14.6.07

um amor pra ser seu:



ordinária

me convide para atividades cotidianas,
como fazer e servir jantar...
beber vinho e lavar a louça. não estou interessada
em sofisticação. nada que não seja natural
me atrai. estou disposta a caminhar por aí,
conversando sobre as coisas simples
que edificam a vida.
a vida é um barraco de papelão,
repleto de recordações. quero saber de
medos,
anseios, contas atrasadas
e flores do mato. nada de rosas embrulhadas
ou mimos que não venham das mãos.
desejo as mãos, elas próprias.
com toda suavidade e ansiedade que carregam
nos dedos. desejo os dedos.
nos cabelos, na nuca, por dentro.
desejo por dentro. esta coisa de
se ser o que se é.
se o mundo acabasse amanhã,
sairia nua porta afora agora mesmo.
já!
não pediria ou exigiria desculpas.
esbanjaria sorrisos e não faria nada além
das coisas que sempre faço.
talvez evitasse o trabalho
e a taquicardia acerca de projetos futuros.
toparia um filho.
quem sabe ele fizesse a roda parar de girar?
quem sabe me desventrasse?
e desinventássemos o supérfluo,
nós todos, depois?
amanheceríamos numa cor de dia, absoluta.
sem matizes que desperdiçam sonhos
nem delírios da abstração.
só coisas cotidianas,
brutas,
imperfeitas.

8.6.07

horóscopo para os que estão vivos:

áries touro gêmeos câncer leão virgem
de Thiago de Mello.
cartão:


benzedura

és tão doce e puro, meu amor, que vejo anjos em torno de ti.
abriga em si um terreno para cultivos variados, mas teme:
comprime os punhos, encolhe os dedos, retrai os nervos.

dissimulas teus sentimentos para ti mesmo, te ignoras,
te ladeias, subterfoges.
e não ousas um quinhão da tua capacidade.

eu, que te sei pr'além da falta de hombridade,
teço orações para o teu caminho. rezo para o universo
te desvelar e para que encontres uma palma estendida.

mãos que te recebam em socorro, te apontem
tua própria direção (o teu destino é de luz) ,
subtraia teu inimigos imaginários e te faça feliz.


sobre o mesmo tema, aqui.
cara nova:

ontem mudei as cores do blogue e descobri novas ferramentas, indísponíveis ao modelo antigo. além disso, zerei o contador mais uma vez. coloquei um mais rigoroso quanto a contagem de acessos. antes ele contabilizava cada atualização, agora não: o bichinho só avança de acordo com o computador que acessa. o negócio de colocar links também é muitíssimo mais prático. pra quem tiver blogspot antigo, eu recomendo.

alheia

acordei muito cedo hoje, com vontade de ainda dormir. tinha no corpo vestígios de sonhos que nada combinavam com obrigações diárias. tudo me pareceu amorfo e tive a sensação arrepiante de que não há solução ou respostas para o furor da vida. fiz um café, estendi a roupa, percorri as notícias do dia, trabalhei.

mas tudo era inquietude ao amanhecer. quis que minha alma não soubesse a tristeza. quis não saber ler, nem escrever ou ter que conversar. cada incidente me fez tremer e todo esforço era estéril. desejei me blindar contra fatos, estatísticas e lucubrações teóricas acerca da sociedade contemporânea. temi a loucura.

os ruídos vindos da rua amplificaram-se num repente e me senti pervertida pelo excesso de realidade. abri a janela e o vento esparramou os papéis pela sala, percorreu o apartamento e trouxe uma brisa quente. meu sonho foi ficando remoto e eu fincava os pés neste dia.

fui até a padaria e voltei, numa tentativa de me inserir ao cotidiano. não adiantou. um bocado de mim ainda está na cama, sonhando. hoje estou longe. nada de mim interfere em nada. e um choro sem lágrimas aperta minha garganta.

3.6.07

dúvida hiperbólica X:

e se eu fosse morar numa comunidade hippie?
X.1 (ainda existem comunidades hippies?)


mais dúvidas aqui.
ponto de vista II:

minha mãe:
ah! ter crianças em casa é um terapia!

meu pai: é sim! ter a pia cheia de louça!

1.6.07

coisa da fer:
.

Um brinde!

Enfim, junho - mês delicioso de beber quentão e me embriagar com prazerosas recordações:

Quando eu era criança, a gurizada da minha rua passava o maio todinho batendo de porta em porta pelo bairro, atrás de brindes e especiarias para fabricar os quitutes da tão esperada Festa Junina. A gente saía aos bandos e voltava com os sacos de batatas cheios de doações dos vizinhos.
.
Minha mãe liderava a equipe, conduzia os ensaios para o casamento na roça e danças de quadrilha, arranjava o figurino e resolvia impasses sobre quem seriam os protagonistas de cada ano. A garagem lá de casa virava estoque de condimentos e oficina de bandeirinhas. Fabricávamos também a cola, à base de farinha, e catávamos lenha para nossa gigantesca fogueira encantada.
.
E nesse clima de colaboração, eis que chegava a tão esperada noite de comemorar São João. Toda gente era convidada a participar. Tinha pinhão, pescaria, tenda do beijo, cadeia, batata doce assada e pipoca, tudo de graça. Pais, tias, sobrinhos, avós, filhos e primos, todos adentrávamos a madrugada brincando naquele universo particular criado com o esforço de cada um.

Era lindo, lindo, lindo. Uma das minhas lembranças mais coloridas, sempre pinceladas pelo censo comunitário da minha mãe. Teve um vez em que ela mandou fazer e pendurar nos postes uma faixa com a seguinte frase “Nenhum de nós é tão bom quanto todos juntos”.

Por isso hoje, inaugurado o primeiro dia de tantos junhos depois, dedico esta frase de Fernando Pessoa à minha querida dona Marion, que faz de tudo atenuar a dureza dos dias e até hoje é a rainha da molecada da Rua Botafogo:
.

mais da mesma:

em junho de 2006 e de 2005.