25.5.07

andarilha




Caminhar é uma das minhas atividades mais queridas. Ando muito por aí. Às vezes atenta ao mundo lá fora, noutras enfurnada nos meus pensamentos. Gosto de retomar os últimos acontecimentos, formular respostas que nunca dei a perguntas que nunca me fizeram. Ou pensar em como poderia ter me portado diferente em alguma situação que vivi. Quase me arrependo e resmungo sozinha as palavras que me faltaram naquela hora.

No meu passeio, quase todas as árvores parecem mulheres de cabeça pra baixo, plantando bananeira. Tem umas bem magrinhas, outras de coxas bem feitas. E há também as flores rosas, amarelas, roxas, secas, camaleoas.

Me encanta dar alguns passos de queixo apontado pro céu. Me entreto com brincadeiras infantis, como enquadrar as nuvens em coisas - coisas referenciais aos humanos. Então elas viram ursos, aviões, castelos, cirandas. Mesmo as nuvens que não se parecem com nada são parecidas com pipocas.
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Da calçada vejo também tetos de apartamentos. Repara, tem muito teto exótico por aí. Cheios de coisas penduradas, pintados de vermelho e até um com arte em xadrez. Há crianças em muitas janelas. E ouve-se conversas, principalmente discussões: "Por que você não vai embora? Não mude de assunto, eu quero saber por que você mentiu pra mim." Todo mundo é tão igual em algumas situações, né não?

E tem cada plaquinha despropositada, mais até do que estas frases que a gente encontra em portas de banheiros públicos. Dia destes li "faço pé e mão bem feitos 99X2.8X01", escrito com esmalte bordô no banco de uma pracinha. Achei tão criativo que quase liguei.

Os pequenos, de 2, 5, 8 anos são os mais simpáticos. Sorriem e sentem vergonha. E os meninos adolescentes, com cabeça, pés e mãos desproporcionais ao resto do corpo, são os mais engraçados. Alguns são tão tímidos que parecem desconfortáveis só por existirem ou pelo fato de os outros perceberem que eles existem. Gosto de sustentar o olhar de alguns transeuntes (são raras as pessoas que se olham nos olhos) e de cumprimentar desconhecidos.

Sempre que posso vou a pé. É minha forma de viver um romance com a cidade, ficar íntima do seu cotidiano. Descobrir lugarzinhos secretos, escutar o movimento da população, sentir cheiros de sono, pressa, tristeza... Perceber o tempo com forma e espaço. Respiro. Brinco de respirar: mais devagar, profundamente, duas inspiradas pra cada expirada. E, assim, me divirto sozinha comigo. Um pé atrás do outro, um passo de cada vez. Vendo a vida a andar.

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