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29.5.14

bordando a vida na áfrica

e não é que a vida me trouxe para moçambique

quando a gente chega para viver num país que não conhece, podemos ter pelo menos duas reações imediatas: estranhamento ou encantamento. muitíssimo felizmente, maputo me acolheu com a segunda opção. a convivência com a cidade tem sido uma caminho de boas surpresas! 

gostei da arquitetura, do clima, da culinária e, sobretudo, das pessoas. =)

um dos primeiros lugares que conheci foi o centro cultural franco-moçambicano, onde se pode almoçar, visitar exposições, mostras de cinema ou estudar francês. lá, conheci a obra do artista português são paixão, que trabalha essencialmente com bordados. 

o trabalho dele é um festival de cores e texturas que ampliou meu conceito sobre esta técnica. pena que as fotos a seguir não conseguem traduzir a vibração da obra dele. mas pelo menos dá para ter uma ideia. ;)

"enamorados", bordado à mão 
" última ceia"
"aldeia comunal"






27.7.11

meio ambiente e soberania alimentar

A segurança alimentar é direito fundamental do ser humano e assegurá-lo é dever do Estado. Colocar isso em prática, no entanto, continua sendo um desafio. No mundo inteiro, as leis do mercado parecem falar mais alto: enquanto 1 bilhão de pessoas passa fome, o preço da comida não para de subir. Nessa luta pela sobrevivência, a qualidade dos alimentos acaba ficando em segundo plano. No Brasil, a realidade não é diferente: embora a agricultura seja uma das principais bases econômicas do país, a maior parte da terra fica na mão dos latifundiários e 16 milhões de pessoas vivem em situação de extrema pobreza.
Debater sobre os caminhos e perspectivas para superar o desafio de garantir o direito à alimentação para a população foi tema do Biodiversidade em Foco, atividade realizada na noite desta terça-feira (26), na sede do Instituto de Estudos Ambientais (InGá), em Porto Alegre. Cerca de 15 pessoas participaram do bate-papo, que contou com a participação dos especialistas Irio Conti (currículo) e Vicente Medaglia (currículo)O combate aos monopólios e o fortalecimento da agroecologia, com suas redes de produção e consumo, estiveram entre os principais pontos da discussão.

25.11.09

Sustentabilidade

Começa logo mais, às 11 horas, no Anhembi (SP), a oitava edição da Expo Brasil de Desenvolvimento Local. Ainda hoje, às 14h30, ninguém menos que Ignacy Sachs fará a palestra “Mudando rumos: condenados a inventar”. Amanhã à tarde, quem pinta no evento para nos falar sobre “Territórios sustentáveis: a transição para uma sociedade pós-carbono”é a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

O tema central da Expo 2009 é "cidades sustentáveis" e serão debatidas e apresentadas experiências nas áreas de economia solidária, direitos da criança e do adolescente, protagonismo comunitário, mídia, acessibilidade e mobilidade, entre muitos e muitos outros. São mais de 50 atividades como oficinas, palestras, mesas-redondas e não sei mais o quê. Isso sem falar na riqueza diversa do público: mais de 3 mil pessoas de sete países.

Ou seja: eu vou ferver muito até sexta-feira!!!
A programação completa está aqui.
\o/

18.9.09

Alta costura com requinte de transformação social

desfile3Ainda sobre o mesmo tema do post aqui abaixo, outra iniciativa que 'causou sensação' na 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg) foi o desfile de vestidos produzidos por presas do Paraná. Munidas de agulha, linha e criatividade, 30 detentas da penitenciária de Piraquara, na Grande Curitiba, ditam moda e costuram um futuro promissor. Exceto pelas "modelos profissionais" e magrelas que desfilaram (podia muito bem ter sido uma passarela com mulheres 'normais'), o evento foi bem legal. Até a dona Marisa Letícia foi.

A sofisticação dos vestidos apresentados é uma demonstração de que gerar oportunidades é um caminho viável para superar o passado de violência da população carcerária. "O que vimos hoje [dia 28 de agosto] não deixa nada a desejar para nenhum grande estilista. As roupas são muito bonitas e o trabalho das presas merece todo o nosso respeito. Elas são um exemplo para nós que estamos aqui, discutindo os rumos da segurança pública", ressaltou Francisca Alves de Souza, representante do Pará na 1ª Conseg.

