30.6.06

fases

já decidi: vou mudar de plano. e me atirar do sétimo andar do ano. quando julho chegar não estarei aqui. (lugar que até hoje não descobri se fica mais em mim ou em ti). neste ou no próximo mês, no outono que vem, talvez na solitude do frio, eu te reveja. e a poesia nem seja despedida, brio ou atitude.

vou por ir onde não pude. deixo junho trancafiado. sigo doida de sonho alado. desenlaço amiúde. recebo agosto com gosto. o céu extravagante, as tardes ensolaradas, as certezas errantes. naquele ou no próximo mês, quero abraços quentes. poesias clichês. a natureza depravada, escancarada em flores, mato e ipês. confissões desesperadas. todos os erros de português.

que venha outubro, eu nem ligo. que me despertem as manhãs! pois espero equanto vivo e vou mordendo as maçãs. que eu me esqueça no que lembro. vire água até novembro. quente-gelada-doce-ou-salgada, ao seu intento. que não se apresse o dezembro da confraternização e tempo escasso. gente embriagada, atordoada de luz que explode no espaço.

no próximo ano um salve e guarde à contradição! linha torta de viver. (e que tudo seja tão falível e humano como deve ser). encostada num limoeiro é onde eu quero estar. tudo passa tão ligeiro... visto jeans e all´star. tiro a sandália, piso na grama e tropeço em fevereiro.

em março colho dálias e brinco de dama. alma arguta: em abril eu viro puta. aí vem maio e eu ensaio finalidades. uma virada de mesa. mas me encho de vontades... (pura ânsia de leveza).

maria do passo certo, fazer tudo direitinho... eu até que chego perto. mas é outro meu caminho. então aceito. me acato. (eu vejo mais possibilidade que fato).

24.6.06

aquecer a água
preparar o chá
esquecer a mágoa

esquentar asos
reparar os sins
libertar os nãos

antever a sorte
acreditar contudo
suspender a morte
não tenho nada de rara:
sou uma moça distraída
que tropeça de cara
e finge estar de sda.

21.6.06

meia semana de médio amor
.
você chega em casa
com seu jeito calado:
eu, pura brasa.
você, malpassado.
conta do banco
do engarrafamento,
da tensão,
do boleto atrasado.
.
eu rezo prum santo,
adormeço o rebento
e desperto a tesão
num beijo apimentado.
.
cadê a paixão profunda?
tudo soa a desespero.
será que é só a segunda
ou a gente perdeu o tempero?
.
dormimos do mesmo jeito:
um só ser entrelaçado.
quieta, te acalento,
disfarço o meu receio.
espero por novo vento.
viro pro lado e leio.
.
(tem corpo estranho no meio?)
.
na dúvida, amanhece.
e tudo soa normalizado.
quem sabe é só inverno?
o frio ensimesmado...
.
o despertador grita,
a terça se agita.
bom dia, café passado.
.
vem cá, eu te digo.
tua camisa? eu nem ligo!
não sei nada de colarinho engomado.
(mas juro que você chega atrasado!)
.
ora, estou farta!
cadê o que nos move?
o raio que nos parta!
hoje, meu bem,
só quarta!
(bem depois das nove)
dúvida hiperbólica II

ser flexível é mais importante que ser forte?
fato:
meu corpo
é mais exato
no teu tato.
descobertos

ele imagina
que eu não sei
o quanto grita
enquanto
ressoa mudo.

ele pensa que
eu desconheço
em que
semblante
esconde
seu absurdo.

ele parece ileso.
jura que engana.
mas está preso
(e acha que eu ignoro!)

chora quando eu não vejo,
me leva pra cama.
eu disfarço
e desmorono.

20.6.06

lascivo, perigoso

receio que o amor seja hediondo.
maniqueísta de paixão veemente.
feitor de almas dormentes,
estopim de grandes estrondos.
espremedor de sangue e gozo.
insensível aos medos e tombos.

sorrateiro, o amor arrebenta planos.
destrói caminhos traçados.
arremata, enlouquece,
esmiúça pormenores,
investiga a nudez.
depois, devasso, deixa os corpos lá,
estilhaçados de insensatez.
rainhas do funk

uma dança
de aromas e nuances
pra despertar
teu paladar?
eu sugiro
claudia lazar.

