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21.11.11

à sombra de um delírio verde

acabei de assitir ao documentário "à sombra de um delírio verde", que foi divulgado nesta segunda (21) numa versão hd para a internet. o filme trata dos sucessivos massacres aos guarani kaiowá. infelizmente, o lançamento coincide com mais este revoltante ataque àquele povo.  

e se escrevo assim, no calor da hora, logo após ver o filme, é porque sei que esta raiva que estou sentindo agora só existe porque sou capaz de amar. e porque expor meus sentimentos é uma maneira de fazer-me sujeita desta triste realidade. e que se algumas vezes sou sujeita é porque noutras sou objeto.


e porque não dá para a gente mudar e fazer de conta que não mudou. chega de ver e fingir que não viu. olha, que triste, mais um assassinato de índio. desliga a tevê e vai dormir. estou bem orgulhosa do cristiano navarro, que é bom amigo e um dos diretores do doc. 


tornar-se consciente é um caminho de libertação. somos todos inacabados. alguns de nós, indomesticáveis. e se tudo der certo avançaremos sem acreditar nos nervosismos dos mercados financeiros, sedentos por mais lucros a qualquer custo.


a injustiça social não é uma fatalidade. em toda a américa latina o latifúndio estrutura os espaços sociais e políticos, determinando valores e hierarquizando as identidades culturais. por todos os lados, os índios foram marginalizados e reduzidos à sobrevivência. 


o afã de mercantilizar todos os aspectos da vida e explorar todos os recursos naturais não é uma fatalidade. 


a subordinação da vida aos interesses de meia dúzia de grandes corporações mundiais que acreditam que "o céu é o limite" não é uma fatalidade.

nem sempre foi assim. nem sempre será. tudo é parte de um processo histórico e só pode ser compreendido assim, nesse contexto. nós - humanidade - trilhamos um caminho controverso até chegarmos aqui. somos responsáveis por cada um dos nossos disparates civilizatórios. 


e precisamos mudar o rumo desta trajetória. talvez o filme contribua para compreendermos melhor este cenário dramático em que cada um de nós tem um papel especial.
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À Sombra de um Delírio Verde from Mídia Livre on Vimeo.

28.9.11

eu sou a favor do aborto


a batalha é pelo direito de escolha da mulher em praticar ou não o aborto. as leis que criminalizam a interrupção da gestação são absolutamente descoladas da realidade. quem considera assassina a mulher que resolve não levar a gravidez adiante, esquece que o aborto representa a primeira causa de mortalidade materna em países como argentina, chile, guatemala e panamá. aqui no brasil, no equador, em honduras e no méxico o aborto inseguro constitui a terceira causa. 

então é assim que defendemos a vida?  

hoje é o dia de luta pela discriminalização do aborto na américa latina e caribe. portanto, é um dia de campanha pelo direito da mulher à vida, à igualdade e à autonomia. digamos que seja uma data de mobilização para promover o debate e levantar perguntas sobre tema que costuma ser sempre reduzido ao eterno "você é a favor ou é contra?".


caso de família, de saúde, de carolas, de polícia ou de toda a sociedade? 

uma pesquisa realizada ano passado com 2.002 mulheres pela universidade de brasília mostra que do total de entrevistadas, com idade entre 18 e 39 anos, 15% já fizeram pelo menos um aborto. se projetarmos esse percentual sobre a população feminina do país nessa faixa etária, que segundo o ibge é de 35,6 milhões, estaríamos falando de 5,3 milhões de mulheres. 

essa pesquisa trouxe elementos novos porque até então as estatísticas disponíveis sobre aborto no brasil eram relacionadas sobretudo a curetagens feitas nos hospitais, sendo que a maioria dos abortos são clandestinos. outro aspecto interessante do estudo é o perfil das mulheres: 81% delas têm filhos; 88% têm religião e 64% são casadas. 

ou seja: a minha mãe solteira e a sua tia católica. a fofa da sua prima. nós e nossas nossas amigas. eu e qualquer uma de nós. 

vamos todas presas por isso?

já chega de a igreja ditar as leis. basta de estado omisso, covarde e subserviente aos interesses mais conservadores. vamos superar a hiprocrisia - essa velha intolerante e carrasca que faz do aborto um eterno tabu social, que mata milhões de mulheres, atravanca o desenvolvimento humano e só dá de comer à injustiça.

 
Saiba porque o aborto deve ser permitido no Brasil from Universidade Livre Feminista on Vimeo.

Marcados para morrer

A obsolescência programada tem-se tornado cada vez mais abusiva.  A mudança de valores e a migração da economia de produtos para a de serviços são alguns antídotos para a sociedade descartável


O aniversário de 110 anos de uma lâmpada – acesa – causou alvoroço em junho deste ano na cidade de Livermore, na Califórnia, Estados Unidos.  Feita à mão pelo inventor Adolphe Chaillet para presentear o Corpo de Bombeiros local, a lâmpada de 60 watts foi festejada pelas ruas, conquistou posição no livro dos recordes e virou uma das principais atrações turísticas da região.  Ganhou até página em rede social.

A notícia sobre a comemoração alastrou-se pelo mundo e acendeu uma série de questionamentos para milhares de consumidores. Se é possível uma lâmpada funcionar por tanto tempo, por qual razão modelos duráveis como este não estão disponíveis no armazém de cada esquina?