Além da alta costura, as detentas se dedicam à confecção de fuxicos e sacolas ecologicamente corretas. A iniciativa integra o Programa do Voluntariado do Paraná (Provopar), destinado à geração de renda e inclusão social. Fruto de uma parceria com a Receita Federal, o projeto "Costurando a Liberdade" é financiado por recursos gerados pela venda de produtos apreendidos e inclui ainda cursos de capacitação para as detentas, com aprendizado técnico do ofício.

Em pouco mais de um ano, o sucesso das peças ultrapassou os muros dodesfile2 presídio e ganhou espaço em coleções de grifes curitibanas. Com o comércio da produção, as detentas recebem 70% de um salário mínimo e minimizam o tempo da pena. O dinheiro é aplicado em poupança a ser retirada quando as mulheres estiverem em liberdade, ocasião em que cada uma delas receberá uma máquina de costura para levar o trabalho adiante.

Oxalá! elas consigam mesmo levar o trabalho adiante.

Fotos: Martim Garcia

De um presídio do Ceará direto para o meu sofá

A população carcerária do Brasil é de quase 470 mil. Desse contingente, cerca de 150 mil são presos "provisórios", ou seja, sequer foram julgados. Enfim, dizer que a Justiça brasileira é caduca e que o nosso sistema carcerário é ineficiente faz chuva no molhado... Mas um Feira realizada no finalzinho do mês passado em Brasília, durante a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg), mostrou um lado B do que acontece entre os muros dos presídios.

Organizada pela Pastoral Carcerária e pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça, a Feira expôs e comercializou artesanatos produzidos por detentos e detentas de 18 estados e do Distrito Federal. Foram bolsas, luminárias, toalhas, brinquedos em madeira, acessórios, artigos de cama, mesa e banho, entre outros.

Esta colcha de fuxico aqui na foto ao lado foi feita por cinco detentas do Instituto Penal Feminino Desembargador Auri Moura Costa, em Fortaleza (CE). A expositora faceira que segura a colcha é Iraneide Soares Chagas, da Pastoral Carcerária daquele Estado. Ela contou que as detentas estavam com uma expectativa gigante sobre a aceitação dos produtos.

Bom, a Feira foi um sucesso. E eu não demorei nadica de nada para aceitar a iniciativa com entusiasmo. Agora, a colcha linda que elas fizeram virou uma manta para o meu sofá. Com a casa enfeitada, penso nessas mulheres, nas suas vidas e famílias, e torço para que o ofício que muitas delas aprenderam dentro dos presídios sirva para ajudá-las a romper com o histórico de crime. E que, quando elas saírem de lá, a gente consiga absorver o talento que elas têm.

19.5.09

O Brasil além do Real

Alcântara (MA) opera com moeda própria

O adesivo fixado na parede do barco que leva passageiros de São Luís (MA) ao município de Alcântara avisa: “Aceitamos Guará”. O anúncio provoca curiosidade. Interessado, um dos turistas a bordo pergunta: “Moço, o que é Guará?” Ao que o tripulante responde, orgulhoso: “É a nossa moeda, nosso próprio dinheiro”, apontando para um outro anúncio pendurado mais adiante.

Ali, o cartaz traz informações sobre uma instituição bancária diferente, implantada pela própria comunidade. Trata-se do Banco Quilombola, o primeiro no País organizado por povoados descendentes de escravos. “Aqui, o gerenciamento das finanças está nas mãos dos moradores”, destaca o agente de economia solidária e desenvolvimento local Sérvulo Borges, um dos idealizadores da iniciativa.

Patrimônio cultural do Brasil, Alcântara reúne um conjunto de belezas naturais e arquitetônicas, mas também é marcada por desigualdades sociais. Desde 1980 o município serve de base para o centro de lançamentos espaciais do governo. “A instalação da base tirou milhares de quilombolas de suas terras, nos deixando num cenário degradante”, conta Borges.

Para ele, o banco comunitário representa uma chance de reverter esse quadro. “É uma forma de creditar às pessoas a possibilidade delas desenvolverem suas vidas, sem que a gente tenha que depender das regras dos bancos tradicionais”, acredita. “Somos uma experiência piloto. Temos o compromisso de dar certo”.


Inaugurado em novembro de 2007, no dia Nacional da Consciência Negra, o Banco Quilombola iniciou suas atividades com R$ 50 mil, dos quais R$ 20 mil repassados pelo Governo do Maranhão - quantia conquistada por meio de seleção pública de um projeto apresentado pela comunidade. Os outros R$ 30 mil são para empréstimos por meio do Banco Popular do Brasil, correspondente bancário que também possibilita o pagamento de contas e boletos pela população local.

