26.7.16

Nascer mãe aos 40

Foto: Camila Hermes
Marinheiras de primeira viagem, mulheres contam como é encarar a maternidade numa idade mais avançada e cheias de conquistas na bagagem

Num mundo em que as mulheres avançam na conquista de novos espaços na sociedade, ser mãe deixou de ser um destino inexorável e se tornou uma opção. Algumas decidem não ter filhos. Outras enxergam a maternidade como uma possibilidade ou até mesmo um desejo. Só que antes elas querem desbravar novos horizontes e experimentar outros aspectos da vida. Ou seja, deixam a maternidade para depois.


Mas depois do que, exatamente? Um estudo divulgado pelo Ministério da Saúde oferece uma pequena pista para esse fenômeno: segundo a pesquisa, 45,1% das mães de primeira viagem com mais de 30 anos têm níveis mais elevados de escolaridade — 12 anos ou mais de estudo. É uma evidência: elas estão com sede de conhecimento. Estudar é apenas um indicativo da busca por autonomia, independência e reconhecimento profissional.

Foi mais ou menos neste paradoxo que a jornalista Thais Rucker se percebeu quando tinha 30 anos. “Eu sempre quis ser mãe. Eu achava que ia chegar a hora disso acontecer. Estava morando fora, estudando e viajando pelo mundo quando comecei a me questionar sobre isso. Eu pensei: quero ser mãe mas absolutamente nada na minha vida aponta nessa direção. Então, opa!  A coisa não é tão simples. Isso não vai acontecer tão naturalmente, vou precisar agir”, conta ela.



Daniella Goulart, 47, professora universitária 
“Eu engravidei naturalmente aos 42 anos sem planejar. Foi uma gravidez super saudável. Acabei fazendo uma reeducação alimentar e cheguei ao fim da gravidez dois quilos mais magra. O médico achou bem inusitado. Foi uma experiência muito feliz.”

O caminho até a maternidade levou mais oito anos. “Quando voltei de Londres percebi que assim como priorizei estudar, viajar e ter uma carreira, eu teria que priorizar ser mãe. Fui fazer terapia para tentar entender o que de fato eu queria. Só fui ser mãe aos 38. Foi um período muito importante de autoconhecimento e aí deu o tempo certo para eu encontrar alguém bacana, um companheiro, com quem eu realmente me visse compartilhando a vida”, pontua.

Encontrar um grande amor também foi crucial para Isabela Niemeyer, 42, embarcar na aventura da maternidade. “Quando conheci o meu marido, com 35 anos, ser mãe não era uma questão para mim. Mas foi algo natural, que veio junto com o despertar do amor. Eu já havia tido outros relacionamentos longos, de morar junto, mas de repente olhei para aquele cara e pensei: este é o pai dos meus filhos.”

E assim foi. Após alguns meses de relacionamento a distância, Isabela fechou as contas no Rio de Janeiro e se mudou de mala e cuia para Porto Alegre para casar e viver uma vida a dois. “Eu tive a Beatriz com 37 e a Alice com 41. Ser mãe é uma revolução maravilhosa que me traz aprendizados todos os dias. Eu me trabalhei bastante para isso. Um pouco antes de engravidar pela primeira vez eu estava num trabalho que não me fazia feliz. Resolvi tirar um ano sabático e fui fazer muitas terapias. Eu mergulhei em mim e no meu desenvolvimento pessoal”, conta.

Um dos saldos desse período de autoconhecimento foi a decisão de se dedicar integralmente à primeira infância das duas filhas. “No meu processo de descobertas veio muito forte o sentimento de ausência dos meus pais e algumas lacunas emocionais que isso me causou. Nesse momento, decidi que minhas filhas não seriam criadas por babás. Eu percebo que meus pais fizeram o melhor que podiam com as ferramentas que tinham. Mas eu quero fazer diferente. Quero que as meninas cresçam comigo presente, uma presença de qualidade. Eu tenho essa possibilidade e esse suporte do meu companheiro”, salienta.

De surpresa
Na vida da professora universitária Daniella Goulart a maternidade não veio assim tão planejada. “Eu engravidei aos 42 anos. Tinha pra mim que não ia ter filhos. Não queria ser mãe a qualquer preço. Lá no fundinho de mim, mais ou menos aos 38 anos, a maternidade apareceu de alguma forma. Eu pensava: ou é agora ou não vai ser mais. Será que é isso mesmo que quero? E eu me respondia: sim, é isso mesmo. Vamos adiante. Eu já estava com o meu companheiro há 10 anos e ele também não pensava em ser pai.”

Mas eis que veio a comprovação: o resultado do exame deu mesmo positivo e isso traria grandes transformações pelo caminho. A notícia foi recebida de braços abertos pelo casal — uma atitude que a Daniela atribui à maturidade. “Uma grande vantagem de ser mãe nesta idade é que hoje eu tô muito mais serena e mais calma. O mesmo para o meu companheiro. Ele foi pai aos 50. Já estávamos casados há um bom tempo, não tínhamos filhos mas estávamos super tranquilos em relação a esta vontade de viajar, de experimentar, este desejo de conhecer tudo e todos que a gente costuma ter quando é mais jovem. E, olha, para quem falava que não tinha vontade de ser pai, ele se revelou!”, celebra.

