Flutuava entre os desejos dela. E se incomodava um pouco com tanto pieguismo. Ridiculamente sentimental, a Clara.
Mas a concubinagem tem destas coisas, torna as ridicularidades cômicas. E a comicidade charmosa. Ainda assim, irrisória - meditava com o olhar grudado na bunda dela, emendando desejo em
preguiça e uma certa saturação.
Aquela mania de ficar perguntando se ele gostava do cabelo dela. Da jaqueta nova dela. Da sombrancelha dela. Da sombrancelha porra! Da boca. Da cintura, seios, coxas. Ele com as mãos nas coxas quentes dela. Respiração ofegante. Aí, e era sempre aí, nesse momento, que ela perguntava se ele a amava. Ele, claro, sempre dizia que sim.
Mentia, invariavelmente. Bem mais fácil, dava de ombros em pensamentos. Além disso, ela trepava com mais gás depois das três palavrinhas. Mais afinco. Mais perna aberta. Mais vontade mesmo.
Engraçadas, as mulheres. Têm mais pudor com o corpo que com as palavras. Falam tanta merda. Sobretudo, falam. Tudo-o-tempo-todo. Choram por nada e trepam
mais depois de escutar sobre o amor. Entenda.
Ridiculamente sentimental, a Clara. E apaixonante. E como era deliciosa a lasanha de Clara. O cheiro do xampu invadindo o quarto antes de dormir. Mais: o cheiro dela pedindo licença ao ar e tomando conta de todos os vãos embaixo do edredom. O beijo desacordado e consciente na madrugada assustada.
E o nosso também não era assim, qualquer concubinato. Tinha respeito. E vá lá, até a pieguice de Clara era agradável. Pra não dizer fundamental.
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