Adesão
Ao que tudo indica, a iniciativa foi bem aceita pelos moradores. Já são mais de 800 os correntistas. Os comerciantes também aderiram. Andando pelas ruas de Alcântara, adesivos como o visto no barco multiplicam-se nas portas de estabelecimentos como farmácias e mercadinhos. Até uma funerária aceita o Guará, moeda alternativa que equivale ao Real. “O pessoal do banco veio aqui conversar com a gente e nós entendemos a importância de aceitar a moeda social”, conta a vendedora de caixões Gracilene Pereira (foto).

O objetivo da moeda social é fazer com a riqueza circule dentro do município. “A gente aceita o Guará como aceita o Real. A diferença é que o Guará é um dinheiro que roda aqui mesmo, a gente sabe que não vai sair daqui. É lucro para a comunidade”, afirma o taxista Eudes Duarte.

Dono de um armazém próximo ao Banco, Walter Pacheco se diverte com a originalidade da moeda social. “Todo mundo quer conhecer. Às vezes os turistas querem levar de lembrança para mostrar aos amigos. Pode uma coisa desta? Aí explico que não dá, senão a gente é que fica no prejuízo, né?”.

Metodologia reaplicada
O Banco Quilombola é uma das 40 instituições financeiras da Rede Brasilieira de Bancos Comunitários. O precursor do grupo é o Banco Palmas, que funciona há mais de 10 anos em Fortaleza (CE) e reaplica a metodologia aos demais. “Cada um desses bancos tem sua estratégia, seu conselho gestor e sua moeda social”, destaca Joaquim Melo, presidente da Rede e um dos fundadores do Palmas. De acordo com ele, um dos principais requisitos indispensáveis para montar a instituição é o controle social.

A principal diferença dos bancos comunitários para os tradicionais é que eles não visam o lucro. Em vez disso, apoiam o desenvolvimento local integrado por meio do financiamento de pequenos grupos produtivos. Para empréstimos em Real, a taxa de juros varia de 2% a 4% ao mês. Em moeda social, não há cobrança de juro.

27.11.08

Olhos n'água, sustentabilidade no bolso

Cuidar dos mananciais passou a fazer parte do cotidiano de moradores de Extrema, município com pouco mais de 20 mil habitantes na fronteira sul de Minas. Lá, uma iniciativa pioneira tem garantido a preservação do Rio Jaguari - bacia que, além de abastecer a população local, é responsável por metade da água potável consumida na Grande São Paulo.


A maioria da população estranhou quando a prefeitura de Extrema (MG) sugeriu uma parceria para cuidar do meio ambiente. A proposta era assim: se os agricultores ajudassem a preservar os córregos situados dentro das suas propriedades, o governo pagaria um incentivo financeiro a eles todo mês. "De primeiro, o povo do bairro torceu o nariz. Mas depois vimos que seria bom pra gente e pra natureza", conta José Galdino (foto), um dos 35 produtores que aderiram ao programa Conservador de Águas, lançado em agosto de 2007.

Para participar, seu Galdino teve apenas que abrir as portas de sua fazenda e deixar os técnicos da prefeitura trabalharem: eles mesmos cercam a reserva legal e permanente (mata ciliar e de topo de morro) e reflorestam a área com mudas nativas, com o cuidado de plantar as espécies frutíferas mais perto das moradias dos agricultores. Em contrapartida, Galdino cuida da manutenção básica e recebe R$ 159 por hectare ao ano. "O valor de conta é este, mas o pagamento é feito a cada 30 dias", explica Paulo Henrique Pereira, secretário de Meio Ambiente de Extrema.

Atualmente, a cobertura do programa abrange mais de mil hectares, o equivalente a 60 quilômetros de cercas de proteção fincadas no entorno do córrego das Posses, uma das sete bacias afluentes do Rio Jaguari. Para se ter uma idéia dos benefícios trazidos pelo programa, vale destacar que o Jaguari é o principal manancial do Sistema Cantareira, responsável pela água encanada de 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo. "A sub-bacia das Posses é nosso projeto-piloto, mas a meta é abranger todo o município, algo em torno de 20 mil hectares", destaca Pereira.

Mudança de hábito - Quem precisou se adaptar aos novos limites estabelecidos pelo cercamento foi o gado criado por seu Olívio de Carvalho (foto), outro participante do programa. Acostumados a beber água fresca direto da fonte, os animais tiveram que procurar outro pasto. “No início a boiada esbarrou nos arames. Mas não teve outro jeito. Se deixar, este boi nosso devora tudo que é coisa. E, no final das contas, o subsídio acaba compensando”, diz seu Olivinho, como é conhecido pela vizinhança.