Isabela Niemeyer, 45, jornalista 
“A maternidade não é só um mar de rosas. É bem punk também, traz muitos desafios e enfrentamentos. Mas traz este amor imensurável. Esta capacidade de doação e entrega que você nem sabia que existia antes. É chavão, mas é real. Hoje sinto cada vez mais vontade de ser uma pessoa melhor.”

Nascer mãe
Mesmo desejando ser mãe há muito tempo, lendo muitos livros sobre o assunto e embarcando na maternidade aos 40 anos, a educadora física Maria José Goulart acredita que viveu dilemas e inseguranças comuns à gestação. “Apesar de ter idade, a minha experiência com maternidade era zero. Eu ajudei a cuidar de meus irmãos, fiz cursos de preparação para o parto, mas eu também tive todos estes medos que qualquer grávida tem. A idade não muda em nada isso. Eu não me senti mais segura”, afirma.

Desde os 30 anos Maria José alimentava o sonho de um parto natural, de cócoras. "Eu sempre quis ter um parto normal e pensava que isso era bem fácil. Só que quando engravidei percebi que para ter um parto normal a gente tinha que batalhar bastante. Foi só depois das 20 semanas de gestação que encontrei um médico que me fez me sentir segura. O primeiro médico classificava o meu parto como de altíssimo risco. Claro, há riscos de o bebê nascer com alguma síndrome. Mas eu tenho certeza de que uma mulher só engravida quando ela está saudável. Hoje eu sei isso. Naquela época eu não sabia.”

Neste contexto, a doula de Maria José exerceu um papel fundamental. “Minha doula sempre fazia eu me encher de orgulho por estar gestando um filho aos 40 anos.” O parto foi ainda melhor do que o sonhado por Maria José e — apenas quatro anos depois — ela deixou a profissão de lado para dedicar-se à doulagem. Hoje é mais conhecida como Doula Zezé. “A vida de doula é uma missão que chegou até mim por intermédio do meu filho. Quando tive que lutar para me preparar para o nascimento dele, encontrei uma doula que me ajudou a fortalecer aquilo em que eu já acreditava, mas que a cultura tentava de toda forma me roubar.”

Atualmente Zezé acompanha diversas gestantes, dá formação para doulas e dá especial atenção a grupos de vivências para casais grávidos. “Ter um parto natural de cócoras aos 40 anos foi pra mim a oitava maravilha do mundo. Os profissionais não acreditavam e continuam não acreditando que mulher pode ter parto natural. As taxas de cesáreas nos comprovam isso. Temos uma geração inteira de mulheres que fizeram cesariana. A maioria das mulheres acabou fazendo partos cirúrgicos simplesmente porque os médicos queriam testar ou praticar o seus conhecimentos para isso. E o marketing vendeu muito bem a ideia de que a cesariana era um parto sem dor”, lamenta Zezé.

Isabela também se sente contrariada ao lembrar que o parto da primeira filha foi uma cesárea. “Hoje considero que não havia necessidade. Tive um acompanhamento médico com o qual não estava satisfeita, mas eu não tinha informação na época. Minha segunda filha nasceu de parto normal domiciliar”, afirma.

Realizações e inquietudes
Mesmo não tendo cultivado a maternidade como uma meta a ser alcançada, como ocorre com muitas mulheres, Isabela acredita que foi a melhor coisa que aconteceu na sua vida. “É um amor que não cabe no peito. Isso é realmente impressionante. O amor te engole de uma maneira sobre-humana, que só de falar sobre isso agora as lágrimas correm sem que eu possa controlar. Você não imagina o quanto é capaz de amar até ser mãe. Talvez uma pessoa que se dedique a trabalhos voluntários também sinta isso. É uma doação e entrega total”, sustenta.

A satisfação inenarrável é unânime entre as entrevistadas. “Eu sempre fui muito livre e independente. Eu sou muito feliz tendo um filho, mas era muito feliz também sem ter o Gabriel. A minha realização não passava pela maternidade. Agora, é verdade que ser mãe me realizou muito mais. A vida se divide em antes do Gabriel e depois do Gabriel. Pra mim foi um presente para eu aprender a ser menos egoísta e pensar menos em mim. Porque é uma doação e isso te transforma como ser humano. Hoje sou uma pessoa muito melhor. Cuidar dele foi o grande presente que recebi nesta vida", ressalta Daniella.

