metade
os homens me assustam
são inseguros
me recusam
querem de mim o que não tenho
fingem que me relevam
e me vivem com receio
30.6.05
29.6.05
(Des)medidos
(ou miscelânea de poeira)
Eu teria dito que largaria tudo, que mal me importavam aquelas pessoas todas conversando amenidades em volta da gente. Teria levantado e te olhado estridente enquanto todas as outras bocas calavam. Devia ter aproveitado o momento de singelo sigilo, quando até o tilintar dos copos guardou silêncio pra te receber. Eu deveria ter ido até tua mesa onde sentado e largado sorria aquele riso de quem já bebeu doses pares. Aquele riso inebriado, de boca escancarada, libertador de vontades dissimuladas. Devia ter me lançado nas tuas mãos vazias. Um vácuo de mim, logo julguei.
Teus dentes no meu peito, eu ficava imaginando, enquanto te olhava pateta, a dois metros de ti. Devia ter me atirado no teu colo logo quando chegaste. Ter te feito entender que eras meu. Mas eu já sabia. Sabia que a gente se amaria loucamente, que seríamos líquido noites inteiras. E sempre acordaríamos secos um do outro. Sempre querendo mais. Sabia de ti na minha cama. Das minhas roupas no teu armário. Dos meus cds junto com os teus. Dos livros que ninguém mais saberia de quem eram.
Intuía teu cheiro. Horas a fio numa atmosfera que só nos dois poderíamos compreender. Poesia, marxismo, lirismo, budismo. Psico isto e aquilo. Bio, filo, sócio, epistemo, geo, cali; qualquer logia ou grafia. E haveria tanto tesão! Tanta língua sem nojo. Tanto gosto de seio e pescoço. Café. Madrugadas insones incensadas à insensatez. Beijos adormecidos. Sonhos. Vinho e virilha. Tua primeira visão do dia fincada no meu olho.
Adivinhava que terias ciúmes do meu ex-namorado. Que perguntaria se ele me amava tão bem quanto tu. Antevia que brigaríamos, te taxaria machista, insensível. Sabia que iria embora e levaria alguns cds meus ou teus. Sabia que voltaria. E iria e voltaria muitas vezes.
Púrpuras vozes anunciavam a noite que eu te ligaria dizendo que não, iria me atrasar, não poderia te acompanhar naquele jantar na casa do teu amigo de longa data e muitíssimo enfadonho e te perguntaria tudo bem? Eu tu responderia que sim, estava tudo certo, cansado e aborrecido, como se tudo o que esperasse de mim fosse a decepção. Como se eu te prorrogasse a vida. Um retardo atroz de tudo que deixaríamos pra trás. E eu, educadíssima, te pouparia do enfadonho por nenhum motivo maior do que este cinismo que a gente adquire de sempre economizar o outro dos nossos pensamentos mais limpos. Aliás, quando começaríamos a ser educados um com o outro?
Emergiriam as culpas. Supus as amarras. E nossa ânsia paralela de desviar. Fugir das cortesias sem apreço. Dos abraços sem calor. Dos talões e cartões. Do crédito. Do débito. Das contas. E tantas outras correntes. Eu queria nos livrar do perigo. Te avisar toda zelosa vá pela direita, não, não, peguemos a esquerda, meu amor. Tentava decifrar o caminho certo. Planejava ter estrelas no bolso, para lançar sobre as palavras polidas, sobre a ferrugem fosca, sobre a privação dos sentimentos - causa do amargor – besta fera da rotina. Ficariam os lençóis, que nem chegaríamos a usar. As lágrimas, destilaria em aquarela. Imaginativa e inebriada, monologava o diálogo:
- É...Pintei aquele quadro ali. Depois talhei em estiletes, pra ficar mais a nossa cara.
- Os discos de vinil? Pode levar, claro. Arranhei alguns.
- Não todos. Só os que te traziam à tona. À flor. À superfície da pele.
- Mas tudo bem. Já passou. Não trazem mais.
- Ãnh? Que tipo de pergunta é esta, agora?
- É claro que não sinto tua falta.
- Não. Nem do sexo.
- Aliás, teu sexo, descobri, é retrô demais.
- Tua mãe ligou.
- O que eu disse?
- Disse que não morava mais aqui. Entrei em detalhes não, que nunca tive paciência pra superproteção disparatada dela.
- Ora, querido, nunca disse antes por que antes era diferente. Antes eu tinha que aturar.
