invernos brincantes

venta frio em porto alegre. o sol nem chega a vencer as nuvens que, muito espessas, só vez ou outra deixam transparecer os azuis do céu. moram na minha infância estes dias gelados como hoje. uns mais alegres que outros, tenho uma coletânea deles na memória.

sempre que o tema felicidade surge nos meus assuntos, lembro de uma pracinha encantada, fincada no centro da cidade: era minha avó quem me levava lá. íamos a pé ou de ônibus, eu e ela, saracoteando de mãos dadas pelas vias ainda calmas da capital.

chegando lá, eu não pagava imposto. escorregador, balanço, ciranda, pedala, corre, pula, cai, volta e começa tudo de novo. enquanto a minha avó puxava papo com outras tias, babás e mamães das crianças, eu me aquecia como sabia: brincando.
 
pareciam infindas aquelas manhãs de recreio dos meus primeiros anos e, hoje, tenho certeza de que continuam eternas. nesta segunda-feira cinzenta, sentada no pátio de casa em busca de um glorioso feixe de luz, sorvo mansamente meu chimarrão-temperatura-máxima, mas o calor de verdade chega em mim pelas lembranças.