogo nu do viaduto da rodoviária.

8.7.06

um amor pra ser seu
quando a vida estiver dura,
traz um punhado de uvas.
finca teu olho no meu.
agarra bem minha cintura.
que contigo brinco de fada
realizo, quebro jura.
depois rebolo assanhada,
até te fazer tontura
ou virar vinho na tua loucura.

6.7.06

hóspede poético

caco de vidro

caco de vidro
caro
quebrado na ponta
tonta
ponta torta
horta
com cacos na porta
verduras, hortaliças
salsas mortas
água em volta
alagados
alagoas
afogados
águas boas
roda-pés
pés nas rodas
aram a terra
tiram o caco da terra
a terra é um caco
a Terra é de vidro
as terra-Terra são
cacos de vidro
ninguém pula a horta
nem tonto fica
ou vira caco
ou vidro vira
letícia rocha
dezembro/1989
dúvida hiperbólica III

só é possível examinar o distraído?

5.7.06

Dilacerado

Tudo é ausência no meu apartamento. Estou longe de quem quer que seja. Ninguém me enternece. Coisa alguma me comove. A cabeça cheia, o copo vazio, as paredes descascadas, as mãos frívolas. E eu aqui, empilhado nos vizinhos, sozinho neste bloco velho, num lugar que não é meu.

Meu peito está comprimido. Há muito tempo nenhuma mão me toca, não sinto tesão, sequer um arrepio. Estou com dor nas costas, nos pés, nos ossos. Na alma.

Eu transaria homens e mulheres hoje. Qualquer coisa por uma fagulha de ternura, pra me desfazer da secura, da dura frieza da solidão. Porque a solidão corta. Enche a gente de talhos e calafrios. Nos deixa contidos, nos priva do calor do outro. Do amor do outro. E das descobertas que isso pode trazer se a gente souber aproveitar. Se pudermos nos abrir o suficiente para receber.

Mas estou trancafiado e nenhuma gente é agradável. Nenhum lugar é confortável. Não me sinto bem em mim. Eu sou o descontexto e não lembro em que esquina perdi meu sorriso. Onde foi que desviei? Como faço para voltar? A todo passo, morro. Viro areia, pó, cinza, farelo...Uma lembrança dolorida do que fui. Digo pra mim mesmo que não sou assim, desgastado, estanque.

Mas é assim, cansado e impotente, que me sinto agora. Hoje eu toparia qualquer vício por um pouco de viço, por uma brecha de luz. Por um pouco de ar, de tranqüilidade.

Onde encontro um pouco de leveza? Quando voltarei a respirar profundamente? Onde busco propósito? Quem me aponta um motivo? Quem me ensina a reaver? Onde posso mergulhar, me deixar correr? Como me arranco deste beco? Eu não lembro o que é prazer.

Eu queria ter um pouco de coragem. Levantar deste canto gelado e escuro e sair porta afora. Entrar no primeiro bar, pedir licença pro desconhecido e sentar na mesma mesa. Acender o cigarro dela ou dele. Conversar amenidades e me sentir acompanhado. Sorrir e fingir que tenho alguém.

Um lugar com pouca luz e sem espelhos. Sem nenhum reflexo de mim e desta minha cara arrebentada de desespero. Não quero que minha escuridão corrompa o meio. Só um lugar onde eu possa fingir sanidade. Cumprimente as pessoas. E responda sim, tudo bem, para quem perguntar cordialmente como tenho passado.

E eu só tenho passado. Minha vida é pretérito. Eu, preterido. Coitado, fadado ao sonho, dizem por aí, eu sei. Falam muito. Mas ninguém sabe onde estou. Aqui não há brilho ou cor. Só esta agonia cravada nos meu olhos, como duas agulhas.

Dói meu estômago e não tenho fome. Sei que não vou morrer, embora mereça. É tudo um ensaio para o meu triunfo. Um dia eu ainda saio do buraco sujo do dia-a-dia com horário de funcionamento. Das cortesias sem apreço. Dos abraços sem calor. Dos talões e cartões. Do crédito. Do débito. Das contas. E tantas outras correntes

Estou me fodendo pra dinheiro. Não posso comprar nada que preciso, nem posso competir com ninguém. Meu inimigo mora em mim. Sou eu quem me saboto e vou criando necessidades pra suprir o meu vazio de existir. Cuidado, eu recomendo. Por que quando a gente vê, já era. Foi assim comigo.

Quando dei conta de mim estava tão colocado na engrenagem que parecia que tudo ia ruir se eu saísse. Então eu fiquei no mesmo lugar, quietinho.

E caí.

Caí
até
onde
não

mais
chão
para
cair.

Estou tão imerso e com tanto medo que não consigo me mexer. Me sinto rasgar em pedaços. Estou imóvel e sei que choro porque vejo as lágrimas molharem o piso. Meu corpo está sulcado de solidão e descobri que não importa o que eu simule querer, eu só quero amor. Poder, satatus, socialismo, religião. Tudo é superficialidade. Eu sou um fingidor, não me reconheço mais, todos foram embora.

É só pelo amor que ainda estou aqui. Um dia ele vem pra mim. Não como uma luva, mas como um casaco difícil de fazer caber. Um amor assim, com todas as letras. Sem nexo nenhum. Um amor honesto e só. Verdadeiro e só. É por este amor que eu ainda tolero os golpes e coagulo minhas feridas.

Eu sei que ele vem pra mim.

Por hoje, me bastam outros. Líquido de fêmea ou macho, tanto faz. Olhos, estímulos, pêlos. Lubricidade, calor e outras conveniências.
fragmentada

então não sabes que corro por aí
de salto alto sem calcinha?
que à noite, sozinha no meu quarto,
eu penso coisas de feitiçaria
e constelo de loucuras o universo nu?