- O delírio da mãe, a irmã enfadonha, as piadas maçantes do pai. Agora, liberdade pra mim, benzinho – eu diria gargalhando, deixando o corpo cair pesado sob a cama. Um peso que eu fingiria leveza...
- Mas deixa eu te contar a novidade! Terminei o livro.
- É, obrigada!
- Ficou "Cama desnuda". Tinha pensado em "Amores mórbidos". Mas achei fracassado demais, embora tenha que reconhecer que me soa mais verdadeiro.
- Adianta insistir não.
- Você não ia gostar de ler. Você não ia nem entender.
- Nada. Você não entende nada.
- Boné?
- Ah! Aquele verde?
- Dei pro eletricista.
- Já dá pra ligar o vídeo no quarto. Bacana, não?
- Não muitos. Ando revendo alguns.
- É, franceses, como sempre.
Sei. Não mudei muito, né?
- Essa tua cara pra mim...
- Tristíssimos e bem dirigidos, como eu gosto.
- Tem coisas na vida que a gente leva, meu bem. Que nos acompanham.Bom, paremos por aqui pra respeitar teu limite de compreensão sobre a lealdade...
- Mas e você? Anda comendo mal? Te achei mais magro, sei-lá. Deixa prá lá.
- Chegaram umas contas prá ti.
- Tão ali na mesinha azul.
- É, agora é azul. Pintei também.
- Iiii.Vem com este papo não. Eu te conheço neném. Tua fraqueza vulgar. O egoísmo que te consome. A piedade que tens de ti mesmo.
- Equece, querido.Vem com beijinho não. Me esquece. Por favor, me esquece. Me deixa. Me larga. É sempre o mesmo novamente.
Ah! Eu a antevia o momento demasiado, encravado de mágoas, em que de nós, só os lençóis. Passado e futuro se tornariam carregados demais e esqueceríamos, eu e tu, de gozar o presente. Nos tornaríamos esquivos e evasivos como toda a gente. E estabeleceríamos a defesa. Ah... a velha cegueira da verdade única.
Então eu levanto e vou até tua mesa dando o melhor de mim. Conversamos meia hora de palavras entre vários ‘eu também’, te beijo, a gente faz amor e vive uns dois ou três meses lúdicos de paixão débil. E só. Por que depois disso, você vai querer que eu mude e deixe de ser um monte de coisas que eu sou, sendo que foi por esse amontoado que você se apaixonou. E eu? Eu idem. Não é um loucura? E deixa um de nós dois vacilar pra você ver. Mesmo sem perceber, a gente vai tirar proveito da fraqueza um do outro. E enumerar cada um dos nossos defeitos, didaticamente. Um de nós vai abrir mão da parte ruim e fazer o outro reflexo disso. E quer saber? Tudo bem. Continuaremos inteiros e quase intactos. Sorrindo e conhecendo gentes por aí, pra amar e entorpecer e magoar e assim por diante. Por que é assim que somos: des-tru-ti-vos.
Dois metros ou cinco segundos de ti. Distante uma palavra do nosso amor e eu já atinava tudo... As inseguranças. Teu amor inseduzível. A dura frieza da solidão. Porque a solidão corta. Enche a gente de calafrios. Nos deixa contidos. Nos priva do calor do outro. Eu choraria no teu peito E seria menina de novo no parque contigo. Previa os prazeres. As delícias a dois. Sabia exatamente o que haveria de vir.
Segunda-feira, a gente ali no bar. Tua barba por fazer e aquele livro no bolso. Ânsia pelas tuas histórias que eu sabia quentes e guardadas na garganta. Viria pra me falar do amor. E era como se fosse só por ti que eu esperava. Só por ti que eu tolerava os golpes e coagulava o corpo talhado de solidão. Eu teria dito que mal me importavam aquelas pessoas todas, teria sentado no teu colo, me lançado nas tuas mãos vazias de mim. Eu teria dito que largaria tudo. Mas tive uma certa preguicinha, sabe? Achei melhor não. Pedi mais uma sem gelo. E fiquei lendo teus lábios, enquanto percorria meus medos.
(ou miscelânea de poeira)
Eu teria dito que largaria tudo, que mal me importavam aquelas pessoas todas conversando amenidades em volta da gente. Teria levantado e te olhado estridente enquanto todas as outras bocas calavam. Devia ter aproveitado o momento de singelo sigilo, quando até o tilintar dos copos guardou silêncio pra te receber. Eu deveria ter ido até tua mesa onde sentado e largado sorria aquele riso de quem já bebeu doses pares. Aquele riso inebriado, de boca escancarada, libertador de vontades dissimuladas. Devia ter me lançado nas tuas mãos vazias. Um vácuo de mim, logo julguei.
