11.5.06



cheio de fome, o menino vai. um ritmo arrastado e lento. vai sem ter mesmo aonde ir... quem sabe a sorte sopra ao vento? um trocado aqui, outro ali. vai menino, que teus pés abrem o caminho. enfrenta teu inimigo! seco de esperança, te vai menino! te arranca deste lugar bonito! não vês que não combina contigo? que ambição te atormentas? que mais queres ter? quem sabe um pouco de carinho no teu corpo franzino? não, não vou te bater... só quero amenizar tua dormência. te limpar os ematomas sujos de desesperança, da violência... sob a aura protetora, sob a guia condutora, sob olhos marejados da culpa de quem não te vê, vai menino... vai sem futuro. mão alguma jamais te passará calor. um cachorro, um bêbado, um soco no escuro. ninguém sente a tua dor? ninguém canta ao seu ouvido? deixa de sonhos! esquece menino! música? é teu estomâgo contraído... lasca uma banda de pão velho e ludibria o vazio ignorado pelo teu irmão cego, teu irmão empalhado. então, há idade para dignidade? será mesmo que deus existe? há fé lúcida que baste? ninguém ama o menino triste. e o menino vira um traste. tua normalidade vocifera anônima. restos de planos. ratos, meninos e restos. restos humanos. de metal em punho o menino vai. teu adverso é contrário. mora em mim e em ti. sou tua homônima. que pode tua faca contra o frio que te corta? é custoso teu itinerário. e ninguém te vê, menino. ninguém te sabe. se ninguém vê, o menino invade. se multiplica pela cidade. a dona aponta o dedo em riste: pega ladrão! pega ladrão! e o todo o palco vai ao chão: taí, menino! taí a explicação! todos te servem à vontade. o banquete é de miséria. comensais da contradição.

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