imagens vãs
estes dois olhos quadrados de cima mim, tirai!
não vês que tua tarja não me traduz?
crês em mim demarcada, estanque e indicial?
então não sabes que corro por aí de salto alto sem calcinha?
que brinco de roda e de balanço?
que à noite,
sozinha no meu quarto,
eu penso coisas de feitiçaria
e constelo de loucuras o universo nú?
por que, afinal, me quer tão exata?
esmerada? perfeita? contida?
te esqueces que meus sonhos,
de tão suaves,
me acompanham enquanto
falo, penso, beijo,
gozo, esqueço
e adormeço?
eu ecôo!
levanto bandeiras e tiro a roupa.
na guerra, abandono os escudos.
eu contrario os mitos.
me lambuzo de batom e devoro livros.
teço amor.
e seduzo pela poesia do despertar
na confusão, evoco os ritos e ritmos.
reúno todas que moro
e celebro maçônica a minha contradição.
e então tu me queres uma coisa só?
não vês o absurdo?
duelo entre concretude e abstração.
por favor, afastai de mim os teus colchetes.
não percebes que não posso estar dentro?
que não tenho cabimento?
distraíste tanto de mim?
quando foi que nos perdemos de vista?
quando foi que os olhos nos enquadraram?
que nos fizemos tão rasos?
por favor, entenda:
não me prendo, não me prenda.
livrai-me dos julgamentos!
e arrancai esta dor surda do meu caminho.
pra que eu siga profunda
mulher insegura
menina madura
todas eu
o momento, a condição.
seta pra qualquer direção.
sou também a que passou.
por favor, meu amor,
não fiques comigo e extraia de cima de mim estes dois olhos quadrados!
se não puderes ver
que preciso mudar
pra continuar a ser
quem sou.
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