Teus dentes no meu peito, eu ficava imaginando, enquanto te olhava pateta, a dois metros de ti. Devia ter me atirado no teu colo logo quando chegaste. Ter te feito entender que eras meu. Mas eu já sabia. Sabia que a gente se amaria loucamente, que seríamos líquido noites inteiras. E sempre acordaríamos secos um do outro. Sempre querendo mais. Sabia de ti na minha cama. Das minhas roupas no teu armário. Dos meus cds junto com os teus. Dos livros que ninguém mais saberia de quem eram.
Intuía teu cheiro. Horas a fio numa atmosfera que só nos dois poderíamos compreender. Poesia, marxismo, lirismo, budismo. Psico isto e aquilo. Bio, filo, sócio, epistemo, geo, cali; qualquer logia ou grafia. E haveria tanto tesão! Tanta língua sem nojo. Tanto gosto de seio e pescoço. Café. Madrugadas insones incensadas à insensatez. Beijos adormecidos. Sonhos. Vinho e virilha. Tua primeira visão do dia fincada no meu olho.
Adivinhava que terias ciúmes do meu ex-namorado. Que perguntaria se ele me amava tão bem quanto tu. Antevia que brigaríamos, te taxaria machista, insensível. Sabia que iria embora e levaria alguns cds meus ou teus. Sabia que voltaria. E iria e voltaria muitas vezes.
Púrpuras vozes anunciavam a noite que eu te ligaria dizendo que não, iria me atrasar, não poderia te acompanhar naquele jantar na casa do teu amigo de longa data e muitíssimo enfadonho e te perguntaria tudo bem? Eu tu responderia que sim, estava tudo certo, cansado e aborrecido, como se tudo o que esperasse de mim fosse a decepção. Como se eu te prorrogasse a vida. Um retardo atroz de tudo que deixaríamos pra trás. E eu, educadíssima, te pouparia do enfadonho por nenhum motivo maior do que este cinismo que a gente adquire de sempre economizar o outro dos nossos pensamentos mais limpos. Aliás, quando começaríamos a ser educados um com o outro?
Emergiriam as culpas. Supus as amarras. E nossa ânsia paralela de desviar. Fugir das cortesias sem apreço. Dos abraços sem calor. Dos talões e cartões. Do crédito. Do débito. Das contas. E tantas outras correntes. Eu queria nos livrar do perigo. Te avisar toda zelosa vá pela direita, não, não, peguemos a esquerda, meu amor. Tentava decifrar o caminho certo. Planejava ter estrelas no bolso, para lançar sobre as palavras polidas, sobre a ferrugem fosca, sobre a privação dos sentimentos - causa do amargor – besta fera da rotina. Ficariam os lençóis, que nem chegaríamos a usar. As lágrimas, destilaria em aquarela. Imaginativa e inebriada, monologava o diálogo:
- É...Pintei aquele quadro ali. Depois talhei em estiletes, pra ficar mais a nossa cara.
- Os discos de vinil? Pode levar, claro. Arranhei alguns.
- Não todos. Só os que te traziam à tona. À flor. À superfície da pele.
- Mas tudo bem. Já passou. Não trazem mais.
- Ãnh? Que tipo de pergunta é esta, agora?
- É claro que não sinto tua falta.
- Não. Nem do sexo.
- Aliás, teu sexo, descobri, é retrô demais.
- Tua mãe ligou.
- O que eu disse?
- Disse que não morava mais aqui. Entrei em detalhes não, que nunca tive paciência pra superproteção disparatada dela.
- Ora, querido, nunca disse antes por que antes era diferente. Antes eu tinha que aturar.
- O delírio da mãe, a irmã enfadonha, as piadas maçantes do pai. Agora, liberdade pra mim, benzinho – eu diria gargalhando, deixando o corpo cair pesado sob a cama. Um peso que eu fingiria leveza...
- Mas deixa eu te contar a novidade! Terminei o livro.
- É, obrigada!
- Ficou "Cama desnuda". Tinha pensado em "Amores mórbidos". Mas achei fracassado demais, embora tenha que reconhecer que me soa mais verdadeiro.
- Adianta insistir não.
- Você não ia gostar de ler. Você não ia nem entender.
- Nada. Você não entende nada.
- Boné?