Para Thais, que pariu Camilo há apenas seis meses, o puerpério está sendo mais intenso do que ela podia vislumbrar. “Eu já tinha lido bastante sobre, faço parte de diversos grupos de discussão, me preparei para isso. Agora estamos numa fase mais leve, mas essa fusão mamãe-bebê é maior do que eu podia imaginar, eu não tinha a dimensão. Só vivendo pra saber o quanto é louca essa fusão. Essa coisa de sentir seu corpo do lado de fora. Foi muito mais devastador e sublime.”


Maria José, 56, doula “Acho que a mulher moderna tem esta visão de que podemos fazer muitas coisas da nossa vida. Antes as mulheres casavam e tinham que ficar em casa e cuidar dos filhos. Essa era a única possibilidade que elas tinham. Não tinham sonhos de fazer nada diferente. E eu já me vi bem cedo querendo fazer outras coisas.”

Para Zezé, que pariu aos 40 e hoje está com 56 anos, a maternidade foi a revolução. “A maternidade trouxe tudo que eu sou hoje. Eu tenho absoluta certeza que meu filho foi um presente pra mim. Cada mãe tem seu filho reservado pelo universo na medida do seu amor, da sua força e do seu desejo. Em algum lugar esse encontro está marcado. Pra mim, foi no tempo certo, na hora certa. Na hora que eu precisava dele e ele precisava de mim nossos espíritos se encontraram. Meu filho mudou vida e minha profissão.”

Amor e disposição
Com um histórico de partos saudáveis, as entrevistadas pontuam poucos aspectos em que não há vantagem na maternidade perto dos 40. Talvez apenas a falta de pique dos 20 anos tenha sido lembrada por todas. “Pra mim, a coisa que mais pesa é o fato de eu ter vontade de ter um terceiro filho agora”, sintetiza Isabela. Para Zezé, a grande questão diz respeito ao desejo de conhecer os netos. “Eu cuido bastante da minha saúde para ter energia para brincar com meus netos”, garante.

No coração de Daniella, também há uma pontinha de preocupação com a longevidade. “Dois anos depois que o Gabriel nasceu eu tive alguns cistos no ovário e acabei tendo que tirar útero. Um pouco depois o pai do meu filho teve um câncer de estômago. Então a gente acaba ficando com um receio. Mas também acho que nada é permanente e ninguém tem controle de nada. Então a gente vive todos os dias intensamente com ele.”
Foto: Camila Hermes
Thais Rucker, 38, jornalista 
“Eu lembro de em algum momento ter olhado em volta e percebido que todas as minhas amigas de infância já estavam no segundo filho, com uma vida super estabilizada. E eu estava voltando de uma viagem com a minha mochila nas costas. Eu achei muito cruel, porque a cobrança que eu sentia era mais ou menos assim: tu tem que viajar muito antes de casar, tem que namorar muito, tem que ser bem-sucedida, tem que ter teu dinheiro, tem que ser independente, tem que ter a tua casa. Eu botei isso na cabeça e fui atrás. E quando vi até a Sandy, que era apenas uma criança cantando quando eu já viajava sozinha, já estava grávida. Mas olhando pra trás não me arrependo. Naquele momento essa não era a vida que eu queria, mas depois eu mudei e fui construir outro sonho. Eu vejo muitas vantagens em ter sido mãe mais tarde. Eu me sinto mais preparada para encarar esse desafio.”

27.5.16

coisas que a gente cria

"coisas que a gente cria" é um projeto muitíssimo inspirador sonhado & realizado pela jornalista barbara nickel. trata-se de uma série de entrevistas com pessoas que interagem com o MUNDO de uma maneira criativa ou inovadora, digamos assim.

então eu fiquei ponderando MUITO sobre "o que será que eu tenho pra dizer?" quando a bárbara me convidou para ser uma das entrevistadas. mas topei, né? que eu não sou mulher de ficar dizendo não por causa de medinho.
hoje, ouvindo a entrevista (AQUI), admito que fiquei meio constrangida com um tanto de bobice que eu disse e também me critiquei por não ter sido tão clara em algumas respostas, especialmente às relacionadas ao ‪#‎yoga‬.

contudo, a verdade-verdadeira é que eu sou toda errada mesmo. e tudo bem. seguimos dançando no baile da VIDA como ela é!
gracias mil Barbara Nickel pelo carinho e por este trabalho tão legal que você tá fazendo. gracias também pra mari e Joelma Terto que me meteram nesta!
aos amigues que escutarem, me digam alguma coisa a respeito! e ó: os outros podcasts são ‪#‎maneiríssimos‬! eu ouvi o da Mariana Bandarra e da Nanni Rios achando deliciosurante do início ao fim!
é isso.

9.5.16

o que é yoga para você?

como alguns de vocês sabem, em 2013 eu resolvi tirar um antigo sonho do fundão do baú e me tornei professora de yoga

esta é uma realização que transformou PROFUNDAMENTE a minha vida e sobre a qual quero começar a escrever mais a partir de agora. 

aproveitando o momento de atualização do blog, compartilho este LINK para uma entrevista que dei ano passado sobre o que é yoga para mim y otras cositas más. 

namaskar!