4.8.11

sementeira



 
ao sabor das tuas lástimas,
rompi a propriedade.
à margem de tuas eiras,
livrei o sal das lágrimas,
lavrei a terra seca.

e ali, na dianteira,
findo o nosso contrato,
sementei de fino trato
as migalhas e os farelos:
hortelã, dálias, marmelos,
flores, anis,
trepadeiras...

nos meus campos,
alumiados de esperança,
reza chuva e contradição.
a natureza não censura
e não é preciso jura
para que sonhos, margaridas,
malaguetas e limão brotem
do mesmo chão.

onde antes era nosso
hoje há um muro entre planetas
num, valem palavras
noutro, só vale e canetas.
.
.

2 comentarios:

Anna K. Lacerda dijo...

Lembrei de uma declaração do Glauber Rocha:

"Me peça qualquer coisa, menos para eu ser coerente!"

A contradição é vital! : )

Léo Tavares dijo...

é muito lindo. não sei como você consegue fazer coisas que dizem tanto com uma estrutura tão bem fechada. ao mesmo tempo, o ritmo flui da melhor maneira possível, e me parece que já estava pronto em algum lugar de você e então foi escrito num sopro.
quase me desmorona.
:)