18.12.07

ano velho

Tenho sentido saudades, uma falta exagerada de alguma quentura. Este cheiro sem-nome que cobre as distâncias e se instala na minha cama, mais nas noitinhas que pelas manhãs. Traz um friozinho pelas brechas das janelas, pelo feixe de luz que entra por baixo da porta. Deita ao comprido dos meus lados.

Com a suavidade amedrontada pela incerteza, dou voltas arrastadas pelos lençóis. Vagarosamente, meio curvada pelas lembranças, me ponho de pé. Faço um chá de mirra moída e flutuo pela casa. Tenho certeza de que flutuo por que minhas solas não sentem o piso frio. Não tenho chão.

Sento à escrivaninha, examinando a fumacinha de água que sai da xícara. Aponto o queixo pra rua. Escurece. Acendo uma vela na outra. Anoto cubos e espirais no bloquinho, enquanto a água morna, meio verde, desvanece pela sala.

Toca o telefone. É um amigo que me liga, por engano. Emendamos conversa sobre cinema, cpmf, bicicleta, planos. Combinamos de combinar alguma coisa. Sinto na voz dele algum entusiasmo, talvez pressa. Desligamos.

Lá fora, emoldurado pela minha janela, o sol desmaia nos entretons do fim de tarde. Percebo o tempo, sem preconceito de horas. Tenho andado ocupada para muitas coisas. Atarefada de trabalho e livros por ler. O ano vai virar e eu às voltas com esta falta atrasada. Esta saudade enguiçada que não sei de onde vem nem o que faz aqui. E que tampouco vai embora.

1 comentario:

Pá Mariano dijo...

Nanda querida, saudade