26.9.11

MST promove ocupações para pressionar governo Tarso



Ainda era madrugada quando a linha de frente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) cortou o alambrado e iniciou a ocupação de uma área de 600 hectares em Viamão, na Grande Porto Alegre. Aproximadamente 200 famílias estão no local. A ação integra a estratégia do MST para pressionar o governo gaúcho a cumprir um termo de compromisso firmado em abril deste ano.  
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Pelo acordo, o governo de Tarso Genro deveria assentar mil famílias até 2012. A promessa, no entanto, continua só no papel e até agora nenhuma família teve seu direito garantido. "Estamos determinados: pra gente sair daqui só com um assentamento concreto. Temos companheiros que estão há 7, 8 anos vivendo debaixo da lona, lutando pelo direito de produzir. É um vida dura", salienta trabalhador rural João Paulo da Silva, que deixou o acampamento Nova Esperança, em Santana do Livramento, para participar da ocupação.Por volta das 10 horas da manhã, a primeira viatura da Polícia Militar chegou ao local - situado nas redondezas do pedágio da RS 040 - para conversar com lideranças. O advogado Emiliano Maldonado, que presta assessoria jurídica ao grupo, explica que a área ocupada não cumpre nenhuma função social, além de prestar um desserviço à sociedade. "É uma terra livre para o tráfico. No início deste ano uma operação da Polícia Federal apreendeu cerca de duas toneladas de maconha num galpão que fica na área". 

Resistir, produzir
Enquanto dezenas de integrantes do movimento levantavam barracas, armavam estruturas de bambu e penduravam faixas e bandeiras, a agricultora Jussara Melo se dedicava ao preparo do almoço coletivo. Acampada há 6 meses no interior do estado, ela decidiu tentar nova vida em Viamão. "Vim com meus dois filhos e com meu marido e não vamos arredar o pé daqui enquanto não tivermos terra para produzir", garante.

Em situação semelhante está a agricultora Suzana da Silva, que é vizinha de acampamento da Jussara, em Charqueadas. "Eu tenho um guri de 12 anos e uma guria de 8. A mais nova aprendeu a caminhar e a falar num acampamento do MST. Estamos na luta há muito tempo. O governo prometeu e já é hora de cumprir. Só vamos sair daqui com a terra na mão. Sabemos que não será fácil, mas nada vem fácil pra gente".

Apesar das dificuldades, Suzana gosta da vida que leva. "Estamos ensinando nossos filhos a lutarem pelos direitos deles. E o acampamento é uma grande família. Aliás, eu conheço muita família por aí que não tem a união que nós temos. Isso acontece porque temos um mesmo objetivo, estamos juntos no mesmo barco", acredita.
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Ação integrada

Outras duas ocupações foram realizadas simultaneamente no Rio Grande do Sul. No município de Vacaria, no Nordeste gaúcho, aproximadamente 400 famílias de sem-terra ocupam uma área pública, de responsabilidade do governo estadual. Em Sananduva, cerca de 200 pessoas ocupam uma área de 320 hectares.

"O governo diz que não tem dinheiro, mas ele tem. O que o governo não tem é prioridade com o pequeno agricultor. Nesse caso de Vacaria a área é deles e não teriam que pagar nada. Esta outra área aqui de Viamão está na mão do tráfico e já deveria ter sido expropriada", reclama João Paulo da Silva, que é filho de pequenos-agricultores assentados e atua no MST há quase 10 anos.

12.8.11

Mutirão de construção natural mobiliza professores de Poa


Termina neste sábado (13) a formação “Reiventando o espaço escolar”, destinada a professores da rede pública de ensino de Porto Alegre. O encerramento das atividades será marcado por mais um mutirão na Escola de Ensino Fundamental Rincão, na zona Sul da capital. Juntos, educadores, alunos e moradores da comunidade passarão o dia pondo a "mão na massa". Será dada prioridade para a implantação da "trilha perceptiva" na pequena mata que há nos fundos da escola - intervenção bastante aguardada pelas crianças do Rincão.

Com duração de 44 horas, entre aulas práticas e teóricas, a formação utiliza conceitos da permacultura - que integra saberes populares, ancestrais e a ciência ecológica moderna - e trouxe novo fôlego aos professores que se interessam pelo tema. O arte-educador Rafael Johann é um dos participantes e se diz satisfeito com os conteúdos das aulas. "O curso está sendo muito importante, pois propõe não apenas uma reflexão sobre a escola do futuro, mas sim atitudes e práticas para a escola do presente", destaca.

O maior desafio, avalia Rafael, é fazer com que a semente do curso floresça. Professor de outra escola, a Chapéu do Sol, situada no bairro Belém Novo, ele pretende levar adiante o conhecimento adquirido no curso. "Quero passar esse aprendizado para meus alunos e outros professores. Não é uma tarefa fácil, pois o ambiente escolar é bem institucionalizado, mas acredito que aos poucos é possível avançar nesse sentido", sustenta.