...

fêmea
destilada em beleza
que morra de amor
e só de amor te mate?
deleite-se
com marilight!
...

o desejo se instala.
cessa o vento.
ninguém fala.
(até as paredes se curvam!)
não existe
pressa
ou tempo,
tudo sucumbe
ao que interessa.
ao único intento:
o rebolado
apurado
da
lu bento.

15.6.06

sendo

fêmea
na areia
na cama
no cio
de copacabana.

lua
abusada,
permissiva.
que se mete a força
na moça
lambusada,
alusiva.

faz um motim
com as estrelas
pra me
iluminar
na nesga
negra,
da rua vazia.

une o poderio
dos astros.
concilia.

aponta o traço
no horizonte.
me deixa quieta.
eu sou longe.
vê o sol?
que te parece?

a mão do macho
que me aquece.
seca, suga,
esquece.

o raio
temporão
da lua
de ontem,
contrariando
o dia,
invade
a calçada
vadia.

e toda
gente
sente o calor.
o vapor.
o luar.
e a agonia.
sorrio
como
quem
pincela
de arco-íris
a crueza dos dias.

10.6.06

transmutação

eu travei o corpo,
enrijeci a carne,
eu não dormi.
eu trinquei os dentes.
eu mudei de cor.
de credo. de hábito. de hálito.
eu morri de medo!
eu caí de cama.
eu doí
de abstenção
de ti.

depois veio a primavera.
e eu desenhei borboletas
na pele.
irmanei com o vento, comigo,
com o tempo,
sorri cada um dos meus gritos.
e
lentamente,
o amor
voou.
.
voou.

9.6.06




entre tantos
entretantos
ainda entreteço,
esperanço.
algo se perdeu




no espelho da sala escura,
a lua nova reflete meu olho
que já não se reconhece no teu.
dúvida heperbólica II

a mágoa é uma inocência corrompida?

hóspede poético

O ÚLTIMO TORPEDO

Um rosto bonito,
Um olhar brilhante,
Uma boca caliente,
Um corpo alinhado,
Uma roupa elegante,
Duas mãos que não param,
Uma inteligência rara,
Uma competência profissional,
Uma determinação sem igual,
Poucos atributos tenho visto
Entre as fêmeas que assisto,
Difícil ter mais do que par
Quase sempre é singular.

Misturando alguma loucura
(Somente aquela mais pura)
E um pouco de diversão
(Sempre na boa ocasião)
Estará preparado o caldo
Que, pronto, terá como saldo
Alguns dos simples enredos
De que falam meus torpedos.

Inocentes por natureza
Sem ogivas de torpeza
Não transportam o nome
Menos ainda um telefone.

No entanto, todos eles trocaria
Por nada mais que uma poesia
Dizendo apenas a certa mulher
Muito daquilo que ela quer.

Essa pessoa é tão especial
- aos meus olhos sem igual –
Que carrega inteiro consigo
Um corpo que fornece abrigo
Aos mencionados predicados,
Cuja soma tem tais resultados
Quando mais do que formosa
Tem-se uma fêmea poderosa.

Na falta da possibilidade
Vai-se trocando a idade
Escrevendo, em segredo,
O bom e velho torpedo...

leonelb Primavera/2003
leonelb@portoweb.com.br

8.6.06

paixão fora de hora:
entra, senta, acalenta
bagunça e vai embora.
coelho por lebre

na sociedade do descartável,
falta tempo para trocas.
o dinheiro é insone
e tem gente que nem come.
o sonho anda ao esmo.
a necessidade prolifera
e meu gosto por tato
não é mais o mesmo.

na sociedade do descartável,
ninguém molha o meu olho.
eu me sinto em eterno molho!
ninguém tira minha embalagem.
ninguém me seca,
ninguém me toca,
ninguém me nada.

na sociedade do descartável,
a urgência, besta fera,
devora minha quimera,
engole minha inocência.
sou um punhado de dúvidas
e um resto de reticências...

será que é tudo descartável?

e o amor, será biodegradável?

