a música que agora
tange meu peito,
aviva as artérias,
batuca amiúde
e ressona
sibilante
pelo estreito porão
onde se acotovelam
saudades e lembranças
de tudo aquilo
que poderíamos ter sido
e não fomos.
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30.5.14
5.4.13
som de marina
e se eu mudar o começo?
se eu romper madrugada
atando noite no dia?
e se eu me perder pelos becos
das tantas vãs romarias?
e se ao chegar na enseada
dobrasse eu outra esquina...
e se depois de um tropeço
viesse o som de marina?
e se ao calar batucada
viesse o olho que mira
e se, depois de uma olhada,
viesse o verso que inspira?
e se não fosse o começo
mas o correr de uma gira?
e, se bem mais que tropeço
fosse o andar de quem anda
levando o som de marina
para o dançar de fernanda?
27.3.13
bioconstrução
a arquitetura
do amor
comporta
a complexidade
que edifica e desmorona
o que há
de mais humano
em cada
indivíduo.
imagem: enfance
26.3.13
c i r c u n s p e t o
te quero
sem que
n i n g u é m
veja
.e mesmo
q u e
q u e
alguém visse,
duvido que
conseguisse
traduzir a
e s q u i s it i ss e
deste amor que lampeja
e arde...
(s e m a l a r d e s)
.
discreto,
duvido que
conseguisse
traduzir a
e s q u i s it i ss e
deste amor que lampeja
e arde...
(s e m a l a r d e s)
.
discreto,
21.3.13
passarela
.
.
.
.
.
.
.
se a poesia soubesse
quanta graça ela tem,
rebolaria um bocado
pela prosa que é dela,
apenas dela, só dela,
de mais ninguém.
..
.
6.3.13
instinto
primeiro, sucumbi
aos teus dedos.
me rendi
ao teu cheiro.
pressenti o calor
do teu corpo.
quis saber
dos teus planos.
mais tarde, me ajoelhei diante da tua poesia.
e era como se houvesse um bicho dentro de mim.
aos teus dedos.
me rendi
ao teu cheiro.
pressenti o calor
do teu corpo.
quis saber
dos teus planos.
mais tarde, me ajoelhei diante da tua poesia.
e era como se houvesse um bicho dentro de mim.
1.3.13
coragem

tinha as mãos escalavradas
de tanto arar chão ao futuro.
a pele carquilhada do rosto
predizia malogradas quimeras.
aparentava mais de 100 anos!
trazia os pés carcomidos,
três netos descalços, maletas
e sacolas surradas a tiracolo.
os olhos opacos esperavam
um ônibus que não chegava nunca.
iam não sei pra onde,
tampouco viver do quê.
mas iam tão unidos
que se diria que tinham um pacto.
um juramento de sangue.
o mais novo subia no banco improvisado,
puxava o vestido florido da mulher,
gritava qualquer coisa e descia.
havia pó para todos os lados...
ela, enternecida, sorria banguela
para o moleque traquinas.
e eu sentia remorso por ter dentes.
fazia seca naquele sertão de mim.
e todo meu corpo doía de ver
aquele outro corpo cansado,
aquele tronco truncado,
aquela fome vencida
pelo vigor da esperança
que o meu humano desconhecia.
minhas crenças,
minha natureza,
minha compaixão tardia...
quanta conivência pode haver na inocência?
eu me perguntava naquela tarde
de sol e terra rachada
que ainda hoje arde nos meus dias.
uma tarde de vento nulo
que a tudo desvanecia.
meu deus, de alguma forma,
aquela mulher chovia.
25.2.13
alada
corriqueira, sem glamour,
mundana dentro do lar.
as listras do meu pijama
escorrem gotículas no chão.
tocam discos, panelas,
varais, placas de rua,
aspirador, aqui dentro,
do lado de lá.
chove estrelas no corredor!
queima o sol, inunda a sala.
arara, livros, ventilador
dançam livres até cansar.
entocada, descabida.
fecho a porta, abro as asas.
.
não é aquário, é mar!
imagem surrupiada da fantástica Mariana Belém -> aqui.
20.4.12
calentura
pintó su boca de carmin
se despojó delicadamente
se echó en la cama
alistó sus manos
se enredó en las sábanas y devoró
en un sólo aliento
el libro
tesão
lambuzou-se de batom vermelho.
despiu-se delicadamente.
estendeu-se sobre a cama,
preparou as duas mãos,
enroscou-se pelos lençóis e devorou,
num só fôlego,
o livro.
.
.
.
