Ah, os meninos!
Ainda hoje ecoa em meus ouvidos o mote preferido dos adultos da minha infância:
- Se comporte direito! Nem parece uma mocinha!
Não tinha jeito: meu negócio era andar de skate, chutar bola e subir em árvores para apanhar munição: fazíamos guerrinha de frutas, eu e os meninos. Entre eles, não era pecado nenhum sentar sem cruzar as pernas ou andar sujinha e descabelada.
Eram tardes inteiras naquela atmosfera permissiva reservada apenas ao universo masculino. Minha roupinha rosa de domingo sempre voltava marrom e lá vinha o mantra:
- Ai, minha filha, nem parece uma mocinha!
Por sorte, cresci com dois irmãos mais velhos e minha casa vivia cheia de amiguinhos deles. Era jogo de futebol no quintal, esconde-esconde noturno, banco imobiliário, ensaios para uma banda de rock e sessões de filme com direito a acampamento na sala.
Quem inaugurou o primeiro vídeo-cassete lá de casa, um cce pré-histórico, lembro bem, foi o Robocop. Tá certo, era uma história boba, cheia de cenas violentas, mas quem estava interessada na tevê com aquele bando de moleques lindos falando sobre coisas que as meninas não falam?
O que mais me incomodava nas gurias era aquela coisa frufru, a falta de ousadia, o estilo leide, o medo de tudo: de cair, de rasgar a roupa, de chegar em casa depois do horário.
Apesar disso, me divertia muito com elas também. Algumas em especial. Guardo amigas desde aquela época, quando tínhamos seis, sete anos. Crescemos mais ou menos juntas, algumas casaram, descasaram, tiveram filhos, desenvolveram talentos e se tornaram lindas mulheres, das quais tenho um orgulho de irmã.
O tempo foi passando e, na adolescência, meu jeito torto de ser fez com que me tornasse uma “má companhia” para as gurias da rua. E mais uma vez encontrei asilo no clube do bolinha. Foi também nesse período que ampliei minha roda de amigas e encontrei outras tão malcriadas quanto eu.
Descobri que as mulheres sem modos de menina podem ser facilmente identificadas por aí, com os joelhos lanhados de boas histórias para contar. São dos mais variados tipos: loiras, altas, negras, espalhafatosas, semi-tímidas... Mas vejo que todas têm uma coisa em comum: adoram estar entre os meninos... E só de longe se parecem com mocinhas.
=D
2 comentarios:
Esses rótulos "coisas de menino" ou "coisas de meninas" são realmente correntes limitadoras. Muitas vezes impedem que muitos talentos sejam aprimorados. Algumas meninas "frufru" apresentam muita dificuldade de aprender a dirigir por terem uma visão espacial limitada. Em contra partida muitos meninos tradicionais são péssimos cozinheiros. Sem esses rótulos, os meninos não ganhariam sempre carrinhos e as meninas não ganhariam sempre bonecas.
Quem é mal criada aqui?
Isso não é texto de uma mocinha!
rs rs rs
Publicar un comentario