Na avaliação de Pereira, mesmo entrando em choque com o modelo agropecuário adotado na região, baseado na pastagem extensiva, o programa tem conseguido mudar a relação entre o homem e o meio ambiente. "O ponto principal é mostrar ao agricultor que a natureza pode ser uma fonte de renda pra ele. Mesmo que seja uma bacia leiteira, ou seja, com muito gado em volta, e o melhor pasto esteja na beira do rio, ele percebe que além de uma preocupação ambiental há uma vantagem econômica no cercamento”, destaca o secretário.

A proximidade dos técnicos com a população local também tem facilitado o diálogo. “Não adianta só cercar e plantar. A gente tem que cuidar das mudas e conversar com os moradores, ouvir a opinião deles", observa Flávio Trevisan, agrônomo da prefeitura. “No projeto sai coisa boa, mas também sai coisa errada. Se a gente se sente prejudicado, vai lá e conversa”, conta Olivinho, que virou defensor das águas do município.

Segundo ele, alguns vizinhos ainda oferecem resistência ao programa. “A gente tenta explicar que a preservação é importante. Tanta gente nesta corrida doida atrás de petróleo, mas vai beber petróleo pra ver o que acontece. A água é a mãe de tudo”, ensina Olivinho. Na opinião de Trevisan, no entanto, a desconfiança enfrentada no início já cedeu lugar à curiosidade. “Hoje muita gente nos procura querendo conhecer e fazer parte do programa. O agricultor viu que ninguém quer tirar aquilo que é dele, mas apenas que existem regras para ele poder usar”, avalia o agrônomo.



Esforço continuado – Em funcionamento há menos de dois anos, o programa Conservador das Águas começou a ser desenhado em 1996. “Nesta época, tínhamos um projeto que ainda não incluía o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Ao longo do tempo, amadurecemos a idéia de que só o cumprimento da legislação não adiantaria. Além de envolver a população, seria preciso um apoio financeiro”, lembra Pereira.

O trabalho prosseguiu com investimentos no inventário ambiental e no cadastramento das propriedades do município. “Mapeamos todas as sub-bacias e iniciamos o diálogo com a comunidade”, lembra o secretário. Quase uma década depois, a continuidade das atividades resultou na criação de uma lei municipal (lei 2.100/2005 e decreto 1.703/ 2006), que estabeleceu uma reserva no orçamento e fixou as regras para o PSA. O projeto também é apoiado por organizações internacionais e pelo governo estadual.

21.11.08

Juventude conectada


Conquistar o primeiro emprego continua sendo um desafio para a juventude brasileira. Para vencer esta dificuldade, o projeto Com.dominio Digital investe na qualificação profissional e na inserção de jovens no mercado das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Uma proposta inovadora, que incentiva estudantes de baixa renda a traçar um projeto de vida, superar dificuldades e, sobretudo, concretizar sonhos.

21/11/2008 - Aos 18 anos, Neivison Santos cursa Ciências Contábeis na Bahia. Morador de um bairro pobr
e da periferia de Salvador, ele se considera um vencedor. “Há pouco tempo atrás a possibilidade de fazer uma faculdade nem passava pela minha cabeça. Para mim, universidade não era coisa de jovem de subúrbio. Pensava que no máximo eu chegaria a ser era um vendedor ou um pedreiro”, conta. A perspectiva de Neivison começou a mudar em 2006, quando ele ingressou numa turma de formação da Rede Com.Domínio Digital.

Coordenado pelo Instituto Aliança, o Com.Domínio Digital foi iniciado em 2004, com um projeto-piloto que formou 460 jovens de quatro cidades cearenses. Atualmente a iniciativa está presente em 22 municípios de sete estados (Bahia, Ceará, Minas Gerais, Permabuco, Rio de Janeiro, Sergipe e São Paulo) e fechará o próximo ano com a participação de mais de três mil jovens de 18 a 24 anos. “Nosso foco não está apenas na capacitação profissional, mas também no desenvolvimento social e pessoal dos estudantes”, ressalta Maria Adenil Vieira, diretora do Instituto.

“A grande diferença é que no Com.Domínio a gente não aprende apenas uma profissão. É também um ambiente onde a gente constrói auto-confiança, aprende a conviver e ser solidário em grupo e reforça valores”, afirma Tássila Lima, que participou da primeira turma do projeto no Ceará e hoje está empregada, cursando o sexto semestre de Publicidade e Propaganda. “É uma fase muito difícil quando a gente termina o ensino fundamental. Tem muita pressão para que a gente arranje logo um emprego e decida o que vamos fazer para o resto das nossas vidas”, argumenta Tássila.

