11.5.13

incendiária





pra ti, meu amor,
trago a mesa sempre posta.
flores, taças, toalhas,
talheres bem dispostos
e velas incendiárias
(pra quando me deres as costas).
pois tão certo quanto a fome
é teu desgosto ao meu tempero
- insaciável desespero
de um apetite sem resposta.


cumprimos a ceia no mais profundo silêncio:
nossa paixão - consagrada na loucura - 
brinda trincando os dentes
quebrando olhares no espelho. 

com a memória retida
em tanta coisa não dita,
vou da sala até a cozinha,
dando facadas no tempo,
cuspindo álcool no chão.
medito enquanto fito
as labaredas em ascensão,
o cheiro acre pela casa,
o colorido dos teus trapos,
teu corpo queimando inteiro
e eu jogando guardanapos.



imagem: boligán

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