12.4.08

Faxina terapêutica

Não sei, não sei. É sexta-feira e minha noção de diversão noturna corre às léguas de qualquer festa. Em vez disso, remexo os armários. É o segundo fim de semana seguido de faxina. Não sei, não sei. Sinceramente, é muita roupa para uma pessoa só. Já são duas mochilas cheias pra doar. Cada peça no cabide me olha nos olhos e indaga: Tu precisas mesmo de mim? Vais me usar quando, neguinha?

Algumas estão novinhas em folha. Nunca vesti. Pra essas, reservo outro destino: o brechó - uma forma que encontrei de elas me indenizarem pelo aluguel do guarda-roupa. Manuseio as saias, vestidos, blusas e calças decidida a nunca mais comprar nada por impulso nesta vida (nem livros).

Dos cds eu já desisti faz algum tempo. Eu não sei ter cds: deixo tudo bagunçado, eles se arranham, se perdem e viram mais uma tralhada para eu ter que organizar. É isso: resolvi me ajudar. Ademais, esta mulinha simpática aqui na barra de tarefas do meu computador serve pra isso mesmo, carregar músicas até aqui. E em mp3, de graça, sem ocupar muito espaço.

A limpeza geral me ajuda a empilhar pensamentos e sacudir a poeira da vida, mas sempre esbarra num item: as caixas de recordações. São cartas, ilustrações, postais, entradas de cinema, de shows, poesias coletivas escritas em botecos baratos. E é aí que o bixo pega. Não consigo jogar um bilhetinho fora.

Na casa dos meus pais, de onde saí há meia década, a situação é ainda pior: são mais de 10 caixas, arquivadas por ano. É, eu etiqueto as lembranças. Vai entender...

Isso sem falar nos cacarecos: saquinhos que guardam flores secas, recortes de revistas e jornais, arames, papelões, pedrinhas, pedacinhos disto e daquilo. Pra essa categoria, minha desculpa pessoal me engana direitinho: um dia, tranformo em arte.

Um dia, um dia... Por enquanto, vou arriscar toda minha engenhosidade (e dignidade) na combinação de roupas. E militar pela teoria da libertação das cores. Portanto, se alguém me ver por aí usando algum modelito esquisito, já sabe: criatividade pura, meu bem.

2 comentarios:

Anónimo dijo...

Eu padeço de dor no peito toda vez que remexo tais caixas. Que sensação esquisita é a nostalgia. É um misto de querer viver de novo com "faria diferente". Igual olhar no espelho e gostar do seu rosto mas querer, sei lá, um visual novo pro cabelo. É bom juntar caixas. É bom desfazer-se delas. Viver é bem isso.
bj.

Luciana dijo...

Dia houve em que me enchi de coragem e esvaziei as caixas.
As cartas com folhas secas e as fotos de amores passados e os bilhetes apaixonados e as entradas de filmes assistidos e os bilhetes de viagens sem volta.

Tudo pro lixo.

Agora eles sobrevivem só aqui: entranhados na memória e pulsando no peito.