- Ah! Aquele verde?
- Dei pro eletricista.
- Já dá pra ligar o vídeo no quarto. Bacana, não?
- Não muitos. Ando revendo alguns.
- É, franceses, como sempre.
Sei. Não mudei muito, né?
- Essa tua cara pra mim...
- Tristíssimos e bem dirigidos, como eu gosto.
- Tem coisas na vida que a gente leva, meu bem. Que nos acompanham.Bom, paremos por aqui pra respeitar teu limite de compreensão sobre a lealdade...
- Mas e você? Anda comendo mal? Te achei mais magro, sei-lá. Deixa prá lá.
- Chegaram umas contas prá ti.
- Tão ali na mesinha azul.
- É, agora é azul. Pintei também.
- Iiii.Vem com este papo não. Eu te conheço neném. Tua fraqueza vulgar. O egoísmo que te consome. A piedade que tens de ti mesmo.
- Equece, querido.Vem com beijinho não. Me esquece. Por favor, me esquece. Me deixa. Me larga. É sempre o mesmo novamente.
Ah! Eu a antevia o momento demasiado, encravado de mágoas, em que de nós, só os lençóis. Passado e futuro se tornariam carregados demais e esqueceríamos, eu e tu, de gozar o presente. Nos tornaríamos esquivos e evasivos como toda a gente. E estabeleceríamos a defesa. Ah... a velha cegueira da verdade única.
Então eu levanto e vou até tua mesa dando o melhor de mim. Conversamos meia hora de palavras entre vários ‘eu também’, te beijo, a gente faz amor e vive uns dois ou três meses lúdicos de paixão débil. E só. Por que depois disso, você vai querer que eu mude e deixe de ser um monte de coisas que eu sou, sendo que foi por esse amontoado que você se apaixonou. E eu? Eu idem. Não é um loucura? E deixa um de nós dois vacilar pra você ver. Mesmo sem perceber, a gente vai tirar proveito da fraqueza um do outro. E enumerar cada um dos nossos defeitos, didaticamente. Um de nós vai abrir mão da parte ruim e fazer o outro reflexo disso. E quer saber? Tudo bem. Continuaremos inteiros e quase intactos. Sorrindo e conhecendo gentes por aí, pra amar e entorpecer e magoar e assim por diante. Por que é assim que somos: des-tru-ti-vos.
Dois metros ou cinco segundos de ti. Distante uma palavra do nosso amor e eu já atinava tudo... As inseguranças. Teu amor inseduzível. A dura frieza da solidão. Porque a solidão corta. Enche a gente de calafrios. Nos deixa contidos. Nos priva do calor do outro. Eu choraria no teu peito E seria menina de novo no parque contigo. Previa os prazeres. As delícias a dois. Sabia exatamente o que haveria de vir.
Segunda-feira, a gente ali no bar. Tua barba por fazer e aquele livro no bolso. Ânsia pelas tuas histórias que eu sabia quentes e guardadas na garganta. Viria pra me falar do amor. E era como se fosse só por ti que eu esperava. Só por ti que eu tolerava os golpes e coagulava o corpo talhado de solidão. Eu teria dito que mal me importavam aquelas pessoas todas, teria sentado no teu colo, me lançado nas tuas mãos vazias de mim. Eu teria dito que largaria tudo. Mas tive uma certa preguicinha, sabe? Achei melhor não. Pedi mais uma sem gelo. E fiquei lendo teus lábios, enquanto percorria meus medos.
autenticada
minha rima é fraca
minha casa não é própria
a cintura é mal feita
os meus seios não apontam saturno
eu nem sei passar batom!
trabalho nos dois turnos
não acredito no tempo
pra mim, a intesidade
me julgam sem argumentos
de parca credibilidade
meu ex é um babaca
o atual pilha fraca
o seguinte atrasado
não esbanjo longas madeixas
meu pezinho não é de gueixa
meus olhos não são azuis
e minha conta vive no vermelho
eu tenho insônia
e sofro de renúncia!
minha caligrafia é torta!
não endureço nem morta!
mostro os dentes
(e escondo uns medos)
cresci ouvindo que pareço menino
que me ponho moleca
blá, blá, blá
e perco o tino!
na escola, fui má companhia
e ainda há os que confundam
minha alegria
com mil ousadias!
sou pura melancolia...
convivo com azia
o pandeiro não me obedece
detesto surpresas
o cobrador não me esquece
coloco meu coração na mesa
pra que cortem suas fatias
rogam que fico pra tia!
sou tomada de defeitos
meu bamboleio é quadrado
meu fluxo desregulado
não faço planos
só miro a intuição
detesto dar satisfação!
não ofereço segurança
cada qual com sua dança!
e puxa! como me cansam
as coisas definidas
fixadas,
estáveis e estabelecidas!
desde sempre é assim
minha borracha se desmancha
em tanto erro e engano
eu não tenho técnica
desconheço a métrica
minha prosa engana
não sou boa de cama
e sempre levo a fama!
