vão e relevo

estenda os olhos (ao coração) pra me ver melhor.
desalinha tuas mãos ao jeito torto desta história.
desfaz esta carranca e estica a língua,
pra sentir meu gosto. em cada pedaço de mim,
há um bocado de ti. te reconhece na minha
alma refletida. eu sou química. e levo o corpo
encharcado, liquefeito desta alquimia de nós.
não há mais dois. somos vários:
essência de uma mistura que atravessa anos a fio.
dia-a-dia este amor dura...
persiste, prolonga-se, existe!
e nesta brincadeira de mau gosto,
nós, tantos, nos escondemos e enganamos
a nós, todos.
mas está comprovado subjetivamente
que nossa fusão íntima de coisas opostas
não se dispõe à sublimação.
somos, ainda, o vapor do sonho
nas visitas sonâmbulas. somos o calor da pele
no amor solitário.
somos, enfim, a saudade ornamentada
pelas lembranças
e pela ânsia do que não fomos.