12.12.07

Catarse ao desconhecido

Bradam-me vontades de escrever ao desconhecido. Contar-lhe em detalhes meus segredos inconfessos. Arranhar-lhe ossos e olhos com meus pensamentos puídos. Pôr à vista estes doidivanas que perambulam por minha alma vastamente assombrada.

Ah! Quanto enredo invento aos meus fantasmas! Como me azucrinam! Mas basta! Chega de estripulias! Com a mira do dedo, apontarei ao desconhecido um a um dos meus espectros. Silenciosamente, até se renderem.

Nunca disse de mim nada a ninguém. Permaneci restrita, implosiva, trancafiada. As palavras endereçadas ao ignorado são para os relatos cuidadosos. Servirão à tinta, à caneta acanhada pela força do punho contraído, às letras trêmulas pelo pavor de nascer.

Falo dos desejos que venceram os anos abaixo de chuva, secos ao vento, tostados de sol – este árduo fogo dos caminhos que escolhi. Ao meu velho desconhecido, extirpo de mim todo enigma.

Arranco de um só punhado estes sonhos cravados na circunferência mal traçada do meu umbigo. Miro-lhes de fora para dentro, uma descoberta às avessas. Envergo meus nervos e me despeço.

Com as palmas recôncovas, duas grutas em reencontro, oferendo minha supressão ao desconhecido. Dou-lhe de bom grado o vácuo de uma vida inteira. E vibro muda diante do ponto final.

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