28.6.05
mau gosto
que jeito de ser é este
que não nos teus abraços?
onde anda o amor
que estava bem aqui?
e esta boca seca de mel e gozo?
ora, quanta falta de primor!
estas cores desbotadas
cintura sem enlace
vontades abortadas
e as mãos a expurgar de mim
este excesso diverso de frio e calor
não me poupe!
veja quanta falta de primor!
não há paulinho que viole
ou cartola que surpreenda
este amargo dissabor
de língua contida
e este corpo que não bole!
destempero! desespero!
ah...quanta falta de primor!
e a vontade vampira
de sangue quente?
apresse este corpo prá cá!
que meu colo quase esquece teu labor!
não fosse teu gosto de pescoço
me rendia
a tua falta de primor...
as luas me passam rentes
nesta tesão míngua
cheia, nova, crescente!
e eu derreto surda entre os dentes
ora, meu bem, faça-me o favor!
sejamos nefastos e honestos
não convém tanta falta de primor!
que jeito de ser é este
que não nos teus abraços?
onde anda o amor
que estava bem aqui?
e esta boca seca de mel e gozo?
ora, quanta falta de primor!
estas cores desbotadas
cintura sem enlace
vontades abortadas
e as mãos a expurgar de mim
este excesso diverso de frio e calor
não me poupe!
veja quanta falta de primor!
não há paulinho que viole
ou cartola que surpreenda
este amargo dissabor
de língua contida
e este corpo que não bole!
destempero! desespero!
ah...quanta falta de primor!
e a vontade vampira
de sangue quente?
apresse este corpo prá cá!
que meu colo quase esquece teu labor!
não fosse teu gosto de pescoço
me rendia
a tua falta de primor...
as luas me passam rentes
nesta tesão míngua
cheia, nova, crescente!
e eu derreto surda entre os dentes
ora, meu bem, faça-me o favor!
sejamos nefastos e honestos
não convém tanta falta de primor!
27.6.05
porque "nada substitui a dinâmica da vida"...
eu faço planos
traço metas
crio marcos
miguéis
antônios
antônimos limites
loucas aspirações
tipifico atitudes
dou rigidez ao meu jeito
crio significados
exorbitantes
para compreender
coisas simples
(meus contemporâneos
me querem numa certa
rotina padronizada!
previsível! planejada!)
então vôo a frente
e faço
por que é assim que se faz!
no fundo, sei
que tudo não passa
de figuração
nesta tarde despropositada!
pois entre mim e o futuro
há um abismo
que avisa:
o vão sempre
vira relevo.
é vida que se impõe!
e contrapõe
a criação
abstrata
esta louquice nata
de idealizar os dias
na tentativa frustrada
de se sentir menos
nada
eu faço planos
traço metas
crio marcos
miguéis
antônios
antônimos limites
loucas aspirações
tipifico atitudes
dou rigidez ao meu jeito
crio significados
exorbitantes
para compreender
coisas simples
(meus contemporâneos
me querem numa certa
rotina padronizada!
previsível! planejada!)
então vôo a frente
e faço
por que é assim que se faz!
no fundo, sei
que tudo não passa
de figuração
nesta tarde despropositada!
pois entre mim e o futuro
há um abismo
que avisa:
o vão sempre
vira relevo.
é vida que se impõe!
