chá de amor
minha mãe faz chá com mais de trinta ervas para oferecer às visitas. durante o preparo, evoca a fé no ser humano, reza para que o amor supere os medos e dilua as mágoas. ela joga os punhadinhos na água. a panela ferve ao ponto da fusão.
depois, minha mãe utiliza a concha para derramar o chá nas canecas. todos querem experimentar. a bebida é servida morna e sorvida entre conversas, abraços, lembranças, fotografias, cafunés...
as cadeiras na varanda. as crianças correndo. a tarde caindo. os adolescentes tentando explicar a nova geração. coisas de primeiro beijo, orkut e bandas dissidentes do rock. o tricolor na televisão. o menino cheio de espinhas parece mudo. a bisavó amavelmente desinteressada naquilo tudo.
toda gente reunida sem nenhuma pretensão. uma gente disposta a trocar papo furado. um ritual tão singelo que esfria as dúvidas, aquece os sonhos de infância e anima o corpo cansado de tanta realidade.
enquanto tudo funciona perfeitamente, minha mãe conta, ouve, esquenta, abre, fecha, brinca, serve, ri, lava, chora, esquece. minha mãe é uma bruxa eqüilibrista, sempre pronta para amparar os vacilões. o mais engraçado é ela pensar que sou especial. eu acho isso tão bonito que me comove.
no fundo, ela sabe que é por causa daquele restinho de chá, que sempre sobra na panela dela, que nada, nada neste mundo me demove. e eu continuo acreditando no amor.
4 comentarios:
que lindo Nanda...
tem canela nesse chá!
Visito você também neste chá maternal...
Vc já aprendeu a receita?
Já soube que aí está muito frio, exceto os olhares dos gaúchos.
Menina...
tá bonito demais!
como você...
oh! quanta palavra bonita!
Publicar un comentario