5.6.06

aluada de ventre


as luas me passam rentes
nesta tesão míngua,
cheia, nova, crescente!
e eu derreto surda
entre os dentes
vontade vampira
do teu sangue quente.

4.6.06

mais poeminhos
quem dirá?
eu te
tu me
nós o quê?

paixão exasperada:
dois bichos na madrugada
o universo nos espia
e não entende nada.

vida dura:
dia-a-dia sorvo
trago e engulo
minha amargura.

1.6.06

Quase beijos


"Aqui nesse lugar Não há rainha ou rei Há uma mulher e um homem Trocando sonhos Fora da lei" Rosana.

Foi com espanto que assisti pela primeira vez um beijo na boca, de língua. Ele, um rapaz magro, vestindo jaqueta de couro, cuja cor dos cabelos estava mais pra loiro que castanho. Ela, uma moça negra, esguia, com o rosto emoldurado por um chumaço de fios densos, de um encaracolado bem miudinho.

Uma coisa tri estranha de ser ver, eu achei. O jeito como ele laçava a cintura dela. Ela, enroscada no corpo dele, fazendo mil acrobacias com o pescoço. Esquisito, muito esquisito, foi o que me ocorreu naquela hora.

Uma moto vermelha e preta servia de ferrolho para paixão deles. E, sob a luminária da praça, em frente à igreja matriz, aquele beijo de língua não acabava nunca. Eu acompanhava tudo sentada num banco bem em frente, chupando sorvete. Fiquei tão cismada com aquela cena que nem sei por quanto tempo fiquei ali, parada, pateta, olhando praqueles dois.

Meu pai, que estava comigo, e nunca foi muito bom com meus por quês, tentou explicar alguma coisa sobre namorados e beijos mas eu confesso que não entendi nada. Aquilo me causou tanta impressão ao ponto de eu deixar o sorvete derreter, além de sentir uma certa náusea, um certo nojinho. Alguns anos se passaram até que eu mesma vivesse aquela experiência de lábios e saliva. Já minha primeira paixão veio bem mais cedo.

Tiaguinho era meu vizinho e a festinha de cinco anos dele foi depois da minha. Nunca tive preconceito com esta coisa de homens mais novos. Ele tinha um rosto cor-de-cajuzinho e olhos de jaboticaba, arregalados, em eterno espanto.

Era baixo demais pra idade, tinha o nariz chato, as bochechas salientes e um sinalzinho no queixo. Uma pinta que hamonizava tudo, um retoque de última hora, algo como como a cereja colocada sobre a torta de chocolate. Uma composição tão angelical que até hoje reconheço nas crianças mais lindas que vejo.

Frequëntamos a mesma creche e nos protegíamos mutuamente da opressão das educadoras. Eu dividia meu lanche com ele, pois ambos detestávamos a comida gosmenta e sem sal preparada pelas cozinheiras. Íamos para a creche juntos, passávamos os recreios juntos, fazíamos os planos juntos.

Mas só eu tive coragem de levar a fuga adiante naquela tarde em que saímos em excursão pelo nosso próprio bairro. As crianças estavam todas em fila indiana e eu nem vacilei quando passamos perto da rua onde eu morava. As chaves de casa estavam na minha mochila e foi para lá que me refugiei na primeira distração das tias da creche. Eu disse vem e Tiaguinho não veio.

Não sei quanto tempo demoraram para dar falta de mim. Mas lembro que minha mãe voltou mais cedo do trabalho, os olhos marejados de preocupação. A bronca foi mais amena do que eu esperava. Dona Augusta sabia do meu pendor à subversão.

Expliquei a ela o meu raciocínio lógico de que em casa eu me sentia mais em casa e tudo ficou bem. Mas alguma coisa me fazia triste. No fundo, eu não conseguia perdoar Tiaguinho por aquela omissão. Pensei nele durante o jantar, durante a novela e até enquanto escovava os dentes antes de ir dormir.