Maria Adenil conta que envolver os familiares no processo de formação foi a alternativa encontrada pelo Com.Domínio para amenizar as exigências vindas principalmente dos pais para que os jovens garantam logo um lugar ao sol no mundo do trabalho. “Todo mês temos uma atividade de debate com as famílias. Discutimos os benefícios em frear a tendência ao imediatismo na busca por qualquer trabalho remunerado e pedimos que os pais estimulem os jovens a ficar no projeto”, conta.

Conhecimento compartilhado
Os encontros também têm a finalidade de aproximar pais e filhos, além de promover oficinas voltadas para o uso de tecnologias. “É um contato importante. Muitos pais não entendem porque os filhos passam tanto tempo conectados à internet e não percebem o caráter formativo que existe por trás disso”, acredita Maria Adenil. “Se a nossa própria família não nos apoiar, fica quase impossível ir adiante”, reforça Tássila, que atribui a melhoria do diálogo que hoje tem em casa à intervenção do método aplicado pelo Com.Domínio.

A metodologia do projeto considera cinco componentes: formação profissional, inserção (com permanência e ascensão no mercado), sistematização e co-responsabilidade entre os setores públicos, privados e terceiro setor. O quinto componente compreende a sistematização e distribuição de um kit pedagógico para todas as organizações parceiras, uma novidade no âmbito do Com.Domínio. “ É uma forma de difundir essa Tecnologia Social, dando condições estruturais para que outras entidades tenham autonomia para reaplicar essa iniciativa”, explica Maria Adenil.

Resultados abrangentes
“Nosso objetivo é a formação integral do jovem. Em vez de prepará-lo apenas para um cargo específico, estimulamos ele a desenvolver habilidades e conhecimentos. O produto final do curso não se restringe a um plano de carreira, mas na construção de um projeto de vida”, afirma Maria Adenil. Se a proposta é ousada, os resultados são animadores. Dos 2.258 jovens formados até agora, num programa de educação profissional de 560 horas, aproximadamente 70% conquistaram uma vaga no mercado, inclusive com permanência e ascensão nas empresas.

“Antes de participar do projeto eu me sentia um náufrago. Tinha sonhos como todo adolescente, mas vivia ilhado pela falta de oportunidades. O Com.Domínio não me resgatou desse ambiente. Ele me deixou na própria ilha, só que agora eu tenho conhecimento e base para ir aonde eu quiser”, ilustra o jovem Neivison, que hoje trabalha na equipe administrativa do Com.Domínio e quer direcionar o que aprender na Universidade em prol da população mais necessitada.

Parceiros
Desenhado para atender às demandas do mercado de trabalho de municípios, que não encontravam mão-de-obra local qualificada para preencher as vagas existentes, sobretudo em postos na área de Tecnologia da Informação, o Projeto Com.Domínio Digital é executado com apoio do Fundo Japonês, Agência Canadense de Desenvolvimento, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), International Youth Foundation, Instituto Unibanco, Instituto Oi Futuro, Fundação Avina, Instituto Ibi e Instituto Wal-mart, além das secretarias de Educação do Ceará de Pernambuco.

A ação é distribuída em 22 núcleos pedagógicos situados nos sete estados de atuação, consolidando uma ação em rede que possibilita compartilhar de metodologias e a potencializar parcerias. Cada estado conta com um Conselho de Parceiros, com a participação de diversos segmentos sociais, que atua no sentido de envolver e promover mudanças nos papéis desempenhados pelo Estado, empresas e sociedade civil no compromisso com a criação de um futuro mais digno e promissor para a juventude brasileira.

Outras Informações
Instituto Aliança
www.institutoalianca.org.br

Por Vinícius Carvalho, jornalista do Portal da RTS, e Fernanda Barreto, do Projeto Brasil Local.

8.4.08

Lixo vira jóia na economia solidária





Combinando meio ambiente com geração de renda, a Cooperativa de Coleta Seletiva, Processamento de Plástico e Proteção Ambiental (CamaPet), situada em Salvador (BA), buscou inspiração na beleza da mulher negra e criou uma coleção de bijuterias a partir de embalagens PET. 

A ação é resultado de parceria com a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que ofereceu capacitação a membros da CamaPet. “Nossas aulas duraram um semestre e criamos as peças em conjunto”, conta Jovane Bispo, um dos cooperados a participar do Curso de Desenho Industrial da Uneb.


