PRAÇA XV ( para a Lisi)
Ah, linda Lisi,
Em cada marquise
Do velho Mercado
Se encontra marcado
Um cheiro de povo
Nem velho nem novo
E que sempre existiu
Do que nasceu, da que pariu
De riqueza disfarçada
Da pobreza escancarada
Do sóbrio, do ébrio
Do português sério
Que negocia bacalhau
E mais o escambau.
Ali há um louco
- não, um é pouco –
Que vende alegria
E sempre que esfria
Vai mostrando a bunda
De terça até segunda.
Tem ainda aquele outro
Que em troca de troco
Senta num recanto
E desafina um canto
De dente quebrado
E olhar revirado.
Outros mais defendendo
Deus, o diabo, o reverendo,
Mansamente ao microfone
Ou gritando no megafone
O nome de outro salvador
E as virtudes do amor.
Entre tanta prece
A mulher oferece
- segurando um copo –
As delícias do corpo
Pra quem ri, banguela,
Babando por ela.
"Me dá um cigarro"
Diz com jeito cigano
A moderna bruxa
Enquanto outra puxa
E prediz a sorte
Do nascimento a morte.
Um índio pagé
(ou dando um "migué")
Oferece a pomada
Custando quase nada
E que tudo cura,
De tosse a queimadura.
(o lagarto sacana
o rabo abana
mostrando a língua
pro moço da Tinga
que pergunta curioso
do amuleto cheiroso.)
Mas há uma crise,
Minha cara Lisi,
E assim é nossa gente
Um tanto demente
Que vive sublime
Sem entrar pro crime.
Depois é a baixaria
Com tudo que cria
Trazendo pro mundo
Assim, num segundo,
A miséria e a fome
Que tudo consome.
A droga, a briga
E, por qualquer intriga,
Uma vida se vai
No sangue que esvai
Do corpo caído
Deitado ao comprido.
Tem ainda o figurante
Facilitando o assaltante
Tomar bolsa alheia
Que, dividida à meia,
Pagará mais uma pedra
Pra mandar tudo à merda.
No mais, passantes, operários,
Vendedores, estudantes e funcionários
Completam bem o cenário
Descrito neste breviário
Da loucura e da maldade
Do Centro da cidade.
Assim conto a saga
De como vejo a estrada
Mas, jamais esqueça,
Por mais que pareça
Um outro universo
É, apenas, nosso inverso.
leonelb
Inverno/2003
leonelb@portoweb.com.br
este é do leonel. meu amigo leonel.
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