16.11.11
linguagem
a palavra estala
na ponta da língua:
desejo.
a boca se abre,
quer libertar-se:
lampejo.
o som toca o ar,
revela o silêncio:
segredos.
ruídos se atrevem,
rompem a carne:
selvagens.
meus olhos atentos
te buscam sem erro:
no ouvido.
tua mão desafina,
confunde o caminho:
me toca.
tua língua entende,
engole a saliva:
garganta.
tua voz se levanta,
espanta meus ecos:
ruídos.
teus dedos conduzem
a nossa conversa:
avançam.
me enlaçam a cintura,
coxas e seios:
vacilam.
sou pura dúvida,
não ouso dizer-te:
receio.
contamos estrelas,
velhas histórias:
nem creio.
suspendo as roupas,
verdades são nuas:
miragem.
e roço com gosto
minha fala na tua:
linguagem.
.
.
.
27.9.11
tesão
.
lambuzou-se de batom vermelho.
despiu-se delicadamente.
estendeu-se sobre a cama,
preparou as duas mãos,
enroscou-se pelos lençóis e devorou,
num só fôlego,
o livro.
.
.
7.9.11
ordinária
me convide para atividades cotidianas
como fazer e servir jantar,
beber vinho e lavar a louça.
não estou interessada em sofisticação.
nada que não seja natural me atrai.
estou disposta a caminhar por aí,
conversando sobre as coisas simples
que edificam a vida.
a vida feito um barraco de papelão,
repleto de recordações.
quero saber de medos, anseios,
contas atrasadas e flores do mato.
nada de rosas embrulhadas
ou mimos que não venham das mãos.
desejo as mãos, elas próprias.
com toda suavidade e ansiedade que carregam
nos dedos. desejo os dedos
nos cabelos, na nuca, por dentro.
desejo por dentro:
esta coisa de ser quem se é.
nada de taquicardia futura.
zero vida para depois.
apenas dias ordinários.
sem matizes que desperdiçam sonhos
nem delírios da abstração.
somente coisas mundanas,
brutas, corriqueiras
e imperfeitas.
como fazer e servir jantar,
beber vinho e lavar a louça.
não estou interessada em sofisticação.
nada que não seja natural me atrai.
estou disposta a caminhar por aí,
conversando sobre as coisas simples
que edificam a vida.
a vida feito um barraco de papelão,
repleto de recordações.
quero saber de medos, anseios,
contas atrasadas e flores do mato.
nada de rosas embrulhadas
ou mimos que não venham das mãos.
desejo as mãos, elas próprias.
com toda suavidade e ansiedade que carregam
nos dedos. desejo os dedos
nos cabelos, na nuca, por dentro.
desejo por dentro:
esta coisa de ser quem se é.
nada de taquicardia futura.
zero vida para depois.
apenas dias ordinários.
sem matizes que desperdiçam sonhos
nem delírios da abstração.
somente coisas mundanas,
brutas, corriqueiras
e imperfeitas.
6.9.11
autenticada
minha rima é fraca
minha casa não é própria
a cintura é mal feita
meus seios não apontam saturno
eu nem sei passar batom!
trabalho nos dois turnos
não acredito no tempo
sem espaço ou intesidade
a cintura é mal feita
meus seios não apontam saturno
eu nem sei passar batom!
trabalho nos dois turnos
não acredito no tempo
sem espaço ou intesidade
.me julgam sem argumentos
de parca credibilidade
meu ex é um babaca
o atual, pilha fraca
o seguinte, atrasado
não esbanjo longas madeixas
meu pezinho não é de gueixa
de parca credibilidade
meu ex é um babaca
o atual, pilha fraca
o seguinte, atrasado
não esbanjo longas madeixas
meu pezinho não é de gueixa
meus olhos não são azuis
e minha conta vive no vermelho
eu tenho insônia
e sofro de renúncia!
minha caligrafia é torta!
não endureço nem morta!
e minha conta vive no vermelho
eu tenho insônia
e sofro de renúncia!
minha caligrafia é torta!
não endureço nem morta!
mostro os dentes
(e escondo uns medos)
na escola, fui má companhia
e ainda há os que confundam
minha alegria com mil ousadias!
sou pura melancolia...
(e escondo uns medos)
na escola, fui má companhia
e ainda há os que confundam
minha alegria com mil ousadias!
sou pura melancolia...
.convivo com azia
o pandeiro não me obedece
o cobrador não me esquece
coloco meu coração na mesa
pra que cortem suas fatias
rogam que fico pra tia!
.
o pandeiro não me obedece
o cobrador não me esquece
coloco meu coração na mesa
pra que cortem suas fatias
rogam que fico pra tia!