A coleção, intitulada Pérola Negra, inclui brincos, pulseiras, colares e outros acessórios.“A CamaPet também produz peças como porta-retratos, luminárias e poltronas”, acrescenta Alessandro Campos, agente de Desenvolvimento do Brasil Local (Projeto da Secretaria Nacional de Economia Solidária) que acompanha o empreendimento. Segundo ele, os artigos são vendidos na loja da Cooperativa, em feiras e eventos.


"Esses produtos possibilitam agregar valor ao material reciclável, minimizar os impactos ambientais e gerar renda", avalia Joílson Santana, presidente da CamaPet. De acordo com ele, os recursos obtidos com a comercialização dos produtos são somados ao valor pago por horas trabalhadas aos 26 cooperados da instituição. São, na maioria, jovens entre 16 e 25 anos que recebem em média um salário mínimo por mês.

Conhecimento levado adiante

Criada em 1999, a CamaPet surgiu a partir de uma ação do Centro de Artes e Meio Ambiente (Cama), que atua no território da Península de Itapagipe, agregando 14 bairros de baixa renda na capital baiana. "Nós participamos de oficinas para multiplicadores na área de meio ambiente e resolvemos colocar em prática o que aprendemos em aula”, relembra Santana.


Quase uma década depois, instalada num armazém inativo da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, no bairro Calçada, a CamaPet quer se fortalecer para continuar crescendo. Atualmente, além de transformar os resíduos em artigos de arte, a Cooperativa trabalha com manejo de metais, plásticos, papéis e vidro. O grupo coleta os resíduos  pelas ruas da cidade ou diretamente em condomínios parceiros.

Depois, o material é separado e prensado na sede da entidade. "Nossa cadeia produtiva está estagnada nesse ponto", ressalta Santana. Mas o objetivo, segundo ele, é somar esforços com outros grupos de catadores para atender às exigências do mercado e minimizar os intermediários até chegar à indústria. “Se não atuarmos em rede fica difícil sair das mãos dos atravessadores", avalia.

7.12.07

Comércio justo na web

Comprar artigos da economia solidária pela internet e recebê-los em casa. É assim que funciona o mercado virtual da Mundo Paralelo, loja com sede em Porto Alegre (RS) que vende exclusivamente produtos de empreendimentos autogestionários, comprometidos com o comércio justo.

O espaço para e-commerce foi lançado nesta sexta-feira (7) e é o primeiro do segmento no País. Na página, são oferecidos produtos como vinhos, brinquedos pedagógicos, vestuário e artesanato, com preços competitivos. O pagamento das compras pode ser feito por meio de boleto bancário, transferência eletrônica ou cartão de crédito. A entrega será realizada pelos serviços de sedex ou pac, via Correios. Acesse aqui.

"Para garantir a entrega, num primeiro momento colocamos à venda somente os artigos do estoque da Mundo Paralelo", destaca Miguel Steffen, presidente da Cooperativa de Consumo e Comercialização Popular Solidária Ltda (Consol), entidade que gerencia a iniciativa.
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Segundo Steffen, a Mundo Paralelo trabalha com mais de 150 produtores do Amazonas, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia e Tocantins, além do Rio Grande do Sul. "Em breve, fotos e informações sobre quem faz e como são feitos os produtos também estarão disponíveis no site", antecipa.
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Comércio justo é resultado de trabalho cooperativo, sem exploração de mão-de-obra. Os empreendimentos têm que ser ambientalmente sustentáveis e a venda deve ser feita com o mínimo de intermediários entre o produtor e o consumidor.
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É isso: consumo consciente.
Compre e seja feliz!
;)

27.5.06

Em Porto Alegre, moradores de rua retratam sua realidade em jornal

Publicação gera renda e estimula busca por futuro mais digno

Segunda-feira é dia de reunião de pauta para 32 adultos que vivem em praças, viadutos, albergues e favelas na capital gaúcha. Eles integram a equipe do jornal trimestral Boca de Rua, que retrata o dia-a-dia da população que não tem onde morar. “A gente também quer nossos direitos respeitados”, defende Michele Aparecida dos Santos, 22, há nove anos na rua e há “dois e pouco” no Boca.

O trabalho existe desde 2.000 e é orientado por jornalistas e psicólogos voluntários da Agência Livre para Infância, Cidadania e Educação (Alice). Ao longo de oito páginas, metade reservada para produção de crianças e adolescentes, o Boca de Rua conta a história de pessoas vítimas de discriminação, despejos e todo tipo de violência - uma gente que só conhece direitos humanos na cartilha.

