eu conheci a artesã nelly carvalho (na foto, à direita) há mais de um mês, durante um frila que fiz lá no rio. fiquei tão encantada com ela que acabamos conversando por um tempão. aos 74 anos, dona nelly olha para o seu passado com orgulho da vida que levou, se enreda pelos becos das histórias boas de contar e vislumbra muitas conquistas pela frente.
com 63 anos de profissão e militância em defesa dos direitos da sua categoria, essa senhora de mãos hábeis e mente inquieta não titubeia ao responder sobre o seu maior sonho: "depois de todos estes anos sustentando minha família com o artesanato, hoje tenho que conviver com o fato de ser aposentada como comerciante. o meu sonho é que outros trabalhadores não tenham que acabar assim".
engana-se quem pensa que isso é um lamento. dona nelly faz da luta pela regulamentação da sua profissão uma motivação diária. presidenta do sindicato intermunicipal de artesão do noroeste fluminense, vira e mexe ela reúne seus camaradas e vai a brasília acompanhar de perto a tramitação arrastada do projeto de lei 3926/o4, que institui o estatuto do artesão.
com energia de sobra, dona nelly arregaça as mangas e não desperdiça nada: ela também lidera um grupo de artesãs que passa o conhecimento adiante, ensinando trabalhos manuais e ecologicamente responsáveis à mulheres que vivem em zonas rurais e assentamentos da reforma agrária. "a gente mexe com um pouco de tudo: fibras, palha de milho, garrafa pet, bordados e que mais você possa imaginar", conta.
sangue de artesã
filha de mãe a pai artesãos - e comunistas -, dona nelly pegou os filhos pela mão e levou pelo mesmo caminho. "todos eles têm talento e produzem alguma coisa artesanal, apesar de terem se formado em outras áreas". a preocupação da nossa artesã sem-carteirinha é fazer sua profissão seguir em frente, mas numa perspectiva mais solidária, em que se valorize o trabalho coletivo.
"nós, artesãos, somos muito individualistas. ainda temos este medo de antigamente de passar o nosso conhecimento para os outros. já está mais do que na hora de aprendermos a trabalhar de forma cooperada. e é por isso que nossas oficinas são voltadas para a capacitação de multiplicadoras. cada mulher que aprende tem também o compromisso de ensinar", garante.
foto: kenia ribeiro
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