Trabalho conjunto
O sábado passado também foi de muito trabalho para os participantes do curso. O inverno gaúcho deu uma trégua e os professores trocaram o dia de sol e descanso por atividades práticas no pátio da escola. A ação resultou num verdadeiro legado para a comunidade escolar, com a criação de novos espaços educativos e o início de um sistema agroflorestal.

A organização de uma sala de aula ao ar livre, à sombra de um arvoredo, foi comemorada por estudantes. "Eu adorei esta idéia de ter aula na rua. No verão é realmente muito quente dentro da nossa sala. Aqui, a gente vai poder sentar em círculo, que é muito legal também. Outra coisa fazia que falta é a árvore frutífera que colocaram no centro do pátio", ressalta a aluna Brenda Casagrande, de 9 anos.

Brenda e seu pai (foto), o comerciário Marcio Mathias, reforçaram o grupo de trabalho e ajudaram a plantar espécies. "A escola devia fazer uma atividade destas por mês. É importante estimular os alunos a usufruir e tirar o máximo de proveito desse espaço verde. Não é qualquer escola que tem isso", acredita o pai de Brenda, que considera fundamental investir na educação ambiental. "A educação a gente dá em casa, não é só na escola. Mas nesse aspecto do meio ambiente, muitas vezes, é a gente que acaba aprendendo com as crianças".

A formação “Reiventando o espaço escolar” é promovida pela SMED e EMEF Rincão e a realização conta com a participação de integrantes do Coletivo Camboim de Educadores - InGá, Coletivo Coisas da Terra, Instituto Arca Verde, Instituto Econsciência e Comunidade do Arvoredo. O Sintrajufe e o Setor de Nutrição da SMED também apoiam a iniciativa.

26.7.11

terça verde

A relação entre segurança alimentar e meio ambiente é tema do próximo “Biodiversidade em foco”, evento que o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá) realiza nesta terça-feira (26), às 19h, na sede da Ong, em Porto Alegre. A atividade contará com a participação dos especialistas Irio Conti (currículo) e Vicente Medaglia (currículo).
A ideia é promover um diálogo sobre a biodiversidade e a soberania alimentar, ambas ameaçadas pelo modelo agrícola baseado na produtividade e no uso intensivo de recursos naturais. “Vamos conversar um pouco sobre os impérios agroalimentários versus a forma camponesa de fazer agricultura”, ressalta Vicente.

Na avaliação do ambientalista, que integra a coordenação do InGá, é preciso somar forças para superar o agronegócio - que até hoje segue a velha cartilha da “Revolução Verde” - e não dialoga com os desafios socioambientais contemporâneos, como acabar com a concentração de terra, valorizar a natureza e levar comida à mesa da população.

Diálogo e participação - Realizado desde 2008, sempre na última terça-feira do mês, o Biodiversidade em foco reúne ambientalistas, estudantes, pesquisadores e ativistas para refletir e conversar sobre temas de interesse coletivo. Gratuito, o evento é aberto à comunidade e uma oportunidade para conhecer um pouco mais sobre o trabalho do InGá.

Serviço:
Biodiversidade em foco

Data: 26.07
Horário: 19 horas
Local: Casarão do Arvoredo (Sede do InGá) - Fernando Machado, 464, Centro Histórico - Porto Alegre.
Mais informações: (51) 3019.8402 ou inga@inga.org.br
Siga a gente no Twitter: @ingazeiro

9.7.11

Professores de POA querem reiventar o espaço da escola


O desejo de aprimorar o ambiente escolar está levando um grupo de 30 professores da rede pública de ensino de Porto Alegre de volta à sala de aula. Há cerca de um mês eles participam de uma formação que propõe aliar educação e sustentabilidade. São abordados temas como o cultivo de hortas agroecológicas no pátio da escola, manejo adequado do resíduos da escola e reaproveitamento de materiais na construção de novos elementos para o pátio escolar.

O conceito de permacultura - que integra saberes populares, ancestrais e a ciência ecológica moderna - é amplamente utilizado na formação. Trata-se de um conjunto de estratégias voltadas à criação de ambientes altamente produtivos, de acordo com a realidade de cada local. "Outro aspecto fundamental no nosso conteúdo diz respeito às relações humanas. Não existe ninguém sentado no conhecimento. O que defendemos é criar uma condição favorável à troca, favorecendo o empoderamento dos colegas acerca do tema", ressalta Mateus Raymundo da Silva, um dos idealizadores da iniciativa.

Organizado por entidades da sociedade civil em parceria com a prefeitura, o curso terá 44 horas/aula, sendo que toda a parte prática será realizada na escola de ensino fundamental Rincão, que atende aproximadamente 500 alunos, na zona Sul da capital.

O professor de ciências Vinícius Machado (foto) está empolgado com o aprendizado e não vê a hora de colocar a mão na massa. "Eu tenho 29 anos de magistério e, apesar das inúmeras dificuldades que enfrentei ao longo desse tempo e de estar no final da minha carreira, me sinto como se estivesse começando", garante. Na avaliação de Vinícius, a escola Rincão possui características que favorecem a aplicação dos conhecimentos adquiridos durante as aulas.

"A escola está situada em uma região que é parte rural e parte urbana. É uma zona de expansão da cidade, mas tem muita área verde. Além disso, a escola está em funcionamento há apenas três anos. Então, vejo que pode ser mais fácil implantarmos uma cultura de sustentabilidade desde agora, do início, do que se fosse uma escola com uma trajetória mais arraigada. Nosso próximo passo é mobilizar os outros professores".