e contrapõe
a criação
abstrata
esta louquice nata
de idealizar os dias
na tentativa frustrada
de se sentir menos
nada
23.6.05
Mais em mim
Quero que sintas o que eu sinto
Pra que me vejas no colorido
Caleidoscópio que te vejo
Que sorva-me-te no gosto do beijo
E ame o amor que amo
Quero que sintas o que eu sinto
E saltes o vão da vaidade
Para que percebas o tanto
E me desamarres
Da louca-ânsia-atroz de liberdade
Quero que sintas o que eu sinto
Que minhas palavras te façam sentido
Para que me fale aos olhos
E meus olhos entendam
Quando estiveres dentro ou fora
Quero que sintas o que eu sinto
Para que teu corpo perca a hora
Para que persuadas teu íntimo
Me saibas em qualquer qual
E te demores mais em mim
Quero que sintas o que eu sinto
Pra que me vejas no colorido
Caleidoscópio que te vejo
Que sorva-me-te no gosto do beijo
E ame o amor que amo
Quero que sintas o que eu sinto
E saltes o vão da vaidade
Para que percebas o tanto
E me desamarres
Da louca-ânsia-atroz de liberdade
Quero que sintas o que eu sinto
Que minhas palavras te façam sentido
Para que me fale aos olhos
E meus olhos entendam
Quando estiveres dentro ou fora
Quero que sintas o que eu sinto
Para que teu corpo perca a hora
Para que persuadas teu íntimo
Me saibas em qualquer qual
E te demores mais em mim
21.6.05
sobre ir
vou. não pra fugir. nem mesmo pra ir.
vou pra ficar mais perto, mais dentro.
não é que eu não tenha mais tempo contigo.
atrasei foi pra mim.
vou. nem tanta certeza, nem tanto egoísmo.
pra onde vou tu não me alcanças.
e não é que eu não queira teus toques.
vou. não pela falta de amor, pela demasia.
não por covardia de seguir, pela coragem de admitir.
vou pra acasalar sozinha minha transformação.
sou sempre outra.
sempre a mesma que vai.
vou porque sentir foi muito.
porque não pude mais.
porque é muito.
vou. não pra fugir. nem mesmo pra ir.
vou pra ficar mais perto, mais dentro.
não é que eu não tenha mais tempo contigo.
atrasei foi pra mim.
vou. nem tanta certeza, nem tanto egoísmo.
pra onde vou tu não me alcanças.
e não é que eu não queira teus toques.
vou. não pela falta de amor, pela demasia.
não por covardia de seguir, pela coragem de admitir.
vou pra acasalar sozinha minha transformação.
sou sempre outra.
sempre a mesma que vai.
vou porque sentir foi muito.
porque não pude mais.
porque é muito.
17.6.05
do meu amor II
e pros teus dias de azedume, meu amor...
reservo açucar, cachaça e pilão,
além de um bom remelexo
reservo açucar, cachaça e pilão,
além de um bom remelexo
eu não sei
como posso saber o que me basta
se eu não for além?
quem traça as linhas da suficiência?
quem testa os limites por mim?
é preciso ir longe demais
pra descobrir até onde se deve ir
salvar as dúvidas
atentar para o íntimo
saber-se ínfimo
e acreditar
pois a vida é arbitrária
as certezas reacionárias
o contentamento é nada
e, afinal, nada é tão tudo assim
só a insatisfação nos faz caminhar
como posso saber o que me basta
se eu não for além?
quem traça as linhas da suficiência?
quem testa os limites por mim?
é preciso ir longe demais
pra descobrir até onde se deve ir
salvar as dúvidas
atentar para o íntimo
saber-se ínfimo
e acreditar
pois a vida é arbitrária
as certezas reacionárias
o contentamento é nada
e, afinal, nada é tão tudo assim
só a insatisfação nos faz caminhar
14.6.05
mínimas
Existem coisas que eu só sei sentir.
Muitos de nós têm a guerra no peito.
Ser flexível é mais importante que ser forte.
Amigos nos amam apesar de tudo.
Sexo bom é o de agora.
Ser sincero é mais essencial que poupar o outro.
O presente é carregado demais.
O ser humano é só o ser humano.
Fotografia, música, filmes e livros são transformadores.
Mas a experiência pessoal deveria ser mais valorizada.
Criamos muitas leis que não podem ser aplicadas.
Impossível é a palavra mais ridícula do dicionário.
É um erro querer que o comportamento do outro reflita o nosso.
O dinheiro é conseqüência e sujeito ao homem.
Ser pobre é uma forma de ser invisível.
Conhecer o preço e o valor das coisas são saberes distintos.
A indisposição é parecida com receio.
Dia de aniversário deveria ser feriado pessoal.
O amor é uma maneira de ver o mundo.
Ter que se preocupar com a violência não é normal.
Quando um direito prevalece a outro, é preciso revê-lo.
Chorar é maravilhoso.
A mídia gosta de tudo que lhe convém.
Só se pode examinar o distraído.
A neutralidade é um posicionamento mascarado.
Renunciar à paixão é uma escolha covarde.
A realidade é mais possibilidade que fato.
