8.6.07

alheia

acordei muito cedo hoje, com vontade de ainda dormir. tinha no corpo vestígios de sonhos que nada combinavam com obrigações diárias. tudo me pareceu amorfo e tive a sensação arrepiante de que não há solução ou respostas para o furor da vida. fiz um café, estendi a roupa, percorri as notícias do dia, trabalhei.

mas tudo era inquietude ao amanhecer. quis que minha alma não soubesse a tristeza. quis não saber ler, nem escrever ou ter que conversar. cada incidente me fez tremer e todo esforço era estéril. desejei me blindar contra fatos, estatísticas e lucubrações teóricas acerca da sociedade contemporânea. temi a loucura.

os ruídos vindos da rua amplificaram-se num repente e me senti pervertida pelo excesso de realidade. abri a janela e o vento esparramou os papéis pela sala, percorreu o apartamento e trouxe uma brisa quente. meu sonho foi ficando remoto e eu fincava os pés neste dia.

fui até a padaria e voltei, numa tentativa de me inserir ao cotidiano. não adiantou. um bocado de mim ainda está na cama, sonhando. hoje estou longe. nada de mim interfere em nada. e um choro sem lágrimas aperta minha garganta.

1 comentario:

Anónimo dijo...

às vezes a gente acorda e não entende muito bem o que acontece. Deve ser porque fazemos um esforço tremendo, todos os dias, da hora que acordamos até a hora de dormir, para organizar o mundo em nossa mente, fingindo não haver o caos. Lembro do poema que escrevi "Eu duvidei do caos por amar e querer que tudo na vida
não passasse de uma construção bem sucedida." Acho que é isso. Precisamos destes "constructos" para que possamos viver simplesmente. Aí me pergunto: a vida, como a entendemos, não é uma construção mental e social, ao mesmo tempo?