Educação e resistência
As aulas ocorrem duas vezes por semana: nas quintas-feiras à noite e aos sábados, o dia inteiro. Ao que parece, nem o rigor do inverno esfria o empenho dos professores na busca por novos conhecimentos. No último encontro, realizado dia 8 de julho, o termômetro marcava pouco mais de 10 graus nas ruas de Porto Alegre, mas dentro da sede do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), os educadores fervilhavam em ideias. Depois de mais um dia de muito trabalho na escola, eles ainda tiveram pique para se debruçar sobre mapas do pátio escolar e planejar as intervenções que pretendem fazer lá.

A rotina é cansativa, mas vale a pena. A arte-educadora Beatriz Heller (foto) sempre sonhou em construir sua própria casa de adobe e avalia que o curso está sendo proveitoso tanto para sua vida pessoal quanto profissional. "É bem interessante realizar estes estudos de paisagens. Para fazer uma horta, a gente tem que pensar de que lado nasce o sol, quantas horas de luz as plantas terão por dia. Também é preciso identificar de que lado vêm os ventos. Tudo isso faz a gente ver a escola com outros olhos. Parece que depois que eu comecei a fazer este curso, passei a reparar mais nos canteiros e nos espaços como um todo", conta.

Mais jovem do grupo, Cláudio Pinheiro é vizinho e ex-aluno da escola Rincão. Nascido e criado na comunidade, ele não pensa em sair de lá, mas sabe que a qualquer momento a especulação imobiliária, tão comum na região, pode bater à porta da casa da sua família. "Nós temos escolas, campos de futebol e amigos. É um lugar bom de morar, mas muita gente está vendendo os terrenos e indo pra outros lugares. Se continuar do jeito que está, daqui a pouco o Rincão vai ficar igual ao centro da cidade. E o que vamos fazer se os caras têm mais dinheiro que nós?".

Ficar de braços cruzados diante dessa realidade, no entanto, não está nos planos do grupo de professores. "Um dos objetivos desta formação é justamente estimular a comunidade escolar a se ver, se repensar, se sonhar e, principalmente, se transformar", pontua Rosa Maris Rosado, coordenadora de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação. De acordo com ela, outros cursos semelhantes a esse estão sendo realizados na rede pública.

A formação "Reiventando o espaço escolar" é promovida pela SMED e EMEF Rincão e a realização conta com a participação de integrantes do Coletivo Camboim de Educadores - InGá, Coletivo Coisas da Terra, Instituto Arca Verde, Instituto Econsciência e Comunidade do Arvoredo. O Sintrajufe e o Setor de Nutrição da SMED também apoiam a iniciativa.

8.6.11

Assentamento comemora 13 anos de produção orgânica


O ano era 1998, mas o agricultor Almerindo Trevisan lembra como se fosse ontem aquele mês de dezembro em que pisou pela primeira vez na área de 9.500 hectáres situada em Viamão (RS), município da Grande Porto Alegre, que deu origem ao Assentamento Filhos de Sepé.


"Éramos mais de 350 famílias querendo trabalhar na terra. Mudamos de mala e cuia para cá. Ainda não havia amanhecido quando chegamos de ônibus e o tempo estava para chuva. As coisas da gente chegaram horas depois, de caminhão, e nós armamos nossos barracos de lona debaixo d'água", recorda.


As moradias improvisadas permaneceram de pé por sete meses, até o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) regularizar a situação dos lotes de cada família. "Nós chegamos aqui com muitos sonhos e pouca experiência. Tínhamos a ideia de logo montar uma cooperativa mas só conseguimos fazer isso bem depois", detalha seu Almerindo, que trabalha no campo desde menino e garante que nunca pensou em desistir.

"Eu tenho 58 anos e sempre batalhei pela produção orgânica. Hoje tem muita gente que reconhece a importância disso, mas noutros tempos não era bem assim e a gente era taxado de louco, inclusive aqui, dentro do Assentamento" conta Almerindo.

Segundo ele, no início as divergências entre os assentados foram um entrave. Tanto que a briga por um modelo de desenvolvimento agrícola auto-sustentável, com a preservação dos recursos naturais, extrapolou os limites do assentamento e teve que ser levada ao Ministério Público.



"A vitória veio para o lado de quem manteve o compromisso de produzir orgânico e de quem botou o assentamento acima dos interesses individuais", sustenta.


O saldo dessa disputa judicial, relata seu Almerindo, é que algumas famílias foram embora e outras tiveram que aderir à produção livre de agrotóxicos. Não poderia ser diferente: todo o assentamento está localizado numa reserva ambiental que leva o nome de "Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos”, com aproximadamente 2.500 hectáres de Áreas de Preservação Permanente, com diversas nascentes, açudes e cursos de água.

"Foi uma situação complicada, tivemos que botar a cara para bater, mas deu certo: depois disso conseguimos montar a cooperativa e fugimos das mãos dos travassedores", afirma. 




