Cuidar dos mananciais passou a fazer parte do cotidiano de moradores de Extrema, município com pouco mais de 20 mil habitantes na fronteira sul de Minas. Lá, uma iniciativa pioneira tem garantido a preservação do Rio Jaguari - bacia que, além de abastecer a população local, é responsável por metade da água potável consumida na Grande São Paulo.
Para participar, seu Galdino teve apenas que abrir as portas de sua fazenda e deixar os técnicos da prefeitura trabalharem: eles mesmos cercam a reserva legal e permanente (mata ciliar e de topo de morro) e reflorestam a área com mudas nativas, com o cuidado de plantar as espécies frutíferas mais perto das moradias dos agricultores. Em contrapartida, Galdino cuida da manutenção básica e recebe R$ 159 por hectare ao ano. "O valor de conta é este, mas o pagamento é feito a cada 30 dias", explica Paulo Henrique Pereira, secretário de Meio Ambiente de Extrema.
Atualmente, a cobertura do programa abrange mais de mil hectares, o equivalente a 60 quilômetros de cercas de proteção fincadas no entorno do córrego das Posses, uma das sete bacias afluentes do Rio Jaguari. Para se ter uma idéia dos benefícios trazidos pelo programa, vale destacar que o Jaguari é o principal manancial do Sistema Cantareira, responsável pela água encanada de 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo. "A sub-bacia das Posses é nosso projeto-piloto, mas a meta é abranger todo o município, algo em torno de 20 mil hectares", destaca Pereira.
Mudança de hábito - Quem precisou se adaptar aos novos limites estabelecidos pelo
Na avaliação de Pereira, mesmo entrando em choque com o modelo agropecuário adotado na região, baseado na pastagem extensiva, o programa tem conseguido mudar a relação entre o homem e o meio ambiente. "O ponto principal é mostrar ao agricultor que a natureza pode ser uma fonte de renda pra ele. Mesmo que seja uma bacia leiteira, ou seja, com muito gado em volta, e o melhor pasto esteja na beira do rio, ele percebe que além de uma preocupação ambiental há uma vantagem econômica no cercamento”, destaca o secretário.
A proximidade dos técnicos com a população local também tem facilitado o diálogo. “Não adianta só cercar e plantar. A gente tem que cuidar das mudas e conversar com os moradores, ouvir a opinião deles", observa Flávio Trevisan, agrônomo da prefeitura. “No projeto sai coisa boa, mas também sai coisa errada. Se a gente se sente prejudicado, vai lá e conversa”, conta Olivinho, que virou defensor das águas do município.
Segundo ele, alguns vizinhos ainda oferecem resistência ao programa. “A gente tenta explicar que a preservação é importante. Tanta gente nesta corrida doida atrás de petróleo, mas vai beber petróleo pra ver o que acontece. A água é a mãe de tudo”, ensina Olivinho. Na opinião de Trevisan, no entanto, a desconfiança enfrentada no início já cedeu lugar à curiosidade. “Hoje muita gente nos procura querendo conhecer e fazer parte do programa. O agricultor viu que ninguém quer tirar aquilo que é dele, mas apenas que existem regras para ele poder usar”, avalia o agrônomo.

Esforço continuado – Em funcionamento há menos de dois anos, o programa Conservador das Águas começou a ser desenhado em 1996. “Nesta época, tínhamos um projeto que ainda não incluía o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Ao longo do tempo, amadurecemos a idéia de que só o cumprimento da legislação não adiantaria. Além de envolver a população, seria preciso um apoio financeiro”, lembra Pereira.
O trabalho prosseguiu com investimentos no inventário ambiental e no cadastramento das propriedades do município. “Mapeamos todas as sub-bacias e iniciamos o diálogo com a comunidade”, lembra o secretário. Quase uma década depois, a continuidade das atividades resultou na criação de uma lei municipal (lei 2.100/2005 e decreto 1.703/ 2006), que estabeleceu uma reserva no orçamento e fixou as regras para o PSA. O projeto também é apoiado por organizações internacionais e pelo governo estadual.
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