24.2.11

ele, nós e nosotros


quando completou 30 anos, em outubro passado, o repórter vinícius carvalho já sabia que a mochila seria a sua grande companheira dos meses seguintes. em viagem pela américa latina, o mineiro de belo horizonte se lançou rumo ao desconhecido sem muitas expectativas e um grande objetivo: observar a si mesmo.

"desde que penso serieamente sobre a vida, nunca havia experimentado o cotidiano fora da 'máquina de moer carne'. quero vivenciar este momento e descobrir o que vai aflorar de bom e de ruim em mim", explica o jornalista, que acaba de lançar o blog "nós e nosotros", onde abordará acontecimentos cotidianos e curiosidades do seu período sabático.

a passagem pelo senegal, em dezembro de 2010, é seu tema inaugural
na blogosfera. acompanhando a delegação brasileira durante o festival mundial de artes e culturas negras, vinícius teve, ainda, a oportunidade de conhecer e hospedar-se em comunidades rurais, sem energia elétrica e onde todos os moradores falavam na língua wòlof.

"estar na áfrica foi muito intenso, convivi com coisas com as quais simplesmente desconhecia a todas", sintetiza o belo horizontino, que está adorando voar as tranças pelo mundo. após o recorrido pelo senegal e uma parada estratégica na bahia, vinícius elegeu a guatemala para inaugurar seu mochilão latino.

"desde mais ou menos meus 18 anos penso, leio e reflito sobre o nosso continente. temos muitos mais coisas que nos aproximam do que nos separam nos países da américa latina. temos histórias similares. no entanto, o que vemos, na realidade, é que estamos muitos mais separados do que próximos", avalia.

a familiaridade com o idioma e a condição econômica conquistada pelo brasil em relação aos países vizinhos também estão na lista de vantagens do roteiro escolhido por vinícius. "a grana que eu tenho não paga a metade do carro zero mais barato no brasil. na verdade, não é preciso muito dinheiro para fazer uma viagem destas", argumenta.

na avaliação de vinícius, o fundamental mesmo é exercitar o desapego à vida cotidiana e praticar a auto-confiança. "o momento em que eu realmente decidi fazer esta viagem foi quando eu acreditei em mim e apostei em uma certa intuição de que alguém gostará do meu trabalho quando eu voltar".

voltar, no entanto, é um verbo que vinícius só ousa dizer no futuro do conjuntivo. com muita estrada pela frente, "algo entre 5 a 9 meses", ele acredita vivamente que desligar-se da labuta diária e viajar por um bom tempo é algo que deveria estar na carta dos direitos humanos.

"a gente é que se acostumou, por uma via muito torta, a acreditar que um mês de férias por ano é o suficiente para realizar tudo o que não nos satisfaz no mundo do trabalho", defende o jovem balzaquiano
, que se diz "em aberto" e que se recusa a planejar cada passo da sua aventura.

"não quero definir nada
a priori, pois acho que me dedicar aos acontecimentos antes que eles aconteçam pode me afastar de boas experiências", sustenta
. da minha parte, só espero que esse fluxo corrente de vida que predomina no coração do nosso reporteiro não o leve para muito longe dos teclados e do seu blog.

ou não.
ou sim.


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