Hora da colheita
De acordo com o técnico agrícola que atua no local, Edvane Portela, após a formalização da Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária (Coperav), da qual participam 62 famílias, a produção de arroz orgânico foi fortalecida.



"Este ano tivemos nossa safra recorde, com 80 mil sacos de arroz", comemora Edvane. Além do arroz, os agricultores se dedicam à horticultura (na foto ao lado), ao plantio de frutas e à produção de leite, carne e ovos. O próximo passo, aponta Edvane, é investir numa agroindústria para o beneficiamento de artigos como mel, queijos e embutidos.

Diferente de outros assentamentos que se deparam com o obstáculo do escoamneto da produção, a localização privilegiada do Filhos de Sepé facilita o comércio dos produtos. "Estamos na Região Metropolitana, que é o maior parque consumidor do Estado", pontua Edvane.



No entanto, ainda é preciso melhorar na gestão administrativa da cooperativa. Atualmente, a maior parte das vendas é feita para a Companhia Nacional de Abastecimento.


Construção da padaria
A alimentação escolar também é um mercado importante para o assentamento, já que a Lei Federal 11.947, de 2009, determinou que a rede pública de ensino deve priorizar a aquisição de produtos da agricultura familiar para oferecer aos alunos.

Desse novo nicho também nasceu a necessidade de montar um padaria e, desde o ano passado, um grupo de 10 mulheres assentadas está a frente do empreendimento. "Nós fazemos cucas, biscoitos e pães para os colégios. A padaria abriu um novo horizonte para mim e estou muito feliz com o que eu faço", conta a trabalhadora Solange Pietroski.

Na avaliação de seu Almerindo, o Filhos de Sepé está vivendo o seu melhor momento. "Temos uma visão de futuro e ela é de muito trabalho. Passamos por uma perseguição e tivemos uma briga feia na disputa de projetos. Agora, o caminho é continuar vivendo da terra e produzindo", defende o agricultor.

Satisfeito, ele levanta da cama todos os dias antes das seis horas, toma seu chimarrão, um bom café da manhã e parte para a labuta diária, um trabalho que vai até o cair da tarde e inclui cuidar de plantações e de animais. "Quando chegamos aqui eu era um homem cheio de esperanças e hoje continuo um homem cheio de esperanças", garante.

2.6.11

Educadores gaúchos aprendem com assentados


Mais de 60 professores da rede pública de ensino do Rio Grande do Sul foram ao Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, nesta quinta-feira (2), para conhecer a produção agroecológica local e debater estratégias de educação ambiental dentro e fora da sala de aula. A atividade começou cedinho, com um delicioso café colonial e marcou as comemorações do Dia do Alimento Orgânico.

"Nós queremos que os professores vivenciem a realidade do campo, que provem alimentos livres de agrotóxicos e reflitam sobre a importância de uma alimentação saudável", destaca a professora Olga Justo, que coordena o Fórum Permanente de Educação Ambiental - grupo criado em abril deste ano com o objetivo de estimular o ensino de práticas sustentáveis nas escolas e comunidades da Grande Porto Alegre.

Ainda pela manhã, os professores foram conhecer a horta do assentamento e participaram de palestras sobre temas relacionados à organização dos trabalhadores rurais, alimentação escolar de qualidade e legislação sobre transgênicos e uso de agrotóxicos.
O representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Leonardo Magarejo, alertou sobre a necessidade de buscar informações sobre os alimentos disponíveis nas prateleiras dos supermercados. "Temos que manter o princípio da precaução. Ainda não é possível dimensionar exatamente os prejuízos dos alimentos transgênicos, mas não podemos de jeito nenhum assumir a falta de informação como sinônimo de que não há perigo".


O debate também levantou a importância do papel dos educadores na formação de uma sociedade que assuma sua responsabilidade com o meio ambiente, numa perspectiva que vá desde o incentivo à alimentação saudável por parte das crianças e adolescentes até questões mais amplas como a coleta seletiva do lixo, o estímulo à economia solidária e o consumo responsável.


O presidente da Associação dos Produtores de Arroz Ecológico, Leonildo Zang, foi direto ao ponto. "A sustentabilidade é uma responsabilidade de todos e cada um de nós é importante nessa caminhada. Não tem governante que seja mais importante do que nós, professores e trabalhadores do campo. Nós temos em comum o fato de que muitas vezes não somos valorizados, mas não podemos perder nosso foco. A nossa visão é de futuro. Sou eu quem produz o alimento saudável que chega na mesa das famílias e são vocês que ajudam a formar nossas crianças".


Trajetória de luta
Fundado em 1998, o Assentamento Filhos de Sepé tem uma área de 9.500 hectares, onde vivem e trabalham 365 famílias de pequenos agricultores. De lá para cá, os trabalhadores tem se empenhado em desenvolver uma produção 100% orgânica, enfrentando o padrão de agricultura baseado na quantidade e no lucro.


A sustentabilidade financeira do assentamento é garantida principalmente pela Companhia Nacional de Abastecimento mas, de acordo com o agricultor Huli Zang, que é diretor da Cooperativa local, a Lei Federal 11.947, que prioriza a aquisição de produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar, abriu um novo mercado para o assentamento. "Antes, quem comprava o nosso arroz integral era só quem tinha um poder aquisitivo um pouco maior, agora o alimento saudável está chegando em quem mais precisa, que é a comunidade escolar da rede pública".


