7.2.08

Coragem

Tinha as mãos escalavradas
de tanto arar chão ao futuro.
A pele carquilhada do rosto
predizia malogradas quimeras.
Aparentava mais de 100 anos.
Trazia os pés carcomidos,
três netos descalços,
malas e muitas sacolas a tiracolo.

Os olhos opacos esperavam
um ônibus que não chegava nunca.
Iam pra não sei onde,
tampouco viver do quê.
Mas iam tão unidos
que se diria que tinham um pacto.
Um juramento de sangue.

O mais novo subia, puxava,
gritava e descia.
Ela, enternescida,
sorria banguela
para o muleque traquinas.
Havia pó para todos os lados.
E eu me sentia triste por ter dentes.

Fazia seca naquele sertão de mim.
E todo meu corpo doía de ver
aquele outro corpo cansado,
aquele tronco truncado,
aquela fome vencida
pelo vigor da esperança
que o meu humano desconhecia.

Minhas crenças,
minha natureza,
minha compaixão tardia...
Quanta conivência pode haver na inocência?
eu me perguntava naquela tarde
de sol e terra rachada
que ainda hoje arde nos meus dias.
Uma tarde de vento forte
que a tudo desvanecia.
.
Meu Deus, de alguma forma,
aquela mulher chovia.

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