“Ninguém fica na rua sozinho. Tem que encontrar alguém pra te proteger. Senão já era”, desabafa Michele. Além de assinar matérias e fotografias, os sem-teto são responsáveis pela venda da publicação, a R$ 1,00. No final das reuniões, cada colaborador recebe uma quota de 30 a 40 exemplares. “Eu consigo fazer uns R$ 80 por semana”, conta Patrícia Caldas Garcia, 22, explicando que gorjetas complementam o sustento dela e de suas duas filhas.

“O jornal é um meio de redução de danos, um caminho alternativo para sair da rua”, ressalta a jornalista Clarinha Glock, uma das fundadoras da Alice. Segundo ela, fazer com que os moradores de rua discutam o seu cotidiano e ampliem a responsabilidade sobre seus direitos e deveres é objetivo da ONG. “Com essa prática, há um aumento da auto-estima e do nível de consciência deles”, afirma.

Voz a quem não tem
Manifestações e abaixo-assinados são práticas comuns entre os integrantes do Boca, que também fazem palestras em escolas, universidades e eventos como os fóruns mundiais Social e da Educação. “Esses são espaços a que eles normalmente não teriam acesso”, observa Clarinha, acrescentando que colocar o leitor em contato com a realidade da rua é outra finalidade da publicação.

Com apoio da Alice, o grupo participa ainda de oficinas de hip-hop, teatro e produção de audiovisual. “Nossos vídeos já foram exibidos nos festivais de cinema de Brasília, Fortaleza, Gramado e São Paulo”, explica Reinaldo Luiz dos Santos, 37 anos, da equipe do jornal. “Agora as pessoas nos vêem com outros olhos”, destaca Michele, que tem até rap de autoria própria. “Ano passado cantei minhas músicas para o público da Feira do Livro de Porto Alegre”, conta, orgulhosa.

Produção de rua
Os encontros semanais ocorrem num restaurante popular da capital gaúcha, que serve refeições a R$ 1. Quem tem carteirinha do Boca não paga. Depois do almoço, eles seguem para uma praça nas redondezas onde sentam-se à sombra das árvores para conversar. Os representantes da Alice são ouvidos com atenção, e vice-versa.

A reunião dura cerca de duas horas e serve para discutir os temas a serem tratados na próxima edição, além de agendar datas para entrevistas. O tempo também é destinado a planejar novas atividades, como exposição de fotos feitas pelos moradores de rua e a confecção de brincos, bonés e camisetas com a marca do jornal.

A criação de uma “caixinha comunitária”, para financiar as festas de final de ano, a aquisição de uma sede e a ampliação da tiragem do jornal, que atualmente é de 12 mil unidades, também são metas da equipe.

Olhos e ouvidos atentos
Os integrantes do Boca de Rua usam câmera fotográfica e gravador com desenvoltura. “Muitos deles estão num estágio mais avançado de alfabetização e escrevem as próprias matérias, porém alguns não sabem ler ou escrever”, conta a jornalista Clarinha.

Nesse caso, eles registram as conversas e depois contam a experiência aos orientadores, que transcrevem a história. “A gente tenta colocá-los mais em contato com os textos, trabalhar mais as idéias. Também temos a preocupação de que a edição sempre volte pra eles antes de imprimir”, conta o estudante de Psicologia, Manoel Madeira, da Alice.

Embora ler e escrever não seja obrigatório para fazer o Boca, a proximidade com as palavras estimula o retorno às salas de aula. “Eu voltei a estudar no ano passado e nesta semana começo a 6ª série”, comemora Michele, que esteve sete anos afastada da escola e hoje quer fazer curso técnico de magistério. “Vou lutar pra ser professora. Vou estudar bastante...”, diz, determinada.

Segundo Michele, é difícil driblar as dificuldades quando não se tem lugar apropriado para fazer o dever de casa ou dinheiro para comprar material escolar. “Já perdi a minha pasta três vezes na rua e não desisti de estudar”, conta, lembrando que vencer a falta de intimidade com a matemática também foi um desafio no último ano. “Eu fiquei em recuperação, mas dizia pra mim mesma ‘não vou rodar, não vou rodar’ e consegui tirar 100 no provão do último bimestre”, lembra, satisfeita.

Exceção à regra
Na reportagem do Boca de Rua, também tem um universitário. Depois de morar cerca de dez anos nas ruas, Reinaldo hoje estuda Jornalismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Arquivologia na Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), faculdade que cursa principalmente para ter o direito de morar na Casa do Estudante.