No dia seguinte, decidi pôr fim àquela paixão. Fossa total. Convenci meus pais a me livrarem da creche e me ocupei de outras coisas. Fiz novas amizades e, sob a orientação da filha da vizinha que cuidava de mim, aprendi a ler e escrever.

Com mais tempo disponível, me aproximei das gurias do outro quarteirão, cujas mães não saiam para trabalhar. Nunca mais fui até o muro que separava nossos quintais chamar Tiaguinho para brincar comigo. Mas todos os dias espiava ele sair de casa, logo depois do café da manhã, rumo ao cárcere infantil.

Tiaguinho sabia que era observado, pois sempre olhava na direção da minha casa. Eu me escondia depressa e depois voltava a espiar. Ficava com os olhos fincados nele até que dobrasse a esquina e sumisse. Sempre o mesmo tênis azul, a camisa listrada de mangas compridas, o corpo solto dentro do macacão de brim, o mesmo jeito saltitante de andar.

Depois disso, eu tinha o dia inteiro para ser feliz. Um universo lúdico que eu criava e recriava ao espírito das minhas idéias. À tarde, a filha da vizinha que cuidava de mim deixava que eu fosse para a rua, ao encontro das mocinhas da mesma idade.

A gente descobria tantas coisas! Cada dia um novo limite era transposto. Fazíamos pique-niques só de chicletes, só de bananas, só de biscoitos. Entrávamos sorrateiras na chácara do vizinho para chupar cana e furtar pêras. Saber que ele tinha uma espingarda deixava tudo ainda mais emocionante.

A vida ganhou tanta intensidade que um dia, em casa, sozinha, cheguei a conclusão de que Tiaguinho definitivamente não era o cara certo para eu dar meu primeiro beijo na boca.

Naquele tempo os guris da mesma idade eram todos uns bobos, metidos a espertalhões, que atrapalhavam tudo. E eu não tinha a menor vontade de namorar nenhum deles.

Éramos, eu e minhas amigas, feministas convictas e eles só participavam das nossas brincadeiras depois de muita negociação. Eram exibidos demais, viris demais e sempre vinham com aquela história de bandidos, guerras, assaltos e não sei mais o quê. Menos o Chicão.

Chicão chegava do colégio por voltas das 17h30, acompanhado do irmão Paulo, o peferido das outras meninas. Ele já estava na quinta série, um cara mais maduro, portanto. Entrava em casa, largava a mochila e logo reaparecia comendo um sanduíche ou uma maçã. Aquele era o horário em que éramos, as gurias, solenemente destituídas do nosso reinado.

Depois das 18h, a rua era deles, dos guris de 12, 13 anos. Uma regra social muito injusta que eles mesmos haviam inventado. Armavam a rede de vôlei sem dar a menor importância se desmanchavam nossas casinhas de varetas e pedrinhas, construídas em longas horas de muito zelo.

Passavam de bicicleta por cima das nossas comidinhas de barro, sementinhas e flores e, sob o pretexto de que aquele era o único momento do dia em que podiam jogar taco, nos obrigavam a desfazer nossas salas de aula montadas ao ar livre, "para desobstruir o ambiente", repetia Marcelinho, o mais irritante de todos eles.

Desencantadas com o universo masculino, descobríamos ali que os meninos que frequentavam a escola eram também uns babacas insensíveis. A não ser o Chicão, que logo se mostou solidário a nossa causa. Foi nosso diplomata.

Tentou convencer os outros meninos de que era possível sim organizar melhor o espaço, de modo que todos pudéssemos nos divertir ao mesmo tempo. Mas a trupe foi irredutível. Então Chicão, nosso herói, ofereceu o quintal da casa dele para que lecionássemos nossas aulas "de continha". A esta altura eu já estava completamente arrebatada de sentimentos profusos.

Tudo piorou quando Chicão passou a me dar atenção especial. Eu era escancaradamente a preferida dele e meu comportamento mudou. Já não tinha tanto tempo para bincar de roda ou me sujar de areia e grama rolando pelo chão.

Às quatro horas, religiosamente, eu voltava para casa. Tomava banho, me perfumava toda com as lavandas da minha mãe e vestia minha roupa de domingo. Depois ficava desfilando pela rua até Chicão voltar da labuta escolar. Meus papos eram outros e minhas amigas me cansavam um pouco com aquela coisa de preferir os mais bonitinhos, embora tivessem aquele comportamento indócil, pra não dizer primitivo.