A não participação atrofia.
Namoro é quando um quer ser do outro, mas não é.
Tudo que hoje é, um dia já foi negado.
Desqualificar o outro é uma maneira de sair impune.
Pensar que um ponto de vista é melhor soa quase tão imbecil quanto pensar que é o único.
Alguns namorados contrariam a lei da física.
Há pensamentos que nem pro teto.
A institucionalização é uma forma de controle.
A gente gasta muita energia para ser normal.
Sozinho ninguém constrói uma nova realidade.
Confiança é um sentimento integral.
Às vezes, a gente se perde nas mínimas.
Existem coisas que eu só sei sentir.
Muitos de nós têm a guerra no peito.
Ser flexível é mais importante que ser forte.
Amigos nos amam apesar de tudo.
Sexo bom é o de agora.
Ser sincero é mais essencial que poupar o outro.
O presente é carregado demais.
O ser humano é só o ser humano.
Fotografia, música, filmes e livros são transformadores.
Mas a experiência pessoal deveria ser mais valorizada.
Criamos muitas leis que não podem ser aplicadas.
Impossível é a palavra mais ridícula do dicionário.
É um erro querer que o comportamento do outro reflita o nosso.
O dinheiro é conseqüência e sujeito ao homem.
Ser pobre é uma forma de ser invisível.
Conhecer o preço e o valor das coisas são saberes distintos.
A indisposição é parecida com receio.
Dia de aniversário deveria ser feriado pessoal.
O amor é uma maneira de ver o mundo.
Ter que se preocupar com a violência não é normal.
Quando um direito prevalece a outro, é preciso revê-lo.
Chorar é maravilhoso.
A mídia gosta de tudo que lhe convém.
Só se pode examinar o distraído.
A neutralidade é um posicionamento mascarado.
Renunciar à paixão é uma escolha covarde.
A realidade é mais possibilidade que fato.
A não participação atrofia.
Namoro é quando um quer ser do outro, mas não é.
Tudo que hoje é, um dia já foi negado.
Desqualificar o outro é uma maneira de sair impune.
Pensar que um ponto de vista é melhor soa quase tão imbecil quanto pensar que é o único.
Alguns namorados contrariam a lei da física.
Há pensamentos que nem pro teto.
A institucionalização é uma forma de controle.
A gente gasta muita energia para ser normal.
Sozinho ninguém constrói uma nova realidade.
Confiança é um sentimento integral.
Às vezes, a gente se perde nas mínimas.
13.6.05
assimétrica
com brilho e preço
abro os braços por aí
e suavizo minha miséria
flutuo de pernas pro ar
sorrio como quem
pincela de arco-íris
a crueza dos dias
e se revela nas paixões
enterneço ao sol se pôr
ajo e reajo
aos meus impulsos
de água, de pedra,
de pele
creio nas línguas,
nos olhares,
na indecência do real de amor
na ponte
que conduz
ao que não sei
escancaro todos os desejos,
prazeres e angústias
de voar junto
(porque o vôo duplo
é a renúncia do vôo livre. e dói)
aí vem a moça de braços cruzados
prudente e cautelosa
antevê os infortúnios
e baliza cada uma das possibilidades
com brilho e preço
me sonega os instintos
fere,
rasga e esburaca meus olhos
e tinge de ferrugem o meu sorriso
"Uma parte de mim pesa e pondera. Outra parte delira"
Ferreira Gullar
com brilho e preço
abro os braços por aí
e suavizo minha miséria
flutuo de pernas pro ar
sorrio como quem
pincela de arco-íris
a crueza dos dias
e se revela nas paixões
enterneço ao sol se pôr
ajo e reajo
aos meus impulsos
de água, de pedra,
de pele
creio nas línguas,
nos olhares,
na indecência do real de amor
na ponte
que conduz
ao que não sei
escancaro todos os desejos,
prazeres e angústias
de voar junto
(porque o vôo duplo
é a renúncia do vôo livre. e dói)
aí vem a moça de braços cruzados
prudente e cautelosa
que pensa e repensa
os desacatos
antevê os infortúnios
e baliza cada uma das possibilidades
com brilho e preço
me sonega os instintos
fere,
rasga e esburaca meus olhos
e tinge de ferrugem o meu sorriso
10.6.05
seqüestro
ontem
tramei de te levar pra casa
secreta, te inventei no meu travesseiro
beijos sorrateiros,
artimanhas pra te esconder dos vizinhos
pintei e bordei nosso caso
depois
imaginei teu rosto nas caixinhas de leite,
nas contas da ceb,
na novela das oito
e tu lá,
enrolado no tapete,
atrás da cortina,
em cima do lustre,
do lado de fora,
embaixo da cama,
dentro de mim.