A principal fonte de renda provém do arroz, mas a economia local é baseada na diversidade, com a comercialização de itens como ovos, queijo, frutas, carne e leite. Outra conquista trazida pela demanda da merenda escolar foi a criação de uma padaria liderada por mais de 10 mulheres do assentamento.


A trabalhadora Solange Pietroski é uma delas: "Eu tenho 52 anos e lido na roça desde que pude carregar o peso da enxada. Estes anos têm sido de muitas batalhas. A padaria abriu um novo horizonte para mim. Estamos aprendendo muito umas com as outras e posso dizer: a nossa luta valeu a pena e que eu amo o que faço", comenta.

8.3.11

guatemaltecas exigem combate à violência

milhares de mulheres do campo e da cidade foram às ruas da capital guatemalteca nesta terça-feira para requerer respeito aos seus direitos. a concentração começou cedinho, em frente à sede administrativa do município, e às 9 horas as manifestantes já marchavam em direção aos principais centros de poder do país.

o combate à violência contra a mulher foi uma das reivindicações centrais do movimento. pudera: nos dois primeiros meses de 2011, o país contabilizou mais de 100 casos de feminicídio. ano passado, quase 700 mulheres foram vitimadas por esse crime.

sem dúvida, o principal aliado dos assassinos é o sistema judiciário: dos 153 casos de morte de mulheres que chegaram aos tribunais guatemaltecos, apenas 25 receberam sentença condenatória.  

enquanto a justiça tarda, os agressores correm soltos: 14 mulheres foram assassinadas na guatemala apenas no último fim de semana - uma estatística que, naturalmente, assombra a população feminina do país. 
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assombra, mas não cala - como deixaram claro as guatemaltecas neste 8 de março.

8 de março na guatemala

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nós, mulheres

ofereço minhas mãos às mulheres lutadoras do mundo inteiro. agradeço as nossas antecessoras pelas conquistas até aqui. não retrocederemos nenhum passo na luta diária de ser mulher. 

vamos juntas na direção de novos desafios. somos intransigentes diante da injustiça e da desigualdade. não toleramos maus tratos e estamos empenhadas em romper o silencio da violência. 

não nos conformamos em ser objetos sexuais. somos absolutamente intolerantes com a submissão, repudiamos intimidações e buscamos exercer nossa cidadania plenamente. 

estamos empenhadas na desconstrução de velhos paradigmas de gêneros. ao longo de toda a história, superamos obstáculos, medos, preconceitos e transgredimos em nome da evolução da humanidade.

assim caminhamos. cada vez mais cientes dos nossos direitos, não nos intimidamos: estamos comprometidas com um mundo mais justo para esta e as próximas gerações.

14.2.11

macho, barão, masculino

ainda sobre a red iberoamericana de masculinidades, tive a oportunidade de participar do lançamento da obra "macho, varón, masculino - estudios de masculinidades en cuba", durante a feira do livro, aqui em havana. a publicação é assinada pelo professor julio cézar gonzález pagés e resulta de 15 anos de experiência de trabalho com homens latinoamericanos.

maikel colon pichardo (abaixo, à direita) é um dos fundadores da rede. "posso dizer que minha vida deu um giro de 360 graus quando entrei em contato com este tema e mudei muito como homem, na relação com minha família e com as mulheres. somos educados para ser um produto da sociedade machista e sequer nos damos conta disso, o que dificulta muito mudar esta mirada", acredita.

maikel mora com sua mãe e sua avó na cidade de havana e conta que elas receberam com estranheza a sua mudança de comportamento acerca da sua masculinidade. "custou um pouco até que elas compreendessem, mas logo perceberam que a minha mudança estava sendo para melhor. tudo o que não se encaixa no modelo de como deve se comportar um homem é visto com certo preconceito".

na opinião de yonner angulo rodríguez, (na foto à esquerda) que também é pesquisador da rede, é fundamental aportar uma visão desde ambos os sexos no debate sobre a construção sociocultural das atribuições de homens e mulheres. "não se trata de vitimizar os homens e sim de criar uma nova identidade de gênero", sintetiza.

para yonner, o mais complicado nisso tudo é desmoronar a cultura machista. "o que propomos é algo que supostamente quitaria alguns 'privilégios' dos homens, que acreditam que os papeis que tantos eles quantos as mulheres assumem têm a ver com a 'natureza' de cada um".

na avaliação dos pesquisadores, essa redefinição de masculinidades é uma tarefa diária. "aos poucos vamos encontrando os melhores espaços e descobrindo as melhores formas de comunicar esse novo entendimento. meu desejo enquanto membro do grupo é lograr que as pessoas que estão no meu entorno possam mudar um pouco a sua compreensão sobre essas questões", destaca yonner.