.
sou tomada de defeitos
meu bamboleio é quadrado
meu fluxo, desregulado
detesto dar satisfação!
não ofereço segurança
cada qual com sua dança!
meu bamboleio é quadrado
meu fluxo, desregulado
detesto dar satisfação!
não ofereço segurança
cada qual com sua dança!
.
e puxa! como me cansam
as coisas definidas, fixadas,
estáveis e estabelecidas!
desde sempre é assim:
minha borracha se desmancha
em tanto erro e engano.
.
as coisas definidas, fixadas,
estáveis e estabelecidas!
desde sempre é assim:
minha borracha se desmancha
em tanto erro e engano.
.
eu não tenho técnica
desconheço a métrica
minha prosa engana
não sou boa de cama
e sempre levo a fama!
desconheço a métrica
minha prosa engana
não sou boa de cama
e sempre levo a fama!
7.8.11
benção da morada
para saudar a casa nova,
uma poesia para a casa velha:

a casa me distrai com suas poeiras e novidades. tenho intimidade com seus cantos. e componho com seus silêncios.
nada na casa me estranha:
meto a mão por toda a parte.
reviro cada uma das gavetas, mudo a lógica dos seus amários.
e planto:
ideias, avencas, rotinas.
a casa não sabe por onde eu ando. nem desconfia o quanto eu sinto vontade dela.
a casa toda vazia acende em mim uma vela.
sua calmaria me abduz mais que a buzina das ruas, e da janela se vê uma praça.
árvores, joão de barro,
gente que fica e que passa.
a casa bem que podia, fazer inda mais minha alegria,
criar meia dúzia de asas.
4.8.11
sementeira
ao sabor das tuas lástimas,
rompi a propriedade.
à margem de tuas eiras,
livrei o sal das lágrimas,
lavrei a terra seca.
e ali, na dianteira,
findo o nosso contrato,
sementei de fino trato
as migalhas e os farelos:
hortelã, dálias, marmelos,
flores, anis,
trepadeiras...
nos meus campos,
alumiados de esperança,
reza chuva e contradição.
a natureza não censura
e não é preciso jura
para que sonhos, margaridas,
malaguetas e limão brotem
do mesmo chão.
onde antes era nosso
hoje há um muro entre planetas
num, valem palavras
noutro, só vale e canetas.
rompi a propriedade.
à margem de tuas eiras,
livrei o sal das lágrimas,
lavrei a terra seca.
e ali, na dianteira,
findo o nosso contrato,
sementei de fino trato
as migalhas e os farelos:
hortelã, dálias, marmelos,
flores, anis,
trepadeiras...
nos meus campos,
alumiados de esperança,
reza chuva e contradição.
a natureza não censura
e não é preciso jura
para que sonhos, margaridas,
malaguetas e limão brotem
do mesmo chão.
onde antes era nosso
hoje há um muro entre planetas
num, valem palavras
noutro, só vale e canetas.
.
.
.
30.7.11
bruxas
a bruxa ambientalista
recusa embalagens,
consome consciente
e recicla revista.
a bruxa ambientalista
quer que a terra não tenha dono.
compra do produtor
e neutraliza seu carbono.
XX
a bruxa politicamente correta
anda de régua na mão
em postura sempre alerta:
não diz que sim
nem que diz não,
critica qualquer palavrão
e anda de bicicleta.
XX
a bruxa moderna
quebrou a vassoura,
vendeu o castelo
e cortou as madeixas.
a bruxa moderna
agora é loura,
e só calça chinelo
nas aulas de gueixa.
XX
a bruxa contemporânea
não quer saber de feitiço
ou desamor.
só da brisa litorânea,
e de um certo mestiço
de salvador.
XX
a bruxa do século XXI,
faz mandinga pra ogum,
cozinha em panela de inox
e usa computador.
a bruxa do século XXI,
bate tambor no olodum,
aplica botox
e voa no aspirador.
a ilustração deste post é da tati rivoire.
4.7.11
trançados
trança teus dias nos meus
e recosta mansamente tua cuca
no travesseiro.
haverá sempre algo de igual
mas nenhum dia será como o outro,
eu te prometo.
e meto os dedos em ti.
e recosta mansamente tua cuca
no travesseiro.
haverá sempre algo de igual
mas nenhum dia será como o outro,
eu te prometo.
e meto os dedos em ti.
5.5.11
reconhecidos
esta gente sonhadora
que caminha ávida
pelas ruas do mundo é,
ao meu modo,
um pouco minha
pois a cada tropeço
reconheço
no braço estendido
um velho desconhecido
18.4.11
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