(eu desdobrada-deliciada-reinventada-todo-dia
mil-e-um-encantos-pra-te-fazer-alegria)
de repente
atinei o mundo
privado de ti,
do teu batuque
tua companhia...
aí ...
contei
até
três
mil
e fui
embora
sozinha
ontem
tramei de te levar pra casa
secreta, te inventei no meu travesseiro
beijos sorrateiros,
artimanhas pra te esconder dos vizinhos
pintei e bordei nosso caso
depois
imaginei teu rosto nas caixinhas de leite,
nas contas da ceb,
na novela das oito
e tu lá,
enrolado no tapete,
atrás da cortina,
em cima do lustre,
do lado de fora,
embaixo da cama,
dentro de mim.
(eu desdobrada-deliciada-reinventada-todo-dia
mil-e-um-encantos-pra-te-fazer-alegria)
de repente
atinei o mundo
privado de ti,
do teu batuque
tua companhia...
aí ...
contei
até
três
mil
e fui
embora
sozinha
6.6.05
banalizar o mal
nada tem a ver com banalizar o mal
operário morrer é normal
eu alheio o que não interessa
desqualifico o que não entendo
carrego o dom da massividade
brinco
de escassez e excesso
o duo da superficilialide
nada mais faz sentido...
mas tenho hora,
urgência,
pressa
sou livre da sujeição, independente, apartidário e imparcial
é que às vezes esqueço de pautar
a transação mal contada
entre os donos do jornal
eficiente, escrevo dez matérias por dia
não ouço quem deveria...
mas sou da paz
não quero a catarse
nada tem a ver com banalizar o mal
apenas te economizo da apreciação intelectual
escrevo sobre um mundo temático
sou vago e didático
simulado, representativo, de fácil assimilação
eloqüente nos pormenores
e esquecido dos fatos
nada tem a ver com banalizar o mal
operário morrer é normal
eu alheio o que não interessa
desqualifico o que não entendo
carrego o dom da massividade
brinco
de escassez e excesso
o duo da superficilialide
nada mais faz sentido...
mas tenho hora,
urgência,
pressa
sou livre da sujeição, independente, apartidário e imparcial
é que às vezes esqueço de pautar
a transação mal contada
entre os donos do jornal
eficiente, escrevo dez matérias por dia
não ouço quem deveria...
mas sou da paz
não quero a catarse
nada tem a ver com banalizar o mal
apenas te economizo da apreciação intelectual
escrevo sobre um mundo temático
sou vago e didático
simulado, representativo, de fácil assimilação
eloqüente nos pormenores
e esquecido dos fatos
cometa!
nós, os modernos,
dinâmicos,
domesticados,
instantâneos,
e futuristas
nós, que montamos
sem vacilo
na cauda da
tripla
revolução
(industrial, francesa e científica)
nós, da era da razão,
da comunicação,
da glo blá blá lização
logramos,
ainda,
na sombra
da mão
vazia
iluminista
de qualquer
capa de revista
da mão cheia
de mensalão
nós, os modernos
on lines, objetivos,
eficazes, civilizados
e solitários
somos crédulos e infelizes
parcos no amor
destituídos de coragem
e
continuamos retrógrados
nós, os modernos,
dinâmicos,
domesticados,
instantâneos,
e futuristas
nós, que montamos
sem vacilo
na cauda da
tripla
revolução
(industrial, francesa e científica)
nós, da era da razão,
da comunicação,
da glo blá blá lização
logramos,
ainda,
na sombra
da mão
vazia
iluminista
de qualquer
capa de revista
da mão cheia
de mensalão
nós, os modernos
on lines, objetivos,
eficazes, civilizados
e solitários
somos crédulos e infelizes
parcos no amor
destituídos de coragem
e
continuamos retrógrados
amputados
"fizeram com que todos aqueles instintos do homem selvagem, livre e errante se voltasse para trás, contra o homem mesmo"
(Nietzsche, Genealogia da moral, passim)
existem almas quenão aceitam ser
enjauladas
homens e mulheres
que recusam
a opressão
e a culpa de
sentirem o
que sentem
há animais
que berram
impulsos
intuitivos
que não amansam
e se ferem nas barras
- nostalgia de si mesmo
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