Carlos Eduardo, o Chicão, me passava tarefas de caligrafia e me explicava coisas sobre tipos de solo, erosão e os fenômenos climáticos que geravam a chuva e o arco-íris. Eu não tinha mais como fugir. Tiaguinho era coisa do passado, aquilo sim era amor de verdade.

Me aproximei da mãe dele e fiquei muito amiga do seu pai, o tio Oliveira, de quem certamente Chicão herdou todo aquele carisma. Um carisma que a cada dia exercia mais fascínio sobre mim.

Em casa, todos eram acostumados com meus momentos de autismo, horas e horas confinada nos meus pensamentos. Mas minha falta de apetite era novidade. Logo eu, que sempre fui a mais gulosa dos três filhos. Minha mãe estava preocupada com meus segredos.

Acho que tudo ficou mais claro para ela no dia em que, ao invés do disco da Xuxa, pedi para o meu pai comprar o vinil da Rosana. Como uma deusa, você me mantém virou minha trilha sonora. Era só a música acabar para que eu voltasse a agulha e escutasse tudo de novo, e de novo, e mais uma vez, até exaurir a paciência de toda a família.

Comecei a me interessar mais sobre aquela cena que havia visto uns dois anos antes, na praça, em frente à igreja matriz. Beijo na boca passou a ser meu assunto preferido. Eu prestava atenção nas novelas, andava pelas ruas à fim de flagrar casais namorando e passei a ler as revistas teen, emprestadas pela filha da vizinha que cuidava de mim.

"Minha deusa", era assim que Chicão me chamava, enquanto corrigia meus cadernos. Não existia a menor chance de eu não me apaixonar. Estava decidido, era com ele que eu me casaria. Meus irmãos, que estavam na mesma faixa etária do Chicão, não gostavam nada da nossa amizade. Mas eu não dava a mínima. Eu era assim, sem o menor preconceito com esta coisa de homens mais velhos.

Um dia, enquanto discutíamos se tomate era legume ou fruto, Chicão se comprometeu a me esperar. Era o nosso segredo. E foi com grande desgosto que, duas semanas depois, recebi a notícia de que ele estava namorando. O pior era que eu conhecia a dita cuja. Fiquei arrasada.

Mariana era linda, a guria mais querida de todo o bairro. Mariana era, sobretudo, minha amiga. A filha da vizinha que cuidava de mim. Fiquei em desalento profundo, mas não podia negar que os dois formavam um casal realmente quase perfeito. Ademais, aquela foi uma ótima oportunidade para eu aprender de vez que o amor não escolhe o alvo.

Agora eram os dois quem me instruiam sobre aquelas coisas de usar cê agá ou xis, além de fazer contas de mais, de vezes e de menos. Mariana me incentivou a continuar treinando o beijo na boca. Me ensinou macetes que envolviam laranjas e até vassouras, além da união dos dedos indicador e polegar, que formavam uma espécie de circunferência na qual eu devia enfiar a língua. Uma boca de mentirinha, ela dizia.

Éramos, enfim, três pessoas maduras e eqüilibradas. E nossa relação era tão carinhosa que, pra falar a verdade, eu nem sofri tanto assim. Afinal, no próximo ano eu entraria para a escola e minha visão sobre os meninos ganharia amplitude.

Tudo bem que não fosse com o Chicão. Uma hora aquela experiência de lábios e saliva haveria de chegar para mim. Eu esperava ansiosa.
pedacinhos
na telha
saio de veneta:
inebrio, danço,
perco a caixa preta.
o brinco, o pudor,
o tamanco.
anoiteço nos braços
de um saltimbanco.
revezo
há um abismo
que avisa:
o vão sempre
vira relevo.
retórica
tu vens cheio de desvelos
me convida a tecer história:
alinhavo de conta, sorrio.
pois bem sei que
tua mémoria
é mais curta que meu cabelos.
e tua paixão está sempre por um fio.