8.9.09
As árvores mal se mexiam. De um lado do céu, parecia que vinha chuva. Do outro, figuravam bordas amareladas por um sol cor de caju. As nuvens, branquíssimas e arvoradas, se espichavam devagarinho para o leste daquela infinda imensidão azul. Era uma típica tarde vadia, de primavera e vento ralo. E desse pouco que ventava, uma parte abanava levemente os cabelos cacheados, um pouco contidos sob o boné cinza-chumbo, do homem que cumpria (pelo menos se diria) um conhecido itinerário: passos largos, apressado, buzinadas, moto, carro, letreiros, postes, cimento, vans, meio-fio, barro, gente, gente, gente, pó, bicicleta, cascalho. E o homem meio magro, meio alto, brasileiro, mulato - mais intuitivo que obstinado – fazia que nada via e se via tanto fazia, pois ele ia, ia, ia. Um homem, uma jornada, cabeça baixa, olho no asfalto, braços soltos, pisada atrás de pisada, na contramão das horas, sem vacilo nem demoras, cortando o tempo pela calçada. Parou diante do sinal, tirou o boné, trocou de via. Ajeitou os tênis, agachado, e quando levantou já trotava e, em seguida, corria. Veloz, ligeiro, disparado. Enquanto a noite avançava, o homem ia sem ofegar, deixando para trás dos ombros (quem saberia?) mais um dia de trabalho numa lanchonete apertada, fincada desde sempre nesta mesma seca e abafada w3 sul, onde dali a uma quadra começaria a chover.
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1 comentario:
ele corria por correr.
não por precisão mas para sentir-se livre, solto e feliz.
rumo à chuva que trazia ventos e nuvens grávidas de raios, trovões que limpariam seu corpo e sua alma do cheiro de gordura, da correria sem sair de seu lugar de MacEscravoFeliz.
sentindo as pisadas macias de seu novo tênis nike comprado na feira do paraguay.
morreu feliz e garboso na faixa de pedestres onde uma dondoca tinha pressa para chegar a lugar nenhum papagueando no celular.
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