13.2.11

missão evolucionária

é uma questão de natureza feminina: as mulheres são mais emocionais do que os homens e pronto! somos graciosas, delicadas, choronas. os meninos, por sua vez, são mais racionais: não devem admitir fraquezas e tampouco é permitido que expressem seus sentimentos.

que atire a primeira pedra quem nunca ouviu ou reproduziu este tipo de comentário por aí. o modelo de como as mulheres e os homens devem se comportar é tratado com tanta naturalidade que nos parece uma verdade universal incontestável. ou seja: é óbvio que os meninos já nascem gostando de azul enquanto nós, mais meigas e amenas, preferimos cor-de-rosa.

na infância, eles saem para brincar na rua. já as meninas devem se contentar com o pátio de casa. se tropeçamos e caímos, logo alguém nos acode com ternura e um bocado de mimo. em contrapartida, quando são eles que se machucam, o que ouvem é uma represália acompanhada de uma frase ilustre e que possivelmente lhes custará caro por toda a vida: homem não chora.

refletir sobre este padrão hegemônico de masculinidade é um dos objetivos da red iberoamericana de masculinidades, que busca também propor alternativas para mudar o conjunto de ideias, crenças e representações socioculturais que pretendem definir o que um homem deve ser e como deve se portar.

aqui em cuba tive contato com o coordenador geral dessa rede, o historiador julio cézar gonzález pagés, que tem nos brindado com aulas e conversas superinteressantes acerca deste tema durante o curso de comunicação e gênero.

tratam-se de assuntos que não estamos acostumados a questionar mas que afetam, e muito, as nossas relações interpessoais. são regrinhas sociais que muitas vezes acabam oprimindo o que temos de mais genuíno em cada indivíduo e que se transformam num entrave para o nosso desenvolvimento humano.

despachadas até certo ponto
posso estar absolutamente errada mas, baseada na minha experiência pessoal, tenho a impressão de que nós, mulheres, estamos mais acostumadas a questionar as imposições sociais a que somos submetidas. bueno, esta aí o movimento feminista que obteve tantas conquistas e não me deixa mentir.

claro, temos um montão no que avançar, mas estamos inegavelmente mais independentes do que foram nossas avós.
paradoxalmente, reparo que ao mesmo tempo em que lutamos pela nossa autonomia, ainda esperamos que os homens cumpram com suas "funções".

despachadas que somos, até topamos rachar a conta, mas no fundo ainda esperamos que os verdadeiros mantenedores econômicos da casa sejam eles. de alguma maneira, exigimos que sejam nossos provedores de segurança, que estejam sempre dispostos ao sexo e que nos tratem como as princesas que fomos educadas para ser.

enfim, ainda falta muito tijolo e cimento na construção de uma nova visão de feminilidades e masculinidades
. e para mim parece cada vez mais improvável que homens e mulheres consigam fazer isso separadamente. e não estou falando de feitos grandiosos com impactos globais e sim de pequenas revisões nas nossas atitudes mais ordinárias.

talvez o que nos falte seja firmar um verdadeiro pacto entre os gêneros - um mutirão cotidiano de machos e fêmeas comprometid@s com a evolução da humanidade.



14.1.11

bancos comunitários


criados com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento local, os bancos comunitários ganham força e se multiplicam pelo país. tratam-se de instituições financeiras gerenciadas por moradores de bairros de baixa renda de todo o brasil e que têm conseguido melhorar a vida de muita gente.

eu sou fã-confessa desses bancos e já tive a oportunidade de conhecer alguns espalhados pelo país. o assunto também foi tema da um painel realizado na 9ª expo brasil desenvolvimento local, evento no qual frilei lá no rio - feliz da vida - mais uma vez este ano.

quem esteve lá conosco foi o joaquim melo, idealizador do banco palmas - que funciona há mais de 10 anos em fortaleza (ce) e já reaplicou sua metodologia em 51 comunidades.

“cada um desses bancos tem sua estratégia, seu conselho gestor e sua moeda social”, destacou joaquim, que também preside a rede brasileira de bancos comunitários. de acordo com ele, um dos principais requisitos para montar a instituição é a participação dos moradores e o controle social.

crédito facilitado

exigências como renda declarada em folha e tributos elevados afastam cerca de 70% da população brasileira do sistema financeiro tradicional. por isso, a principal diferença dos bancos comunitários para os oficiais é que eles não visam o lucro. em vez disso, apoiam o desenvolvimento local integrado por meio do financiamento a pequenos grupos produtivos.

o crédito aos empreendimentos é associado às contrapartidas sociais, como oferta de empregos para jovens da própria comunidade. para empréstimos em real, a taxa de juros fica sempre abaixo da praticada pelo mercado. além disso, em moeda social não há cobrança de juro.


de acordo com joaquim, o primeiro passo é fazer um levantamento socieconômico do bairro para descobrir nichos de negócios. "não adianta a gente emprestar recursos para o morador abrir um supermercado se na mesma rua em que ele mora já existe um estabelecimento desse tipo", defende.

moeda alternativa

além de incentivar a produção local, outro ponto importante é estimular que a população gaste o dinheiro no próprio bairro e é por isso que cada banco também possui sua própria moeda. o objetivo da moeda social é incentivar a compra de bens e serviços produzidos na comunidade, movimentando a economia do território.

para cada moeda social emitida, deve existir, no banco comunitário, um valor correspondente em moeda oficial. a circulação da moeda alternativa é livre no comércio local e todas as pessoas cadastradas no banco comunitário podem trocar a moeda social por real, caso queiram fazer uma compra ou pagamento fora do município ou bairro.



a foto que ilustra este post lá em cima foi feita por mim mesma =), acho que em 2008, durante os 10 anos do banco palmas.