3.7.06

psicoproseando

agora é fato. todo domingo tem coluna da maraci sant'ana no tribuna do brasil. ela vai aumentar a tiragem jornal. não só pelo texto como pela foto, que, cá entre nós, tá um arraso!
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dúvidas hiperbólicas, ser ou não ser, angústias existenciais ou sugestões de temas a serem abordados pela coluna podem ser compartilhadas com maraci pelo mail que tá lá no pé do artigo.
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a propósito, cada um tem a psicóloga que merece?




O que significa estrear?

Ah! Finalmente a nossa estréia na Tribuna do Brasil! Às vezes, pareceu que demorava, que nunca chegaria. Mas, de qualquer forma, tudo sempre vem no tempo certo. E aqui estamos nós, eu e vocês, juntos, neste encontro. E como é bom estrear! Como é bom dar início a um projeto que tem tudo pra dar certo! É um momento mágico! Porque são mágicos todos os momentos, todos os encontros.

Mas, o que significa mesmo estrear? Estréia pode ser definida como fato que marca o início de uma série de acontecimentos de certa importância. Também pode significar o primeiro uso que se faz de uma coisa. E é disso que quero falar. Este é o nosso primeiro contato, o primeiro de uma série. E esta é a primeira vez em que faço uso do espaço confiado pela Tribuna a nós, eu e vocês.

A idéia é transformarmos esta página num canal para o diálogo, a troca de idéias, a discussão de assuntos que, inicialmente, podem até parecer muito específicos ou particulares mas que, certamente, serão reconhecidos como do interesse de muitos. Este espaço é para que você receba um conselho, uma opinião, uma orientação sobre algo que o intriga, preocupa ou atormenta.

Aqui você poderá trazer à discussão aquilo que já foi exaustivamente conversado com alguém. E também aquele assunto que nunca foi tratado com ninguém. Para isso, tem-se a liberdade de se identificar ou usar um apelido, um pseudônimo. Poderá abrir o coração, tirar dúvidas, exorcisar fantasmas, sem o risco de ser julgado ou criticado.

Este trabalho, além de marcar a nossa estréia, é um desafio profissional para mim, embora não seja muito diferente do que faço no consultório, do que já tive oportunidade de fazer em rádio ou televisão. É uma forma nova de eu colocar em prática conhecimentos específicos acumulados desde o início da década de 80, quando ingressei na Faculdade de Psicologia, e conhecimentos gerais resultantes de quase 48 anos nesta vivência. E essa prática, esse exercício, é fundamental por ser uma chance de eu também aprender. Como disse um dia Cora Coralina, "Feliz aquele que transfere o que sabe, e aprende o que ensina".

De nada adianta o conhecimento guardado. Quanto mais ele é dividido, mais se multiplica. Quanto mais transmitimos o que sabemos, mais trocamos idéias, mais aprendemos. E, no final das contas, não é para isso que estamos todos juntos, para aprendermos uns com os outros, para multiplicarmos dividindo o que temos, para crescermos juntos, para evoluirmos em todos os sentidos, caminhando na única direção que realmente existe?

Estou feliz por recebê-los e por ser também por vocês recebida, por saber que, a partir de agora, estarei participando da vida de cada um, ajudando a escrever as histórias daqueles que lerem esta página. Assim como por saber que a minha própria história será engrandecida pela presença de vocês, pelas suas mensagens, perguntas, energias.

E estou ainda muito mais feliz por saber que, juntos, estaremos participando das histórias de todos aqueles que de nós se aproximarem. Estaremos enriquecendo os ambientes que freqüentarmos, a nossa cidade, o nosso país, o nosso planeta, o universo infinito. Porque, cada vez que uma história se modifica para melhor, surgem círculos de benefícios que se expandem como as ondas provocadas por uma pedra atirada a um lago.

Conto com vocês, homens e mulheres, adultos e jovens, nesse projeto. Aguardo suas contribuições. Mandem suas mensagens ou liguem pra mim. Um grande beijo a todos. Até o próximo domingo!

maracisantana@yahoo.com.br

aproveita. deita e rola. ferve, bola, aceita.
leva adiante. anuncia tu mesmo que já era.
estende os braços! recebe. desfruta. deleita!
deixe que doa. perdôa. não vês que é colheita?



1.7.06

bicho

eu não pertenço a minha vida. nunca aprendi a ser direito. não penso, amo ou ajo ao meu preceito. há uma criatura encarnada que pensa, ama e age por mim. meu antônimo, suspeito. eu não sou dona do mundo em mim. eu quero tudo. e nada é tão tudo assim. deixo um tanto de mim com ela, com ele, contigo. não posso levar teu vazio comigo.

eu não pertenço a minha vida e não vejo saída. estou quase convencida de que não sou dona do mundo em mim própria. querer tudo é cilada. os dias passam e não tenho nada. é dispersa a minha dança. não me tange este ou outro momento. não tenho esperança. sou alheia ao sofrimento, sorrio. tenho mania de absurdo. e vivo no cio.
fer ou não fer, eis a questão...



Yo no creo pero...
Rita Lee - Luís Sérgio Carlini - Lee Marcucci

Segura a barra
A bruxa está solta
Não dê moleza
Ela pode estar na mesa

O dia inteiro
Até mesmo no banheiro
Ou de pijama
Dormindo na sua cama
Yo no creo en brujas

Pero que las ay, las ay
Yo no creo en brujas
Pero que las ay, las ay...