O coordenador do núcleo de integrantes do jornal deixou Salvador, sua cidade natal, em 1996, atraído pela possibilidade de “vencer na vida”. De lá pra cá, viveu pelas ruas e albergues de vários estados. “Cheguei a trabalhar guardando fichas em hospitais”, lembra Reinaldo. “Logo que cheguei em Porto Alegre fiquei sabendo das reuniões do Boca. Fui metade por curiosidade e metade, porque me disseram que serviam lanche lá”, confessa.

Atualmente Reinaldo é responsável por inserir o veículo nos demais meios de comunicação. “Além das reportagens, faço atuo como uma espécie de assessor de imprensa do Boca”, explica. “Nessa hora, os celulares e computadores de amigos são a salvação”, brinca.

Boquinha
As crianças e adolescentes também têm espaço no tablóide. Em encarte especial, que leva o nome de Boquinha, os menores contam histórias e exibem seus desenhos. Nas páginas do Boquinha, a imaginação da meninada cria planetas em que não existem drogas, ninguém briga ou rouba, ninguém se prostitui. No mundo de quem vive à margem dos contos de fadas, não existe mãe ou pai que abandona os filhos e os humanos são de todas as cores.

Ao todo, 15 meninos e meninas se reúnem para brincar, escrever, participar de oficinas de artesanato, teatro, malabarismo e música. De acordo com Clarinha, são na maioria filhos e irmãos dos integrantes do Boca. “Os responsáveis por elas recebem bolsa auxílio de R$ 10,00 por semana, o que ajuda a mantê-las longe do trabalho infantil”, avalia.

O encarte é um lugar para a criatividade correr livre, onde pessoas normais podem virar super-heróis ou só comer de graça. Para a garotada, o ideal mesmo é que “os do bem” se unam para salvar a terra. “Mesmo sem superpoder, a gente tem que fazer isso, porque superpoder não deixa ninguém bom ou mau. Só melhor ou pior”, diz uma história do Boquinha.

16.2.06

Livro resgata arquétipos femininos
Deusas de várias origens e épocas são retratadas em obra

Recuperar mitos do sagrado feminino é a proposta do Livro das Deusas (PubliFolha; 95 páginas; R$ 25), lançado este mês pelo Grupo Rodas da Lua, de Brasília. De orientais a afro-brasileiras, com passagem pelas egípcias e gregas, o livro conta a história de 40 deusas e aborda a origem e o significado de cada uma delas para a humanidade.

A publicação é resultado de extensa pesquisa e envolve, em grande medida, o estilo de vida das dez mulheres que compõem o grupo. "Foi um trabalho escrito a vinte mãos", conta uma das responsáveis pela obra, a jornalista Andrea Boni.

Em projeto gráfico cheio de cores, textos cedem espaço às ilustrações das deusas. "A maioria das esculturas são do acervo da nossa mestra, Mirella Faur. Outras peças são nossas", conta Lana Guimarães, fotógrafa do livro.

Além disso, ao final de cada mito, o leitor encontra sugestões de rituais. São dicas de prosperidade, para atrair sucesso, posturas confortáveis e movimentos para equilibrar a energia física. "As deusas têm muito a nos ensinar", justifica Boni.

De acordo com ela, a "maçonaria" feminina existe há mais de dez anos. "Antes nos reuníamos para contar histórias, estudar mitologia, ler sobre os oráculos e cultuar a lua. Cinco anos mais tarde surgiu o grupo da dança", lembra. Depois disso, as dez mulheres aprofundaram-se na arte de imitar movimentos da natureza, fincaram pé nas danças circulares sagradas e decidiram compartilhar conhecimento.

O grupo montou sede na 706 Norte, onde há dois anos o Rodas da Lua exercita e ensina os passos, ritos e ritmos aos interessados que aparecem por lá, como o psicólogo Christian von Jakitsch. "Participo do grupo faz uns três anos. Busco principalmente o auto-conhecimento", destaca, acrescentando que o feminino sempre fez parte do seu cotidiano.

Jakitsch não é o único homem a participar dos rituais do grupo, que tampouco é limitado a faixas etárias específicas. As próprias organizadoras têm entre 21 e 50 anos e acabam de inaugurar uma turma de danças para crianças. O espaço também é reservado para a prática de meditação e canto, além da arte de contar histórias. "A dança é uma linguagem totalmente simbólica que resgara antigos mitos. É um celebrar da vida em grupo", avalia Boni.