10.1.11

artesã do conhecimento livre


eu conheci a artesã nelly carvalho (na foto, à direita) há mais de um mês, durante um frila que fiz lá no rio. fiquei tão encantada com ela que acabamos conversando por um tempão. aos 74 anos, dona nelly olha para o seu passado com orgulho da vida que levou, se enreda pelos becos das histórias boas de contar e vislumbra muitas conquistas pela frente.

com 63 anos de profissão e militância em defesa dos direitos da sua categoria, essa senhora de mãos hábeis e mente inquieta não titubeia ao responder sobre o seu maior sonho: "depois de todos estes anos sustentando minha família com o artesanato, hoje tenho que conviver com o fato de ser aposentada como comerciante. o meu sonho é que outros trabalhadores não tenham que acabar assim".

engana-se quem pensa que isso é um lamento. dona nelly faz da luta pela regulamentação da sua profissão uma motivação diária. presidenta do sindicato intermunicipal de artesão do noroeste fluminense, vira e mexe ela reúne seus camaradas e vai a brasília acompanhar de perto a tramitação arrastada do projeto de lei 3926/o4, que institui o estatuto do artesão.

com energia de sobra, dona nelly arregaça as mangas e não desperdiça nada: ela também lidera um grupo de artesãs que passa o conhecimento adiante, ensinando trabalhos manuais e
ecologicamente responsáveis à mulheres que vivem em zonas rurais e assentamentos da reforma agrária. "a gente mexe com um pouco de tudo: fibras, palha de milho, garrafa pet, bordados e que mais você possa imaginar", conta.

sangue de artesã
filha de mãe a pai artesãos - e comunistas -, dona nelly pegou os filhos pela mão e levou pelo mesmo caminho. "todos eles têm talento e produzem alguma coisa artesanal, apesar de terem se formado em outras áreas". a preocupação da nossa artesã sem-carteirinha é fazer sua profissão seguir em frente, mas numa perspectiva mais solidária, em que se valorize o trabalho coletivo.

"nós, artesãos, somos muito individualistas. ainda temos este medo de antigamente de passar o nosso conhecimento para os outros. já está mais do que na hora de aprendermos a trabalhar de forma cooperada. e é por isso que nossas oficinas são voltadas para a capacitação de multiplicadoras. cada mulher que aprende tem também o compromisso de ensinar", garante.


foto: kenia ribeiro

9.1.11

acervo digital da cultura negra



a participação do negro na construção do brasil começou há 500 anos e mesmo assim essa história permanece mal contada. contribuir para reverter esse quadro é o objetivo do acervo digital da cultura negra (cultne), que
traz narrativas sobre a trajetória do negro no brasil na perspectiva da população afrodescendente.

o conteúdo é diversificado e passa por áreas como esporte, cultura e política. tratam-se de vídeos de grupos artísticos, depoimentos de diversas personalidades, cobertura de eventos, festas populares e documentários sobre temas como o centenário da abolição, a atuação da frente negra brasileira e a conferência mundial contra o racismo na áfrica do sul.

o material está diponível para pesquisas e downloads e todo mundo pode samplear tudo, no melhor estilo colaborativo da web - desde que a edição não tenha fins lucrativos, naturalmente. além de assistir, a gente também pode enviar materiais sobre o tema, em formato digital ou analógico.

aqui abaixo, deixo dois vídeos: um é o da posse da primeira diretoria do centro de mulheres de favela e periferia. o outro é um lindo doc sobre as divas negras do nosso cinema. isso, porque eu realmente acredito que a revolução é feminina, negra, digital e vem de bicicleta!






o acervo está disponível no sítio www.cultne.com.br.


22.12.10

gol contra

pro brasil realmente bater um bolão na copa de 2014, a gente precisa combater os prejuízos sociais desse megaevento desde já. a própria onu já alertou: atividades desse porte podem resultar em diversos tipos de violações aos direitos humanos, em especial o direito à moradia. a fifa deu de ombros.

de olho nessa questão, o ingá - instituto gaúcho de estudos ambientais - realizou um debate sexta-feira passada na sua sede, em porto alegre. a atividade ocorreu dentro de um curso sobre áreas rurais e naturais da capital e contou com a participação de eduardo solari, uma das lideranças da ocupação utopia e luta, no centro da cidade.


por todo o país, a especulação imobiliária já começa a mostrar suas garras: aluguéis mais caros, remoções de famílias que vivem em supostas áreas de risco e todo o tipo de pressão sobre a população mais pobre que mora em áreas consideradas nobres e que acaba sendo empurrada para a periferia.


independente da nossa vontade, a copa está aí e, ao que parece, a fifa não está nem um pouquinho interessada com os ganhos sociais dos brasileiros. fiquei feliz de ver os movimentos ambiental e o de luta por moradia lado a lado em porto alegre.

ano novo, vida nova. governadores novos, presidenta nova: o negócio é fazer muito barulho. a copa pode, sim, ser uma tragédia, mas também pode ser uma oportunidade para os movimentos sociais de diversas áreas se unirem e fortalecerem sua atuação em rede na garantia dos direitos.